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Oriente Médio

ONGs acusam Israel de realizar caçada contra refugiados africanos

19 jun 2012 - 12h25
(atualizado às 12h38)
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Guila Flint
De Tel Aviv

Desde o dia 10 de junho mais de 500 refugiados do sul do Sudão foram presos em Israel e enviados para uma prisão no sul do país, onde devem aguardar a repatriação. De acordo com ONGs israelenses, "o governo iniciou uma verdadeira caçada humana contra os refugiados".

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A menina Merr Mussa, 5 anos, se encontra na prisão de Saharonim aguardando deportação
A menina Merr Mussa, 5 anos, se encontra na prisão de Saharonim aguardando deportação
Foto: Rami Gudovitch / Divulgação

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A Corte do Distrito de Jerusalém concordou, no dia 7 deste mês, que 1,5 mil imigrantes do sul do Sudão que se encontram em Israel sejam excluidos da chamada "proteção coletiva" e assim autorizou a expulsão dessas pessoas do país.

A Corte também estabeleceu que as autoridades devem examinar individualmente os pedidos de asilo politico desses refugiados.De acordo com o ministério do Interior, imigrantes do sul do Sudão "já não correm risco de vida" após a criação, no ano passado, do novo Estado, do Sudão do Sul.

O ministério também afirmou que os sudaneses do sul teriam uma semana para concordar com o "afastamento por vontade própria". No entanto, três dias depois da decisão da Corte, agentes da Policia da Imigração começaram a prender refugiados do sul do Sudão em todo o país, principalmente nas cidades de Tel Aviv, Eilat e Arad.

De acordo com o ministério, 123 imigrantes dessa região já foram expulsos no voo que partiu para o Sudão do Sul no último domingo, entre eles 64 crianças.

"Afastamento por própria vontade"

O ministério também afirmou que, além dos 123 já expulsos, mais 500 imigrantes já assinaram o documento de "afastamento por própria vontade", que lhes dá a possibilidade de receber mil euros por pessoa. "As autoridades iniciaram uma caçada selvagem nas ruas, nas escolas e nas residências dos refugiados", disse Orit Marom, da ONG Assaf, à reportagem do Terra.

A ONG, que presta assistência aos refugiados, tem acompanhado de perto vários casos de familias sudanesas que de repente são abordadas pelos fiscais da Policia de Imigração, que lhes dão ordens para "arrumar as malas imediatamente".

De acordo com Marom, "as autoridades rejeitam de forma imediata e automática todos os pedidos de asilo, sem analisar seriamente se a pessoa poderá correr risco de vida se voltar ao Sudão". "Em muitos casos, o termo 'volta' é incorreto, pois pelo menos metade dessas pessoas é de crianças que nasceram aqui e não conhecem o Sudão", acrescentou.

Para Shahar Shoham, responsável pelo acompanhamento de refugiados doentes, da ONG israelense Médicos pelos Direitos Humanos, "a expulsão dos sudaneses do sul não passa de um truque de propaganda por parte do governo".

De acordo com o ministério do Interior, em Israel vivem cerca de 60 mil refugiados africanos, principalmente da Eritréia e do norte do Sudão, e os sudaneses do sul, que deverão ser expulsos na "Operação Volta para Casa", são apenas 1,5 mil.

Apaziguar o ódio

"Depois de incitarem contra os refugiados africanos, os lideres politicos criaram um clima de ódio racial contra eles, e agora estão expulsando a pequena comunidade de sudaneses do sul para apaziguar esse ódio", acusou Shoham.

De acordo com a ONG Médicos pelos Direitos Humanos, a Policia da Imigração também está prendendo doentes, que correrão grave risco de vida se voltarem ao Sudão.

Shoham menciona principalmente doentes de aids e de diabetes em estado grave. "No Sudão do Sul não existem condições básicas para tratar dessas pessoas, o país está em pleno caos, em muitos lugares não há hospitais, nem água, nem eletricidade", acrescentou, "essas pessoas estão sendo mandadas para a morte".

Para o professor de Filosofia da Universidade de Haifa, Rami Gudovich, o comportamento das autoridades israelenses em relação aos refugiados é "imperdoável". Gudovich mencionou casos de crianças que, por sofrerem de violência na familia, foram afastadas dos pais e enviadas para internatos. "Agora, desde o inicio da expulsão, o ministério do Bem Estar Social está retirando essas crianças dos internatos e os entregando aos mesmos pais que as agrediram, para serem expulsas junto com eles".

Gudovich, que acompanhou nos últimos anos várias familias sudanesas, demonstrou muita emoção quando contou sobre a familia Mussa, de 8 pessoas, que neste momento se encontra na prisão de Saharonim, no sul de Israel, depois que a mãe se recusou a assinar o documento de "afastamento por própria vontade".

Tratamento desumano

"Me pergunto que tipo de Estado é esse, que trata pessoas de forma tão desumana", disse Gudovich. "Eu tinha uma ótima relação com a menina Merr Mussa, 5 anos. No dia em que toda a familia foi presa corri para a casa deles e acompanhei os ultimos momentos deles em Tel Aviv, antes de entrarem, com os pertences que conseguiram empacotar, na van da policia que veio buscá-los". "Senti que Merr estava muito brava comigo, como se estivesse decepcionada, pois não consegui protegê-los quando eles mais precisavam", disse.

De acordo com o ministro do Interior, Eli Ishai, os refugiados africanos representam uma "ameaça ao Estado de Israel", afirmou o professor. O ministro, que qualificou os refugiados como "criminosos" e "disseminadores de doenças", afirmou que todos os 60 mil africanos que se encontram em Israel serão "presos e expulsos".

No entanto, Israel é signatário da Convenção das Nações Unidas sobre os refugiados, que proibe a repatriação da maioria dos imigrantes africanos que se encontram no país, que são do norte do Sudão e da Eritreia, pois eles correriam risco de vida se voltassem.

Fonte: Especial para Terra
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