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Novo governo paraguaio não tem sinal de apoio na América Latina

23 jun 2012 - 13h31
(atualizado em 25/6/2012 às 22h26)
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O novo governo paraguaio do presidente Federico Franco seguia sem receber neste sábado nenhum sinal de apoio na América Latina, ouvindo críticas pela forma como Fernando Lugo foi destituído e acusações abertas de golpe proferidas por Venezuela e Argentina. Ao mesmo tempo, Estados Unidos, União Europeia e Espanha limitaram-se a pedir calma ao povo paraguaio e a observar os acontecimentos.

Entre os sócios do Paraguai no Mercosul (Brasil, Argentina e Uruguai), que realiza sua cúpula na próxima quinta e sexta-feira, em Mendoza, Argentina, a declaração mais dura foi justamente a da presidente deste país, Cristina Kirchner. "Sem dúvidas houve um golpe de Estado" no Paraguai, disse, considerando que isto "reedita situações que acreditávamos que estavam absolutamente superadas na América do Sul e na região em geral".

O presidente uruguaio, José Mujica, disse estar "profundamente entristecido" pela destituição de Lugo, mas prefere esperar o retorno de seu chanceler Luis Almagro, que se encontra em Assunção, para se posicionar, disse o vice-secretário da Presidência, Diego Cánepa, ao jornal El Observador.

O Brasil, no entanto, não reagiu diretamente à destituição, embora a presidente Dilma Rousseff tenha afirmado antes que os protocolos da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) preveem sanções se houver "ruptura de ordem ou ruptura diplomática", mas esclareceu que não foi discutida a possibilidade de aplicá-los ao Paraguai.

O processo de destituição de Lugo durou um dia: na quinta-feira, a Câmara de Deputados aprovou submetê-lo a um julgamento político e na sexta-feira o Senado votou por retirá-lo de suas funções, após uma audiência na qual os advogados de Lugo tiveram duas horas para apresentar sua defesa. A Unasul, cuja presidência rotativa está em poder do Paraguai, é um órgão político também formado por Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

Embora Lugo - substituído pelo vice-presidente Federico Franco 13 meses antes do fim de seu mandato por decisão do Congresso - tenha acatado a decisão de destituição, o presidente equatoriano, Rafael Correa, disse que a decisão de seu governo "é não reconhecer o novo presidente paraguaio".

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, advertiu que "não reconhece este irritante, ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção". O presidente da Bolívia, Evo Morales, assegurou que "não reconhecerá um governo que não surja das urnas e do mandato do povo". O México, no entanto, considerou que embora o julgamento político de sexta-feira no Congresso "tenha se desenvolvido seguindo o procedimento estabelecido no texto constitucional paraguaio", "não concedeu ao ex-presidente Lugo os espaços e tempos para a devida defesa", expressou a chancelaria.

Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, pediu "calma" e advertiu que "estes procedimentos legais não devem ser usados para abusar de certa forma do poder, ou, pelo menos, os requisitos básicos ao devido processo devem ser respeitados". Já o presidente peruano, Ollanta Humala, classificou a destituição de Lugo como uma "derrota para o processo democrático na região", informou a agência oficial Andina.

A Costa Rica criticou a destituição de Lugo, "que mostra traços de golpe de Estado", afirmou um comunicado, que cita o chanceler Enrique Castillo. O chanceler chileno, Alfredo Moreno, afirmou que a destituição "não cumpriu com os padrões mínimos do devido processo e da legítima defesa" e afirmou que a postura do Chile diante do novo presidente Federico Franco "será decidida nos próximos dias".

Fora da região, os Estados Unidos convocaram "todos os paraguaios a agir pacificamente, com calma e responsabilidade, no espírito dos princípios democráticos paraguaios", afirmou uma porta-voz do Departamento de Estado, Darla Jordan. A Espanha, por sua vez, "defende o pleno respeito à inconstitucionalidade democrática e ao Estado de Direito e confia que o Paraguai, no âmbito do respeito a sua Constituição e aos compromissos internacionais, consiga controlar a atual crise política, assim como salvaguardar a convivência pacífica do povo paraguaio".

A União Europeia, através de um comunicado da comissária de Relações Exteriores Catherine Ashton, disse estar "seguindo com preocupação os acontecimentos políticos no Paraguai" e convocou "todos os partidos a respeitar a vontade política" do povo paraguaio.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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