PT e PCdoB criam comitê para apoiar reeleição de Chávez no Brasil
24 jul2012 - 22h54
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Renan Truffi
Direto de São Paulo
O PT e o PCdoB, com apoio de movimentos sociais e sindicais, anunciaram na noite desta terça-feira a criação de um comitê para apoiar à reeleição do presidente venezuelano Hugo Chávez. Em ato que aconteceu na sede do partido comunista, em São Paulo, integrantes de ambos e partidos leram um manifesto para prestar "solidariedade e realizar atividades para difundir e alertar o mundo sobre o plano da direita".
A secretaria de relações internacionais do PT, Ioli Ilíada, explica que o objetivo é evitar que o concorrente de Chávez nas eleições venezuelanas, Henrique Caprilles Randonski, se apresente como um candidato ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Até essas eleições anteriores, o alinhamento da oposição (de Chávez) com os Estados Unidos era muito claro. Só que existe na Venezuela, como existe em grande parte da América Latina, um sentimento contrário aos Estados Unidos. Por isso, a tática agora é pouco distinta. É não se apresentar como alguém vinculado aos Estados Unidos, mas como alguém vinculado a setores importantes do Brasil. O comitê pode ir desmontando essa articulação", defendeu.
Apesar de ter Chávez ter contratado como marqueteiro político o petista João Santana, responsável pelas campanhas de Lula e da presidente Dilma Rousseff, Ioli nega que o comitê seja parte da estratégia de Santana para levar Chávez à vitória
¿Na verdade, nós debatemos essa necessidade num encontro que realizamos agora na Venezuela. Discutimos essa necessidade não só no caso venezuelano, mas no caso paraguaio também. Então isso tem mais a ver com articulação política do que com jogado de marketing. Isso eu posso te garantir¿, argumentou.
Ainda assim, durante a leitura do manifesto, integrantes do comitê prometeram atrapalhar o sono de Capriles, caso ele venha para o Brasil em busca de apoio. "Se o Capriles vier vai ter escracho contra ele", gritou uma das lideranças do Levante Popular da Juventude, movimento que usou organizou recentemente uma série de manifestações na frente da casa de militares, acusados de tortura durante a ditadura militar.
A próxima reunião do comitê está marcada para o próximo dia 31 de julho, quando o próprio presidente venezuelano deve desembarcar em Brasília, por conta da entrada da Venezuela no Mercosul.
Além de PCdoB e PT, a Central Única de Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a União Nacional dos Estudantes (UNE) também fazem parte do grupo que irá coordenar as ações do comitê.
A situação dos direitos humanos na Venezuela está cada vez mais precária, segundo a ONG Human Rights Watch, que divulgou um relatório detalhando situações em que o abuso de poder se sobrepôs ao respeito às leis. O acúmulo de poder no Executivo, aliado ao fim de instituições e à degradação dos direitos humanos, fez várias vítimas na Venezuela desde 2008, quando a ONG havia divulgado seu relatório anterior. Veja alguns casos apontados pela Human Rights Watch
Foto: AFP
Em dezembro de 2009, a juíza María Lourdes Afiuni concedeu liberdade condicional a um opositor do governo de Chávez que estava preso havia quase três anos sem ter sido julgado por acusações de corrupção. Em seguida, o presidente denunciou a juíza, chamando-a de "bandida", e pediu que ela fosse condenada a 30 anos de prisão. Afiuni foi presa e ficou um ano detida em condições precárias. Em fevereiro de 2011, a juíza foi transferida à prisão domiciliar, onde está até hoje
Foto: AFP
Em agosto de 2011, o jornal 6to Poder publicou uma montagem com as fotos de seis altas funcionárias do governo como dançarinas de um cabaré chamado "A Revolução", dirigido por "Senhor Chávez". A diretora do jornal, Dinorá Girón, e o presidente, Leocenis García, foram acusados de "instigação ao ódio público". O jornal foi proibido de publicar textos ou imagens que pudessem constituir "ofensa e/ou insulto à reputação, ou ao decoro, de quaisquer representantes de autoridades úblicas"
Foto: Facebook / Reprodução
Em maio de 2010, Rocío San Miguel, uma ativista defensora dos direitos humanos, participou de um programa de TV denunciando o fato de que altos oficiais militares faziam parte do partido de Chávez - prática proibida pela Constituição da Venezuela. Em resposta, a TV estatal a acusou de ser uma "agente da CIA" e de "incitar a insurreição". A ONG que ela dirige, a Citizen Watch, também foi alvo de uma queixa-crime por suposta traição. Desde então, San Miguel recebeu várias ameaças de mrte
Foto: Reprodução
Em novembro de 2006, a emissora RCTV exibiu um vídeo no qual o ministro da Energia diz que os funcionários da empresa estatal de petróleo deviam pedir demissão se não apoiassem Hugo Chávez. Um mês depois, o presidente anunciou que a RCTV não seria mais "tolerada". A emissora parou de funcionar como canal público em maio de 2007, mas continuou transmitindo por cabo até 2010, quando foi interrompida após a ameaça de investigações contra provedores de TV por assinatura
Foto: AFP
Em junho de 2011, a emissora Globovisión fez uma extensa cobertura sobre uma rebelião em uma prisão, com entrevistas com familiares de detentos que afirmaram que forças de segurança estavam matando prisioneiros. O canal foi acusado por Hugo Chávez de "pôr o país em chamas (...) com o único propósito de derrubar o governo" e, em outubro de 2011, multado em US$ 2,1 milhões (R$ 4,2 milhões). A emissora é investigada e ainda pode ser multa, ter a transmissão suspensa ou a licen¿a revogada
Foto: AFP
Em março de 2010, Oswaldo Álvarez Paz, opositor de Hugo Chávez, participou de um programa da Globovisión e falou da suspeita de aumento do tráfico de drogas na Venezuela, citando a decisão de um tribunal espanhol que se referiu a uma possível colaboração entre o governo e grupos "terroristas". Duas semanas depois, Álvarez Paz foi preso porque suas "declarações falsas" tinham causado "um medo infundado" no povo venezuelano. Em julho de 2011, ele foi condenado a dois anos de prião
Foto: Reprodução
Em novembro de 2010, a emissora Tu Imagen foi alvo de críticas de José Ramírez, prefeito de um município do Estado de Miranda e aliado de Chávez. Ele escreveu à empresa Tele Red, dona do canal, pedindo o fim das transmissões, e acusou a Tu Imagen de ter transmitido "mensagens distorcidas contra o governo municipal" em uma entrevista "ofensiva". As transmissões da TV foram suspensas por supostas falhas no contrato, mas voltaram sob a advertência de não fazer críticas ao gverno