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América Latina

Bolívia vive tensão após 7 semanas de conflitos trabalhistas

11 mai 2012 - 19h19
(atualizado às 20h25)
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A Bolívia vive momentos de tensão após sete semanas de conflitos trabalhistas e sociais, com greves e manifestações que se sucedem sem pausa e frequentemente terminam em violência, e muitos analistas e políticos opinam que o presidente Evo Morales se mostra incapaz de resolvê-los. A Fundação Milênio, centro de estudos privado que analisa a crônica de conflito boliviana, comentou nesta sexta-feira que Morales parece despreocupado com os conflitos porque avalia que boa parte dos que protagonizam o caos sejam seus aliados, e o líder acredita que "não querem derrubá-lo" do poder.

"Mas estão imobilizando-o e o impedem de governar, além de afetar seriamente os cidadãos e danificar seus esforços produtivos", destaca o Milênio, que registrou 80 conflitos em março e 100 em abril.

Ao término de três dias de greve geral nesta sexta-feira, o líder da Central Operária Boliviana (COB), maior entidade sindical do país, o mineiro Juan Carlos Trujillo, advertiu a Morales que, se o governo continuar sem dar respostas às reivindicações dos sindicatos, os manifestantes radicalizarão os protestos na próxima semana.

A greve da COB, uma das maiores bases de apoio que Morales perdeu desde que chegou ao poder em 2006, teve pouco eco nos centros de trabalho, pois só foi total em hospitais estatais e universidades, embora reforçada por grandes manifestações e bloqueios de vias em várias regiões.

Trujillo classificou como êxito as mobilizações da COB e disse que Morales "tem a obrigação de responder favoravelmente" a suas demandas, como um aumento salarial superior a 8% aprovado pelo líder e a derrogação do decreto que eleva a jornada de trabalho de médicos e funcionários de saúde de seis para oito horas.

A COB anunciou nesta sexta-feira que, na próxima semana, haverá uma reunião de dirigentes em Oruro e poderia decidir uma greve geral por tempo indeterminado.

Na segunda e terça-feira, os motoristas e proprietários de transporte público paralisaram totalmente La Paz e a cidade vizinha de El Alto, e em menor medida outros povoados, para contestar uma nova lei de trânsito. Diante da falta de soluções, também ameaçam retomar os protestos nos próximos dias.

A marcha de centenas de indígenas da Amazônia contra uma estrada promovida por Morales e financiada pelo Brasil, projetada para partir em duas a reserva natural Tipnis, segue avançando em direção a La Paz, apesar da fustigação do governo e de seus partidários.

Uma primeira passeata contra essa estrada percorreu quase 600 quilômetros entre agosto e outubro passados e conseguiu superar as barricadas de fiéis a Morales e a repressão policial, que custou o cargo a ministros, vice-ministros e comandantes policiais.

Os indígenas foram recebidos em La Paz de forma triunfal e obrigaram Morales a decretar uma lei que proíbe qualquer rodovia no Tipnis, mas o líder descumpriu sua palavra e busca retomar as obras, que lhe custaram seus princípios de ambientalista e indigenista.

O ministro de governo boliviano, Carlos Romero, afirmou nesta sexta-feira que os conflitos não têm chance de causar uma crise de governabilidade, em resposta aos políticos, colunistas e analistas que consideram esse risco maior a cada dia.

"Há reivindicações sociais e atores políticos que buscam se aproveitar dessa situação. Não diria que é desestabilizadora, porque não têm chances de provocar uma crise de governabilidade, e menos ainda uma crise de Estado", declarou Romero à rede de televisão "Uno".

O escritório da ONU na Bolívia manifestou preocupação porque os protestos afetam "os direitos humanos da população", e pediu ao governo "adotar todas as medidas a seu alcance para respeitar, proteger e garantir o usufruto desses direitos".

"O protesto impulsionado durante mais de 40 dias pelos trabalhadores do setor de saúde, somado a reivindicações de outros atores sociais, está causando um impacto significativo e preocupante sobre o direito à saúde e agrava as persistentes falhas estruturais do sistema", diz um comunicado da ONU.

A nota acrescenta que o conflito "tem causado protestos universitários de apoio muito violentos, com o uso indiscriminado de dinamites, e deu lugar a práticas pelas quais membros do setor se auto-infligiram tratamentos físicos (crucificação, sutura da boca) equivalentes a maus-tratos e tortura que violam a dignidade humana".

Populista e nacionalista, Morales se limitou nesta sexta-feira a criticar os dirigentes da COB porque, segundo ele, defendem "privilégios".

"Como uma organização sindical, revolucionária, que usa o ''Che'' (Guevara) em seu cartaz, pode defender um grupo de privilegiados?", questionou o governante.

Morales vive momentos de baixa popularidade, que não terminou nem com a desapropriação de uma filial de uma empresa elétrica espanhola no último dia 1º, quando antes as nacionalizações lhe davam grandes índices de aprovação nas pesquisas.

Dezenas de manifestantes bloquearam nesta sexta-feira em La Paz o acesso ao prédio da Vice-Presidência da República, atiraram tinta contra sua fachada e protestaram em frente ao Ministério da Saúde, embora não tenham ocorrido choques violentos com a polícia, como em dias prévios.

Houve também manifestações em Cochabamba, Potosí, Sucre, Tarija e Santa Cruz. Nas duas últimas, além disso, houve bloqueios das estradas que as rodeiam.

As vias que ligam a Bolívia a países vizinhos, como Brasil e Argentina, foram fechadas várias vezes nas últimas semanas, enquanto as associações de empresários se queixam das perdas bilionárias decorrentes da inação do governo.

EFE   
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