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Mundo

Vítimas da Talidomida dizem que pedido de desculpa é insuficiente

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* Empresa alemã pede desculpas 50 anos depois

* Fabricante diz que não tinha como saber sobre o efeito da droga

* 10 mil crianças nasceram com malformações causadas pela droga

Por Annika Breidthardt

BERLIM, 1 Set (Reuters) - As vítimas da Talidomida, medicamento que causou defeitos congênitos em milhares de bebês no mundo todo, disseram no sábado que o pedido de desculpas do fabricante alemão era insuficiente e tardio.

O medicamento Talidomida, desenvolvido pela empresa alemã Gruenenthal, foi vendido para mulheres grávidas do mundo todo, no fim dos anos 50 e começo dos anos 60, como um tratamento para o enjoo matinal. Cerca de 10.000 crianças nasceram com defeitos causados pela droga, a maioria com malformações nos membros ou sem braços ou pernas.

"Tentei lembrá-los do seu comportamento criminoso em várias ocasiões, não acho que essa empresa algum dia fará a coisa certa", disse Geoff Adams-Spink, vítima britânica da Talidomida.

"Este é um primeiro passo importante. O próximo é compensar todos os que foram afetados pela sua então chamada droga ''totalmente inofensiva''," disse Adams-Spink, que lidera o European Dysmelia Reference Information Centre, um grupo de apoio para pessoas com malformações atribuídas à Talidomida e outras causas.

A Gruenenthal, que diz ter pago às vítimas cerca de 500 milhões de euros até 2010 , inaugurou uma estátua comemorativa na sexta-feira. Na cerimônia, o presidente da empresa, Harald Stock, disse que a empresa sentia muito pelo que aconteceu com as vítimas.

"Em nome da Gruenenthal, quero aproveitar essa oportunidade para expressar o nosso profundo pesar pelas consequências causadas pelo Contergan e a nossa profunda solidariedade às vítimas, suas mães e famílias", disse Stock na cerimônia na cidade de Stolberg, na Alemanha, onde fica a sede da empresa.

CHOQUE SILENCIOSO

"Nós também pedimos perdão por não termos entrado em contato direto com vocês durante quase 50 anos. Pedimos que vocês entendam o nosso silêncio como um sinal do enorme choque que sofremos pelo o que aconteceu com vocês".

Milhares de vítimas da Talidomida, vendida na Alemanha com o nome de Contergan e no resto do mundo como Distaval ainda estão vivas.

Não foi possível fazer contato com a Gruenenthal para comentar o assunto e não ficou claro se os 500 milhões de euros foram pagos para vítimas apenas na Alemanha ou também no exterior, onde outras empresas também comercializaram a droga.

As vítimas alemãs da Talidomida recebem uma pensão mensal de até 1.116 euros de um fundo para o qual a Gruenenthal contribui.

Uma australiana, cuja filha fez um acordo multimilionário em julho com a Diageo Plc, sucessora legal do distribuidor australiano da Talidomida, disse que o pedido de desculpas era um insulto.

"É o tipo de desculpas que você dá quando não está realmente se sentindo culpado", disse Wendy Rowe à Australian Broadcasting Corporation. Lynette Rowe, hoje com 50 anos, nasceu sem braços e pernas depois que sua mãe tomou Talidomida por um mês, durante a gravidez. Seus advogados disseram que a Gruenenthal não contribuiu para o acordo .

Falando sobre a declaração de Stock de "choque silencioso", Wendy Rowe disse: "Nossa família não poderia entrar em ''choque silencioso''. Tivemos que enfrentar a situação e viver dia após dia com o incrível dano que a droga da Greunenthal fez à Lyn e à nossa família".

O escândalo da Talidomida provocou uma revisão mundial no sistema de teste de drogas e aumentou a reputação da US Food and Drug Administration - o FDA, órgão que controla a liberação de medicamentos e alimentos dos EUA, que se recusou a aprovar a droga.

Muitas vítimas alemãs da Talidomida deixaram de comparecer à inauguração da estátua, que mostra uma criança com braços mais curtos, dizendo que isso não passava de uma ação de relações públicas.

Harold Evans, editor da Reuters que liderou a campanha pela compensação das vítimas da Talidomida quando foi editor do Sunday Times a partir do fim dos anos 60, disse que a justiça atrasada significava a justiça negada.

"Cinquenta anos de injustiça não podem ser apagados com um pedido de desculpas, por mais sincero que seja, se ele não vem acompanhado de uma compensação pela dor e sofrimento que milhares de sobreviventes vivem diariamente", ele disse.

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