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Oriente Médio

Conflito na Síria cria dilema para o grupo xiita Hezbollah

6 out 2012 - 16h00
(atualizado às 16h04)
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Maior força política do Líbano, o Hezbollah vem sendo cada vez mais criticado por se manter fiel ao regime sírio. Sinais de que esse apoio não é incondicional já são visíveis. O grupo xiita libanês Hezbollah vivenciou um rápido crescimento. O movimento surgiu há 30 anos, sob a influência da revolução islâmica no Irã e em resposta à invasão do Líbano por Israel. Seus objetivos eram organizar a resistência contra Israel e criar um Estado islâmico no Líbano.

Nos anos seguintes, o Hezbollah(partido de Deus, em árabe) integrou-se paulatinamente ao sistema político libanês. Em 1992, participou pela primeira vez de eleições parlamentares. A criação de uma ordem islâmica no país foi deixada de lado e nem mesmo consta mais do programa partidário.

O libanês Bassam Haidar, de 47 anos, testemunhou de perto essa transformação. Existe uma grande diferença entre o Hisbolá dos anos 80 e o de hoje, afirma. Antes, o grupo era marcado pelo fanatismo religioso. "Era proibido festejar, e era bem possível que casas fossem invadidas para evitar isso. Também beber álcool em casa não era permitido."

Haidar observa que o Hisbolá se adaptou à realidade do Líbano. "Eles já perceberam que não podem forçar todos a aceitar sua ideologia. Do contrário, o número de seguidores teria permanecido limitado e o partido não teria podido crescer."

Adaptação com limites

Haidar é originário de um vilarejo xiita no sul do Líbano, mas vive há décadas em Dahieh, localidade ao sul de Beirute. Ele não é membro do Hezbollah, mas simpatiza com o partido e vota nele nas eleições parlamentares.

Ele diz admirar o Hezbollah porque, na sua opinião, o grupo atua onde o governo falha. O libanês de 47 anos descreve como o Hezbollah ordenou a instalação de reservatórios de águas em Dahieh porque a água da torneira não era potável.

A adaptação à realidade libanesa tem, no entanto, limites claros. O Hezbollah continua a ser um Estado dentro do Estado e se mantém firme na sua atuação militar, rejeitando depor armas ou se integrar ao Exército libanês. O Hezbollah também vê a si próprio, dentro de uma coalizão sírio-iraniana, como um bastião contra os interesses americanos e israelenses na região.

Lealdade a Assad

Apesar da situação cada vez mais dramática na Síria e do iminente colapso do regime em Damasco, o Hezbollah está entre as forças políticas da região que continuam leais ao regime do presidente Bashar al-Assad.

Haidar considera justificável a posição do "partido de Deus" e diz estar convencido de que não há alternativa. "Porque se o regime em Damasco fosse derrubado, então subiriam ao poder pessoas apoiadas pelos Estados Unidos. Estas são contra nós. Ninguém mais apoiaria a resistência contra Israel no Líbano", disse.

Na opinião pública libanesa há, no entanto, cada vez mais discussões sobre essa posição do Hezbollah, e cada vez mais fala-se num dilema para o partido. Um dos críticos da postura pró-Síria do "partido de Deus" é o estudioso xiita Hani Fahs. Algumas semanas atrás, o libanês de 66 anos divulgou um comunicado, juntamente com outro estudioso xiita, no qual exige solidariedade com o povo oprimido da Síria e lembra da tradição xiita de apoiar os oprimidos.

Xiitas libaneses apoiam povo sírio

Na argumentação de Fahs, não se deve apoiar políticos que lidam com o povo da maneira como as lideranças sírias o fazem mesmo que eles aleguem apoiar a resistência contra Israel. "Nós não devemos contaminar a libertação e a resistência com a corrupção e a opressão", disse.

Fahs estima que pelo menos um terço dos xiitas libaneses seria solidário com o povo sírio em qualquer situação. Outro terço também se manifestaria nesse sentido, se tivesse mais liberdade.

Apesar da lealdade ao regime sírio, o Hezbollah não pode deixar de levar em conta a realidade libanesa. O grupo é parte de um consenso suprapartidário que tem por objetivo manter a estabilidade no país, e isso independentemente da escalada dos acontecimentos no país vizinho e dos interesses sírios.

O Hezbollah não ofereceu resistência à prisão, em agosto passado, de Michel Samaha, um ex-ministro libanês próximo a Assad. Samaha é suspeito de organizar atentados no Líbano em nome do governo sírio.

O partido também permitiu que o Exército libanês conduzisse operações no seu reduto, Dahieh, para prender os responsáveis pelo sequestro de alguns sírios e libertar parte dos reféns.

Sinais de pragmatismo

No curso de sua história, o Hezbollah demonstrou uma incrível capacidade de mudança. Fahs diz que o Hezbollah é pragmático e considera provável que ele venha a se adaptar à situação na Síria. Ele cita como exemplo as manifestações contra o filme ofensivo a Maomé, que foram convocadas pelo secretário-geral do partido, Hassan Nasrallah foto principal.

O objetivo teria sido sublinhar a própria força e sinalizar que o partido falaria por todos os muçulmanos. "O aspecto positivo é que essas mensagens são comunicadas através de um caminho político. Por ocasião da visita do Papa era notório o tom suave dos representantes do Hezbollah. Eles se manifestaram de forma positiva em prol de um diálogo entre todos os libaneses."

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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