PUBLICIDADE

Ásia

Desejei ter morrido, diz vietnamita queimada por napalm há 40 anos

1 jun 2012 - 15h32
(atualizado às 15h34)
Compartilhar

Na imagem, a menina sempre vai ter 9 anos e gritará "Muito quente! Muito quente" ao fugir correndo nua de um vilarejo vietnamita com partes do corpo cobertas por Napalm. Ela sempre será uma vítima sem nome. No entanto, Kim Phuc, a menina sem nome, passou grande parte de sua vida tentando não se tornar vítima da imagem que a tornou famosa mundialmente, ainda que pouquíssimas pessoas soubessem quem ela realmente era.

Kim Phuc corre em desespero em imagem clássica feita pelo fotógrafo "Nick" Ut em 8 de junho de 1972
Kim Phuc corre em desespero em imagem clássica feita pelo fotógrafo "Nick" Ut em 8 de junho de 1972
Foto: AP

Bastou apenas um segundo para o fotógrafo da AP Huynh Cong "Nick" Ut registrar a imagem, uma das mais importantes da história do fotojornalismo mundial. Uma imagem que comoveu o mundo e ajudou dar fim à Guerra do Vietnã. Apesar da relevância histórica de sua presença, Phuc diz que "realmente gostaria de escapar daquela pequena menina". "Mas parece que aquela imagem nunca me deixou ir", diz a vietnamita.

Em entrevista a agência AP, Phuc conta que viveu uma vida relativamente normal após os 13 meses que passou no hospital, apesar de ainda ser afetada por dores de cabeça e em outras partes do corpo, efeitos colaterais do ataque ao vilarejo vietnamita em que morava em 8 de junho de 1972. No entanto, após conseguir chegar à faculdade de medicina, ela foi forçada a deixar os estudos, retornar a Trang Bang e se tornar uma garota propaganda do governo comunista que controla o país desde o fim da guerra. Sob os olhares do Exército, ela se encontrava com jornalistas, lia uma versão roteirizada de sua história, ria e cumpria o seu papel, mas a raiva crescia em seu coração.

"Eu fui queimada por napalm, me tornei uma vítima de guerra. Mas ao crescer, eu me tornei outro tipo vítima", diz Phuc. "Meu coração era exatamente como uma xícara de café preto. Eu desejava ter morrido com meu primo no ataque, com meus soldados no sul-vietnamitas. Era muito difícil carregar aquele fardo com aquele ódio, aquela raiva e amargura".

Um dia, durante uma visita a uma biblioteca, Phuc começou a ler a Bíblia. A partir daí, ela conta que sua vida deu uma nova guinada. Com o auxílio de um jornalista estrangeiro, ela foi levada à Alemanha Ocidental para receber tratamento médico em 1982. Posteriormente, o governo vietnamita deu permissão a ela para estudar em Cuba. Lá, no entanto, ela seguia sendo a "Menina do Napalm", um ícone que atraía o interesse da mídia internacional. Na escola, ela encontrou o seu futuro marido, Bui Huy Toan. Phuc acreditava que ninguém ia se apaixonar por ela por causa de suas horríveis cicatrizes nos braços, mas ele aparentemente a amava ainda mais por isso. Os dois se casaram em 1992 e passaram a lua-de-mel em Moscou. No voo de volta, os recém-casados desertaram durante uma parada para reabastecimento e se refugiaram no Canadá. Ela finalmente conseguia sua liberdade.

Uma das primeiras coisas que fez após se estabelecer no Canadá foi contatar Ut, o fotógrafo de sua clássica imagem, a quem reencontrara em Cuba em 1989, e que a encorajou a compartilhar sua história com o mundo. Mas ela estava cansada de entrevistas e de posar para fotos. "Eu tenho um marido, uma nova vida e quero ser normal como todo mundo".

A mídia enfim a encontrou vivendo nos arredores de Toronto, mas dessa vez ela decidiu assumir o controle de sua história. Um livro sobre sua vida lançado em 1999, assim como um documentário posterior, contavam a sua versão. Desde então, ela foi chamada para ser uma embaixadora da boa-vontade das Nações Unidas e se reencontrou com Ut múltiplas vezes.

Após quatro décadas e dois filhos, Phuc finalmente conseguiu olhar para a imagem da menina correndo nua e abraçar o poderoso significado que ela passa. "A maioria das pessoas conhece a imagem, mas muito poucos sabem sobre a minha vida", diz. "Eu sou muito agradecida por poder aceitar a foto como um presente poderoso. Agora é minha escolha, posso trabalhar com ela pela paz".

As informações são da agência AP

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade