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Na França, bafômetro obrigatório gera protestos: "medida inútil"

30 jun 2012 - 15h14
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

A partir deste domingo, não cabe mais somente à polícia fiscalizar quem bebeu vinho demais antes de pegar o volante na França. Neste final de semana entra em vigor um decreto que obriga os motoristas a possuírem o próprio teste de bafômetro no veículo. A medida, que à primeira vista protege a segurança nas ruas e estradas, é criticada por associações de defesa dos usuários por não atingir o público-alvo.

Francesa usa bafômetro descartável na cidade de Quimper; equipamento será obrigatório para os motoristas
Francesa usa bafômetro descartável na cidade de Quimper; equipamento será obrigatório para os motoristas
Foto: AFP

O uso do álcool é a principal causa de acidentes na França, responsável por um terço das cerca de 4 mil mortes anuais nas estradas do país. O índice francês é bastante superior ao de países onde o consumo de bebidas é semelhante, como Alemanha (10%) e Inglaterra (17%). Para tentar poupar cerca de 500 vidas por ano, foi aprovado em fevereiro um decreto que obriga os motoristas a comprar testes - descartáveis ou eletrônicos - e tê-los à disposição sempre que beberem álcool e estiverem no volante. Os modelos descartáveis, de plástico e a base de dicromato de potássio para obter o resultado, custam entre 1 e 3 euros (de R$ 2,58 a R$ 7,76). Os eletrônicos não saem por menos de 100 euros (R$ 258).

Com a adoção da nova regra, diversas marcas apareceram no mercado, nem todas com o selo de garantia expedido pelo governo francês. A aproximação do implantação da medida chegou a causar ruptura de estoque em dezenas de estabelecimentos por todo o país: estima-se que 50 mil testes portáteis serão vendidos neste ano, contra 15 mil em 2011.

Entretanto, se por um lado a prevenção de acidentes por alcoolização é indiscutivelmente positiva, por outro as associações de defesa da segurança no trânsito criticam a medida por considerarem que os bafômetros portáteis não sensibilizam os principais envolvidos: os habitués da mistura perigosa entre álcool e direção. "É uma medida inútil. Não precisamos de um decreto como este para nos mostrar que mais de 80% dos acidentes têm um motorista alcoolizado na origem", protesta Chantal Perrichon, presidente da Liga contra a Violência no Trânsito. "E estes motoristas, que consumiram mais do que o 1,2 grama de álcool no sangue permitido pela lei, não precisam de teste algum para saber que passaram dos limites."

Chantal argumenta que a nova regra é insuficiente para conter os motoristas mais perigosos - para cumprir este objetivo, nada melhor do que o reforço da fiscalização no trânsito, sobretudo nos locais de risco como as proximidades de bares e boates. Já Vincent Julé-Parade, da associação Vítimas e Cidadãos, julgou a medida "simbólica", mas teme pela eficácia dos bafômetros descartáveis. "Nem todos os modelos suportam altas temperaturas, como pode ser o caso de um veículo estacionado sob o sol no verão. E a maioria das pessoas vai deixá-los no porta-luvas, onde o calor é maior, ao invés de embaixo do assento, como é a recomendação", adverte. A pena para quem for pego sem o teste é de 11 euros (R$ 28), um valor considerado baixo demais pelas associações.

A delegação interministerial de Segurança no Trânsito se defende afirmando que a principal vantagem da norma é o efeito pedagógico de "contágio": ao transformar o teste em um hábito banal, os motoristas vão desenvolver a prática do autocontrole e da censura entre amigos e familiares. "Nós pressupomos que a banalização deste equipamento vai dar aos que cercam o motorista meios de agir diante de um conhecido que bebeu demais", explicou Frédéric Péchenard, delegado-geral do órgão, à emissora France 3. "As pessoas que pegam carona normalmente sabem quando o motorista bebeu, mas não se sentem à vontade para intervir e evitar a tomada de riscos", avaliou.

Não existe uma regulamentação europeia para o uso do bafômetro. Iniciativas semelhantes à da França podem ser encontradas na Suécia, por exemplo, onde cada vez mais ônibus e caminhões são equipados de bafômetros eletrônicos que impedem o acionamento do motor se o condutor estiver alcoolizado.

Fonte: Terra
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