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Mundo

Prefeito do Vaticano diz que existem duas teologias da libertação

25 jul 2012 - 15h52
(atualizado às 16h43)
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O novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo Gerhard Mueller, colaborador de um dos principais teólogos da libertação na América Latina, reconheceu em uma entrevista que existem duas teologias: "um equivocada e outra correta".

Em uma entrevista publicada nesta quarta-feira pelo jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano, o alemão, que foi nomeado em 2 de julho pelo Papa Bento XVI para ocupar o novo cargo, contou como nasceu o seu relacionamento estreito com os teólogos latino-americanos, região que visitou em várias ocasiões, e em particular com o peruano Gustavo Gutierrez, censurado pelo Vaticano nos anos 1980.

"Em 1988 fui convidado por Gutierrez para participar de um seminário. Como teólogo alemão aceitei com algumas reservas, já que conhecia as duas declarações (de censura) da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a Teologia da Libertação publicadas em 1984 e 1986", disse.

"Pude constatar que é preciso distinguir entre uma teologia da libertação equivocada e uma certa", admitiu. "Acho que toda boa teologia tem a ver com a liberdade e glória dos filhos de Deus. Certamente devemos rejeitar a mistura da doutrina marxista da salvação dada por Deus", explicou.

"Por outro lado precisamos nos perguntar honestamente como podemos falar do amor e da misericórdia de Deus diante do sofrimento de tantas pessoas que não tem água, comida, assistência, saúde, que são incapazes de dar um futuro para seus filhos, onde falta dignidade humana verdadeira, onde os direitos humanos são ignorados pelos poderosos", disse.

"Se nos consideramos a família de Deus, então podemos ajudar a garantir que esta situação indigna do homem mude e melhore. Na Europa, após a Segunda Guerra Mundial e a ditadura, construímos uma nova sociedade democrática, graças à doutrina social católica", comentou.

"Como cristãos, temos de enfatizar que valores como justiça, solidariedade e dignidade humana nascem do cristianismo e, desta forma, foram introduzidos em nossas Constituições", acrescentou. O novo prefeito contou que durante quinze anos viveu de dois a três meses por ano na América Latina, "vivendo em condições de muita simplicidade", acrescentou."Você aprende a conhecer as pessoas, vê como se vive".

O perfil de Mueller como chefe da Igreja é atípico: duramente criticado em seu país pelo movimento liberal "Nós somos Igreja" por suas posições conservadoras e a defesa da chamada "doutrina sã" em questões relacionadas com a Eucaristia e a virgindade de Maria, é ao mesmo tempo amigo de Gutierrez, um dos pais da teologia revolucionária contra a injustiça social na América Latina, que ele considera um professor.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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