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América Latina

Traficantes mexicanos usam índios para transportar droga aos EUA

22 out 2012 - 09h09
(atualizado às 11h02)
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Por causa da espantosa habilidade de percorrer longas distâncias a pé, os índios tarahumaras (ou rarámuris), nativos do Estado de Chihuahua, estão sendo cada vez mais explorados pelos traficantes mexicanos para transportar droga aos Estados Unidos.

Advogados americanos, trabalhadores sociais e os próprios integrantes da comunidade rarámuri ("pés ligeiros") consultados pela agência EFE apontam uma alarmante realidade: "'El Chapo' (Joaquín Guzmán) está usando jovens tarahumaras para levar droga a pé aos Estados Unidos".

Ken del Valle, um advogado de El Paso (no Texas), declarou ter atendido "dezenas" de tarahumaras detidos por tráfico de drogas na fronteira com Ciudad Juárez nos últimos quatro anos. Segundo o advogado americano, cerca de 50 rarámuris já foram acusados por tráfico, mas esse número poderia ser ainda maior, já que outros advogados também estão envolvidos em casos de tarahumaras.

Os rarámuris habitam a comunidade de Sierra Tarahumara, em Chihuahua, uma das zonas mais pobres do México e que há décadas sofre com uma grave seca, fato que gera fome e desesperança na região.

"Quando os jovens indígenas vão às cidades e aos povoados mais próximos para buscar trabalho, os traficantes os recrutam. Os supostos traficantes andam em uma caminhonete perguntando quem quer entrar na 'burreada', para que cruzem com uma mochila carregada de maconha", revelou Del Valle a partir dos relatos de seus clientes.

"Os traficantes levam os índios com um guia, os aproximam de onde a droga está e os deixam na fronteira. Depois, eles os mandam em grupos de sete ou dez, cada um com uns dez quilos da droga", declarou o advogado. "O guia leva um telefone celular e é o que tem todos os números de contato para entregar a droga nos Estados Unidos. Eles caminham de noite e descansam durante o dia", completou.

No entanto, a maioria dos tarahumaras desconhece algo fundamental neste processo: "fazem parte de um grupo, mas cada um tem dez ou 20 kg de maconha. É uma conspiração pelo total, ou seja, por 100 ou 200 kg, e todos são responsáveis pelos 100 ou 200 kg", explicou Del Valle.

Randall Gingrich, um trabalhador social americano que viveu mais de 20 anos na Sierra Tarahumara, afirma que os grupos de traficantes são "onipresentes", sendo que o aumento do "uso" de tarahumaras no transporte da droga é bastante perceptível.

"A situação piorou muito nos últimos 20 anos. Vi como os mafiosos mudaram a maneira de se relacionar com os tarahumaras. Agora, os traficantes são onipresentes", comentou o ativista. "Eles oferecem quantidades de dinheiro que os indígenas nunca vão obter, mas o problema é que o risco é enorme e, às vezes, não são pagos", ressaltou Gingrich.

Por causa deste fato, as histórias que correm de boca em boca na Sierra Tarahumara criaram certo receio em alguns membros da comunidade. Bernardino, um jovem rarámuri de 17 anos e original de Guachochi, sabe que o medo pesa mais que a pobreza. "Eu não entrei porque eles te matam se você errar", declarou.

Bernardino, que preferiu manter em sigilo seu sobrenome, chegou à fronteira há uma semana para procurar emprego nas construções. Mas adolescentes como ele são como carne fresca para os cartéis, que se aproveitam justamente dessa situação para convencê-los.

Nos arredores de Ciudad Juárez, limite da fronteira com os Estados Unidos, cerca de 150 famílias rarámuris lutam pela sobrevivência longe de suas terras originais e em uma cidade assolada pela violência do tráfico de drogas. A Colônia Tarahumara foi fundada há 16 anos, sendo que a maioria dos homens se dedica à construção civil, enquanto as mulheres, vestidas com saias coloridas e xales, fazem artesanato e pedem esmola na cidade.

EFE   
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