Submarino nuclear do Irã pode alimentar temores do Ocidente
Fredrik Dahl
5 jul2012 - 12h18
(atualizado às 12h59)
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O anúncio do Irã de que planeja construir seu primeiro submarino abastecido por energia nuclear alimentou especulações de que isso poderia servir de pretexto para o Estado islâmico produzir urânio altamente enriquecido e se aproximar do material potencial para bomba atômica.
Especialistas ocidentais duvidam que o Irã - que está sob um embargo de armas da ONU- tem a capacidade para a qualquer momento em breve fazer o tipo de embarcação subaquática sofisticada que somente as potências mais poderosas do mundo têm atualmente.
Mas eles dizem que o Irã poderia usar o plano para justificar mais atividade atômica, porque os submarinos nucleares podem ser alimentados por urânio refinado a um nível que também seria adequado para o núcleo explosivo de uma ogiva nuclear.
"Tais submarinos usam frequentemente UAE (urânio altamente enriquecido)", disse o ex-inspetor-chefe nuclear da ONU Olli Heinonen, acrescentando que era pouco provável que o Irã fosse buscar o combustível no exterior por causa da disputa internacional sobre seu programa nuclear.
O país poderia, então, "citar a falta de fornecedores de combustíveis estrangeiros como justificativa para continuar em seu caminho de enriquecimento de urânio", afirmou Heinonen, atualmente no Centro Belfer para Ciência e Assuntos Internacionais da Universidade de Harvard.
Qualquer movimento por parte do Irã para enriquecer o urânio a um grau maior de pureza iria alarmar os Estados Unidos e seus aliados, que suspeitam que o país esteja tentando desenvolver a capacidade para fazer bombas nucleares e querem que ele interrompa seu programa nuclear. Teerã nega qualquer ambição de armas atômicas.
Isso também poderia complicar ainda mais os esforços diplomáticos para resolver a disputa que já dura uma década sobre o programa nuclear de Teerã e pode aumentar os temores de um confronto militar.
Várias rodadas de conversações entre o Irã e seis potências mundiais este ano até agora não conseguiram fazer progressos significativos, especialmente sobre sua exigência de que a República Islâmica diminua seu controverso trabalho de enriquecimento.
"O Irã está usando este anúncio submarino para criar poder de barganha", disse Shashank Joshi, pesquisador sênior e especialista em Oriente Médio no Royal United Services Institute. "Ele pode negociar fora esses 'planos' para concessões, ou utilizar os planos como um pretexto útil para a sua atividade de enriquecimento."
O vice-comandante da Marinha iraniana, Abbas Zamini, foi citado no mês passado como tendo dito que "os passos preliminares em fazer um submarino atômico já começaram". Ele não disse como um navio desse tipo poderia ser abastecido, mas os especialistas afirmaram que pode exigir alto grau de urânio.
Imagem de janeiro de 1979 mostra o aiatolá Ruhollah Khomeini ainda no exílio, na França. Khomeini retornou ao Irã no mesmo ano e promoveu a Revolução Islâmica que derrubou o xá Reza Pahlavi. Segundo Mousavian, após a revolução, amplamente apoiada pela população local, os países ocidentais romperam unilateralmente seus compromissos com o Irã e deixaram bilhões de dólares em projetos industriais e nucleares inacabados
Foto: AFP
O xá (monarca) do Irã, Reza Pahlavi (dir.), se encontra com o secretário de Estado americano, Henty Kissinger (esq.), em Zurique, na Suíça, em 18 de fevereiro de 1975. Segundo o diplomata iraniano Hossein Mousavian, a atual desconfiança do Irã em relação aos Estados Unidos tem origem no golpe de 1953, apoiado pelo país e pelo Reino Unido, que derrubou o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, eleito democraticamente, para instalar a ditadura de Pahlavi
Foto: AFP
Os corpos de soldados iranianos são fotografados em pântano nas proximidades da cidade iraquiana de al-Howeizah, em 22 de março de 1985. O Iraque, do então líder Saddam Hussein, invadiu o Irã em 1980. A guerra entrou os dois países durou oito anos, arruinou economicamente ambos e custou a vida de 300 mil iranianos ¿ Hussein também aprovou o uso de armas químicas contra seus adversários. O Ocidente apoiou o Iraque
Foto: AFP
Em 7 de julho de 1988, milhares de pessoas participam de funeral de passageiros e tripulantes de avião da Iran Air que foi derrubado pela Marinha americana quando sobrevoava o Golfo Pérsico. Mousavian também apontou o ataque à aeronave, que deixou 290 civis mortos, incluindo 66 crianças, como um dos fatores que levam o Irã a não confiar no Ocidente. Os EUA alegaram que o ataque foi acidental, mas partiu de uma embarcação que estava em águas iranianas em confronto com a Marinha local
Foto: AFP
Imagem de outubro de 1986 exibe o americano Edward Austin Tracy, feito refém no Líbano por um grupo pró-Irã. Em 1989, o presidente iraniano Ali Akbar Hashemi Rafsanjani se abriu à política do americano George Bush de "boa-vontade gera boa-vontade" - que propunha a ajuda do Irã para a libertação de reféns internacionais no Líbano em troca de descongelamento de bens do país. Mousavian diz que o Irã cumpriu sua parte, enquanto os EUA responderam com o aumento nas hostilidades
Foto: AFP
O representante da União Europeia Chris Patten cumprimenta o presidente iraniano, Mohammad Khatami, em Teerã, no dia 26 de setembro de 2001. O encontro fazia parte das tentativas de convencer o Irã a apoiar os esforços globais contra o terrorismo após o 11 de setembro. Segundo Mousavian, o Irã esteve entre os primeiros países a condenar os ataques e se dispôs a cooperar com os EUA. Em contrapartida, George Bush, o filho, classificou posteriormente o Irã como parte do "Eixo do Mal"
Foto: AFP
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad (dir.), se encontra com o representante russo Nikolai Patrushev (esq.), em Teerã, em agosto de 2011. Por fim, Mousavian aponta que, em 2011, o Irã se dispôs a aceitar um plano russo para resolver a questão nuclear, em que se oferecia a aceitar a total supervisão da AIEA e limitar o enriquecimento de urânio, em troca de receber barras de combustível para seus reatores. Ele aponta que novamente a resposta foi a adoção de sanções mais duras
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