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Oriente Médio

Palestinos e israelenses: Coexistência ou normalização?

26 ago 2012 - 06h01
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Uma improvisada barraca no bairro de Musrara (entre as áreas árabe e judia de Jerusalém) na qual são distribuídas fatias de melancia e se escuta à noite o som do alaúde é um grande exemplo do debate sobre a conveniência de atividades mistas entre israelenses e palestinos: coexistência ou normalização?

Será que as iniciativas de ações conjuntas são uma mostra de coexistência e um passo em direção ao conhecimento mútuo e à paz, como defendem alguns, ou será que são uma tentativa de normalizar a situação e fazer com que no exterior se esqueça que há um povo que ocupa outro, como argumentam outros?

Os ativistas israelenses e palestinos prestam muita atenção nas iniciativas em que participam: manifestações contra o muro ou os assentamentos, atos culturais, eventos esportivos, diálogos entre grupos de um e outro lado, ONGs mistas, debates, exposições... Tudo isso teria por trás uma intenção normalizadora?, se perguntam muitos.

O rótulo de "coexistência" é muito atrativo, acende uma esperança de aproximação, tolerância e confraternização, mas muitos receiam do conceito e se afastam de tudo aquilo que não tenha um objetivo claro e fique apenas em gestos vazios.

Matan Israel, artista israelense promotor do projeto "Green2Red", instalou uma barraca com exposições, música e pratos de melancias e queijos onde dezenas de habitantes de Jerusalém - judeus e árabes - foram nas primeiras noites de agosto. O artista reconheceu que a questão da normalização foi um dos debates principais entre os organizadores.

"Queríamos criar um espaço no qual qualquer pessoa pudesse se sentir à vontade e conseguimos. Nossa mensagem não era nem de direita nem de esquerda, era simplesmente: vamos nos encontrar. Mas sabemos que isto aqui também é uma mensagem política", explica Matam.

O artista afirma que muitos palestinos boicotaram o evento, pois "não estão dispostos a sentar com israelenses e comer melancias" e garante entender essa postura, embora acredite que seu trabalho seja "oferecer espaços de encontro".

O Centro Peres da Paz compartilha da mesma opinião. A rede é um dos grandes promotores de atividades de coexistência e seu diretor, Ido Sharir, explicou à Agência Efe que o objetivo é "juntar as pessoas em projetos de construção de paz para encontrar um lugar comum e compartilhado".

Para isso, organizam programas em torno de atividades culturais, esportivas, de meio ambiente ou empresariais, "que sirva de guarda-chuva para que o povo se una fisicamente e se dê conta que o outro não é tão diferente e compreenda sua trajetória e sua narrativa". Sharir acredita que "sem os encontros individuais é impossível chegar à paz".

Xavier Abu Eid, porta-voz da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), afirma que "não pode haver coexistência enquanto uma parte estiver acima da outra. A coexistência não existe. Tudo é normalização, que prejudica a causa palestina porque faz com que o mundo se esqueça que aqui há uma ocupação."

"Fizemos dezenas de acampamentos de nossas crianças com as suas e o resultado disto, e de 20 anos de processo de paz e esforços de coexistência, foram o Likud (partido direitista no governo) e Avigdor Liberman (ministro das Relações Exteriores israelense e colono da extrema-direita nacionalista)", lamenta o porta-voz.

Para o jornalista palestino Omar Rahman, os projetos de coexistência "promovem uma falsa ideia de igualdade entre as partes em conflito, projetam uma falsa imagem de simetria e normalidade e ignoram a opressão, a colonização e privação de direitos de uma parte contra a outra".

"A normalização pode ser boa para superar a distância entre o povo na Índia e Paquistão ou Venezuela e Colômbia, onde ambas as partes estão no mesmo nível, mas não em Israel e Palestina, onde uma parte vive sob o jugo e a corrente da outra", afirma.

Muitos críticos da normalização apoiam, no entanto, as atividades conjuntas entre palestinos e israelenses quando elas lutam contra a ocupação: o conceito de co-resistência sobre o de coexistência.

Meir Margalit, fundador do Comitê Israelense Contra a Demolição de Casas (ICHAD), considera que "as atividades conjuntas que não tenham como objetivo claro e conciso acabar com a ocupação, não têm razão de ser. Jogos de futebol mistos não acrescentam nada. Enquanto houver ocupação, não há lugar para a filantropia e o humanismo".

Da mesma opinião é Roberto Krimer, da ONG Centro de Informação Alternativo (AIC) para quem "fazer oficinas de pintura conjuntas, por exemplo, pode ser lindo, mas representa, na realidade, não falar do conflito, nem das desigualdades brutais que existem. É normalizar algo que não é normal". EFE

aca/al/ma

(foto)

EFE   
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