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Charles Taylor, o homem que afundou uma região no terror

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LEIDSCHENDAM, 26 Abr 2012 (AFP) -O ex-presidente liberiano Charles Taylor, 64 anos, considerado culpado nesta quinta-feira de crimes contra a humanidade e de guerra em Serra Leoa por um tribunal internacional, provocou durante os anos 90 uma série de conflitos violentos em parte da África Ocidental.

O político de origem burguesa estudou em uma universidade americana e trabalhou em bancos estatais da Libéria antes de virar um líder guerreiro ávido por poder e, posteriormente, um presidente questionado que comandou o país entre 1997 e 2003.

Charles Ghankay Dahkpannah Taylor nasceu em 1948 num subúrbio rico de Monróvia, em uma família da etnia Gios, que comandou a Libéria da independência em 1822 até 1980. Ele é filho de pai negro americano e de mãe liberiana.

Formado em economia no Bentley College, de Massachusetts, ele entrou em 1979 no serviço público liberiano, onde foi rapidamente chamado de "super bonder" por sua propensão a desviar grandes quantidades do dinheiro que passavam por suas mãos.

Acusado pelo presidente Samuel Doe em 1983 de ter desviado 900.000 dólares, ele se refugiou nos Estados Unidos, onde foi detido antes de escapar e fugir para a Costa do Marfim. Criou vínculos com a Líbia - onde ele e seus seguidores passaram por campos de treinamento - e com o presidente do Burkina-Faso Blaise Compaoré.

Seis anos depois, na noite de Natal de 1989, ele iniciou com um grupo reduzido de combatentes uma das mais atrozes guerras civis do continente africano, incluindo o recrutamento forçado de crianças.

Doe foi torturado até a morte em setembro de 1990 pelos homens de Taylor. Pelo menos sete facções rivais se enfrentaram durante o conflito. A NPFL de Taylor era uma das mais temidas.

Seus combatentes, geralmente drogados, foram acusados das mais bárbaras matanças e atrocidades, mutilações, estupros e, inclusive, atos de canibalismo.

Em 1997, depois de um acordo assinado sob o patrocínio da comunidade internacional, os liberianos o elegeram presidente. Principal chefe de guerra do país, ele se apresentou como o único capaz de acabar com o terror. O slogan de seus partidários era o seguinte: "Matei seu pai, matei sua mãe, vote em mim!".

Dois anos depois, no entanto, os problemas começaram para Taylor, com o início da rebelião dos Liberianos Unidos pela Reconciliação e a Democracia (LURD) no norte do país.

Apoiado por vários países vizinhos e extra-oficialmente pelos Estados Unidos, o LURD avançou na direção de Monróvia. A guerra acabou depois de três meses de cerco da capital, de junho a agosto de 2003.

Sob pressão, Taylor deixou o poder e o país em 11 de agosto de 2003 para um exílio dourado na Nigéria, pondo um fim a 14 anos de conflitos que deixaram cerca de 300.000 mortos e centenas de milhares de deslocados.

Ele também é acusado de ter desestabilizado toda a região. Taylor já havia sido responsabilizado por crimes de guerra e contra a humanidade, em junho de 2003, pelo Tribunal Especial para Serra Leoa (TESL), ante as suspeitas de que apoiava a rebelião Frente Revolucionário Unida (RUF) neste país desde março de 1991.

Com a colaboração da RUF, Taylor teria traficado armas e diamantes. O conflito em Serra Leoa durou uma década (entre 1991 e 2001) e deixou 120.000 mortos.

Finalmente, em março de 2006, Taylor foi detido e levado para Haia. Em sua cela do centro de detenção de Scheveningen, na periferia de Haia, ele lê a Bíblia ou livros políticos e, segundo a família, começou a escrever um livro.

Descrito por outros detentos como uma pessoa calma, Taylor também passou muitas horas reunido com o que chama de "conselheiro espiritual".

bur-ag/fp

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