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Mundo

Estreitar laços com Brasil é prioridade de candidatos mexicanos

3 jun 2012 - 20h23
(atualizado em 25/6/2012 às 15h24)
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Elisa Martins
Direto da Cidade do México

O Brasil ocupa lugar estratégico no mapa da política externa proposta pelos candidatos à Presidência no México. Na atual campanha eleitoral, os partidos reconhecem a importância da parceria com o Brasil para crescer na América Latina, e assumem que a relação entre os dois países tem sido pouco explorada nos últimos anos. Conscientes de que promessas sociais podem render mais votos durante a corrida eleitoral, os candidatos pouco abordam sua estratégia internacional. Mas, passada a briga pela liderança no dia 1º de julho, o rumo das relações do próximo governo com outros países, principalmente o vizinho Estados Unidos e sócios latino-americanos como o Brasil, será decisivo para o avanço de uma nação atingida pela crise econômica e a violência que mancha sua imagem.

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Foto: EFE

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No primeiro debate televisivo entre os candidatos, no início de maio, a política externa sugerida pelos candidatos ficou em segundo plano. Foram constantes, porém, as comparações com o Brasil, principalmente sobre o crescimento econômico e o modelo energético do país. Uma das maiores questões da campanha é o futuro da petroleira estatal Pemex. O candidato Enrique Peña Nieto, do PRI, favorito até agora nas pesquisas, propõe a abertura da empresa a investimentos privados, em um modelo similar ao da Petrobras. A ideia é encarada com cautela pela governista Josefina Vázquez Mota (PAN) e, principalmente, pelo esquerdista Andrés Manuel López Obrador (PRD).

O Terra conversou com os responsáveis pelos projetos de política externa do Partido Revolucionário Institucional e do Partido da Revolução Democrática (o responsável do Partido Ação Nacional não respondeu às tentativas de contato da reportagem). Apesar da diferença de posicionamentos políticos, ambos coincidem no fato de que o Brasil é um sócio essencial que pode servir de exemplo dentro uma nova política internacional mexicana.

"O Brasil é um sócio estratégico, não adversário. Existem muitas empresas mexicanas que investem no Brasil, e muitas brasileiras que querem entrar no México. É preciso ser mais pró-ativos para criar vínculos. Havia uma discussão positiva sobre um acordo de livre-comércio. Devemos consegui-lo, será uma das prioridades se ganha o PRI. Esperamos que nossas representações diplomáticas superem rivalidades para alcançar resultados. Apesar de ter muito em comum, Brasil e México não se conhecem como deveriam", explicou Emilio Lozoya, coordenador de assuntos internacionais da campanha presidencial do PRI.

As comparações com o Brasil são frequentes no discurso do candidato esquerdista Andrés Manuel López Obrador, do PRD. Desde antes de se firmar como segundo colocado na corrida presidencial, em uma recuperação recente que era improvável no início da campanha, López Obrador costumava elogiar a Petrobras e o governo de Lula. A criação de uma "República amorosa" proposta no final do ano passado pelo candidato mexicano para acabar com a corrupção e a violência no país se assemelha ao mote de "paz e amor" do ex-presidente brasileiro em época de campanha.

Para o economista e diplomata Jorge Eduardo Navarrete, embaixador no Brasil entre 1997 e 2000 e provável chanceler mexicano em uma eventual vitória do PRD, a comparação entre Brasil e México é natural.

"São as duas principais economias da América Latina. Há vinte anos, quem tinha o maior PIB era o México. Agora o crescimento do país diminuiu e a situação se inverteu. Existe uma brecha que nos interessa cobrir e, se o México supera essa etapa de estagnação prolongada, também convém ao Brasil que exista uma boa colaboração entre os dois países", opina Navarrete, acrescentando que a cooperação pode acontecer não são no nível federal, mas também entre os Estados.

Em um artigo recém-publicado na revista Foreign Affairs da América Latina, o diplomata Rubén Beltrán, coordenador de assuntos internacionais da campanha do PAN, afirma que no caso de continuidade do partido no poder o país reforçaria sua liderança na América Central, avançaria a relação com a América Latina e se lançaria rumo a mercados em expansão na Ásia e na África. Mas a atual política empregada pelo PAN, criticam as legendas da oposição, não só fracassou em aproximar Brasil e México como limitou as relações com os Estados Unidos e países emergentes que propiciariam boas oportunidades.

"As administrações do PAN não têm um projeto de política externa. Seguem a maré e se deixam concentrar de maneira excessiva na relação com a América do Norte, principalmente com os Estados Unidos, e privilegiando temas de segurança. Não existe uma política própria, mas uma reação primitiva diante de pressões internacionais", afirma Navarrete, que reconhece, porém, a importância da proximidade com os Estados Unidos.

"Por razões geográficas, econômicas e demográficas, a relação com EUA sempre foi e será fundamental para o México. É como a relação de Uruguai ou Paraguai com o Brasil. Quando se tem um vizinho poderoso, essa relação assume uma grande importância. Os Estados Unidos continuarão sendo a relação bilateral dominante para o México. Mas o importante é que o foco não seja a segurança e a cooperação militar, mas uma visão moderna da cooperação para o desenvolvimento", afirma.

Para Lozoya, do PRI, o governo de Calderón tem assumido um papel de liderança em matéria de meio ambiente (o país sediou a COP16 em 2010), mas falta o país ser mais ativo em organismos multilaterais, como a ONU, e adotar uma política efetiva na América do Sul. Mas o maior erro de Calderón, diz, foi focar sua política com os Estados Unidos em segurança e migração, outro tema frequente em seu mandato.

"O problema é a falta de empregos lá e aqui. Nossa ideia é intensificar a agenda com os Estados Unidos, mas com outras duas prioridades. O México desenvolverá seus ativos energéticos de gás e petróleo abrindo-se ao setor privado, como a Petrobras já fez, e investiremos em infra-estrutura para gerar empregos e melhorar a produtividade e a integração em projetos fronteiriços", afirma.

O desafios dos problemas internos
A resolução de problemas internos parece ser o primeiro passo para o México impulsar sua política internacional. Ao amenizar ou solucionar os principais problemas do país como uma economia em crise, uma distribuição de renda desigual, pobreza extrema e um sistema educativo deficiente, o México conseguirá melhorar sua posição em um mundo competitivo - começando pela relação com os países mais próximos.

"Os principais desafios são internos. Não temos recursos nem capacidade para ser igualmente ativos em um mundo de 200 Estados-nações, mas certamente o pertencimento regional na América Latina marcará prioridades, além dos vínculos de muito tempo com Estados Unidos e países da Europa", explica Navarrete.

Para Lozoya, a perda de espaço do México no cenário internacional se deve principalmente a um fraco desempenho econômico. "A taxa de crescimento dos últimos anos é de 1,7%, a mais baixa das últimas oito décadas, o número de desempregados é o triplo de há dez anos, existem mais 12 milhões de pobres. Sem contar que a atual percepção de que o México é um país inseguro sujou sua imagem. Outras nações latino-americanas, como o Brasil, têm maior número de homicídios que o México, mas souberam vender melhor sua imagem. O México precisa crescer e aprender a se reposicionar e retomar a expectativa que tinha nos anos 90, quando se dizia que era o país do futuro, cheio de oportunidades", conclui.

Para isso, os partidos podem se aproveitar de recursos que independem da vitória nas urnas. A abertura da economia mexicana e a admiração por uma cultura cuja história e gastronomia estão entre as mais propagandeadas do mundo podem ser trunfos naturais para recuperar o impacto positivo no exterior.

Fonte: Especial para Terra
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