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América Latina

Líderes americanos afinam combate contra as drogas

16 abr 2012 - 12h51
(atualizado às 13h03)
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Líderes das Américas deram um passo histórico neste fim de semana no porto caribenho de Cartagena ao decidirem realizar estudos sobre alternativas para o combate às drogas, que já provocaram milhares de mortes na região nos últimos 40 anos.

A VI cúpula das Américas "estabeleceu a necessidade de analisar os resultados da atual política (antidrogas) e de explorar novos enfoques para fortalecer esta luta e para que seja mais efetiva", disse Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, principal produtora mundial de cocaína.

O anfitrião indicou que os 31 líderes das Américas presentes deram a ele um mandato na Organização dos Estados Americanos (OEA) para que este processo seja iniciado.

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, maior consumidor de drogas do mundo, aceitou dialogar, mas deixou claro que se opõe à descriminalização das drogas, como proposto pelo presidente da Guatemala, Otto Pérez Molina.

Obama considerou "totalmente apropriado discutir o tema". "Não acredito na legalização, mas acredito que precisamos avançar e ser mais criativos", disse. No dia anterior, declarou estar disposto a debater o consumo de drogas em seu país e o fluxo de dinheiro e armas para o sul.

Santos afirmou, por sua vez, que "todas as opções estão abertas. A OEA terá uma série de questões para estudar e analisar com especialistas".

Ignacio Cano, pesquisador do Laboratório de Análises da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, afirmou que se trata de uma decisão transcendente porque, "por 20 anos, este assunto foi praticamente proibido. Há cinco anos ex-presidentes começaram a falar deste tema e hoje são os presidentes em exercício que o fazem".

"A América Latina se tornou independente de um paradigma dos Estados Unidos", declarou, referindo-se às políticas contra as drogas determinadas por Washington. Ele acredita, no entanto, "que o caminho será longo, porque terá que denunciar convenções internacionais".

Santos elogiou a "franqueza" dos debates da cúpula e disse que "ninguém se atrevia a colocar na mesa o tema das drogas".

Quem se atreveu foi o general Pérez Molina, eleito presidente da Guatemala no ano passado com a promessa de agir de forma dura contra o crime, e que, após assumir o cargo, propôs a legalização da produção, transporte e distribuição de drogas, como a forma mais eficaz de acabar com os cartéis que sangram a América Central e ameaçam suas economias e instituições.

Em entrevista à AFP durante a cúpula, Perez Molina disse que a guerra contra as drogas "não tem funcionado." "É uma guerra que, para ser franco, estamos perdendo", considerou. "Enquanto o mercado negro existir e os dólares e as armas continuarem a chegar dos Estados Unidos, como tem acontecido, esta guerra será impossível de vencer", declarou.

Perez Molina foi o primeiro presidente que ousou propor em praça pública a descriminalização das drogas. Os Estados Unidos tentaram, sem sucesso, dissuadir a Guatemala.

Por outro lado, Santos e a presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, curvaram-se à iniciativa de discutir alternativas para a guerra contra as drogas.

O ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, César Gaviria da Colômbia e Ernesto Zedillo e Vicente Fox do México, já apoiam a descriminalização há cinco anos.

Mas, surpreendentemente, quem rejeitou a iniciativa da Guatemala foram os presidentes de esquerda de El Salvador, Mauricio Funes, da Nicarágua, Daniel Ortega, e de Honduras, Porfirio Lobo, a mando de Washington, segundo o presidente guatemalteco.

Pérez Molina não conseguiu reuni-los na cúpula centro-americana realizada em março em Antigua Guatemala, nem no evento de Cartagena.

A América Central sofre com os estragos provocados pelos cartéis de drogas, que depois da guerra na Colômbia, com a ajuda dos Estados Unidos, em 2000, e da lançada no México pelo presidente Felipe Calderón nos últimos cinco anos, encontraram nesta região um novo território para encaminhar a cocaína da Colômbia e do Peru para os Estados Unidos.

Somente em 2011, 20 mil pessoas morreram na violência relacionada às drogas na região, que tem 40 milhões de habitantes.

"Para a Costa Rica, o caminho não é a guerra contra as drogas, porque não temos exército e não estamos dispostos a nos engajar neste comboio de destruição, de militarismo, de gastos exorbitantes, que desvia os Estados de seus esforços para investir na sociedade", disse Chinchilla ao jornal El Tiempo.

Os países da ALBA, a aliança de esquerda liderada por Cuba e Venezuela, ficaram longe deste debate e concentram todas as suas forças sobre a inclusão de Havana na Cúpula das Américas.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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