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Ásia

Mulheres sofrem com estupro e bigamia no Nepal

7 abr 2012 - 10h00
(atualizado às 10h47)
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A ambivalência do hinduísmo tradicional perante a feminilidade e um patriarcado bem arraigado à sociedade são os fatores que explicam a violência contra as mulheres do Nepal, vítimas de crimes como estupro e bigamia. Embora no hinduísmo mulheres e homens sejam consideradas "metades complementares", e exista uma importante corrente que exalta o poder criativo feminino, o "shakti", o marido é um "deus" para sua esposa.

Chandra Bahadur Dangi dizia ter 56 cm e acreditava ser o homem mais baixo mundo. Para provar que estava certo, se submeteu a medições pelos auditores do livro de recordes Guinness World Records, que comprovou que o nepalês de 72 anos na realidade tem 54,6cm, e é realmente o menor ser já registrado na história
Chandra Bahadur Dangi dizia ter 56 cm e acreditava ser o homem mais baixo mundo. Para provar que estava certo, se submeteu a medições pelos auditores do livro de recordes Guinness World Records, que comprovou que o nepalês de 72 anos na realidade tem 54,6cm, e é realmente o menor ser já registrado na história
Foto: AFP

"Os postulados religiosos que continuam na mentalidade do povo são um dos fatores que incentivam a violência contra a mulher", disse à Agência Efe a ativista pela igualdade de gênero Bandana Sharma. No Nepal há mulheres que seguem sofrendo abusos, maus-tratos físicos e psicológicos, bigamia - aceita quando a primeira esposa de um homem é incapaz de ter filhos -, e acusações de bruxaria.

"As indigentes idosas são acusadas de bruxaria e submetidas à violência porque em nossa cultura, sobretudo no sul do Nepal, existe a tradição de atribuir as desgraças à ação de alguma bruxa", acrescentou Bandana. O problema da violência sexual voltou à tona no Nepal recentemente, com a apresentação do estudo "Justiça Revelada: falam as sobreviventes de estupros", que evidencia a falta de proteção das nepalesas.

Muitas entrevistadas alegaram que a violência ocorre porque há homens que veem as mulheres como "meros objetos, cidadãs de segunda classe", e que os abusos são um ato "natural" para homens jovens e sexualmente agressivos. "A mentalidade patriarcal é a razão principal para que a violência contra a mulher continue. No Nepal há uma cultura de silêncio pela falta de apoio e a dificuldade de recorrer ao sistema legal", afirmou à Efe a chefe do estudo, Bindu Gautam.

Bindu contou que a polícia nem sempre investiga as denúncias de estupro, e que muitas violentadas não se atrevem a falar do fato porque é a própria vítima é a culpada e, frequentemente, os agressores fazem parte de seu convívio. Os ativistas, no entanto, consideram que a situação melhorou nos últimos anos e que a conscientização pública cresce cada vez mais neste país do Himalaia, onde três quartos da população pregam o hinduísmo.

O Nepal acaba de pôr fim a uma campanha de cem dias contra a violência sexual, que contou com apoio do primeiro-ministro, Baburam Bhattarai, e em que os ativistas se reuniram com funcionários de todos os distritos do país.

É difícil quantificar os crimes em um país com a precariedade administrativa do Nepal, embora a polícia registre 486 estupros no país em 2010, número superior à média de 433 para o período 2007-2010. A causa mais comum de violência são os maus-tratos domésticos, embora também sejam registrados casos relativos à posse de terras e imóveis e, no distrito de Dang, as mulheres enfrentam a aceitação social da bigamia.

"Os homens não recorrem à bigamia para ter filhos. Voltam a se casar por prazer", afirmou à Efe a ativista Nirmala Bagchand, da Associação dos Defensores dos Direitos Humanos das Mulheres. O Nepal aprovou há quatro anos uma lei de violência doméstica, mas os ativistas denunciam que a implementação não foi adequada e é muito branda, porque se centra na reconciliação do casal e as penas são de pouca duração.

Um agressor, de acordo com a advogada Sanu Laxmi Gahsi, pega uma pena de seis meses, enquanto um polígamo uma condenação máxima de três anos, e não existem disposições especiais para as vítimas nem para as ativistas que lutam para desfazer a mentalidade patriarcal. "Já recebi ameaças de morte e disseram que atearão fogo na minha casa", contou Nirmala Bagchand.

EFE   
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