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Ásia

Filipinos celebram Sexta-Feira Santa com crucificações

6 abr 2012 - 09h48
(atualizado às 11h46)
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Os fanáticos católicos filipinos protagonizaram nesta Sexta-feira Santa uma série de exibições de delírio religioso no dia em que o mundo cristão recorda a crucificação de Jesus Cristo. As violentas crucificações são malvistas pela hierarquia da Igreja católica, mas acabaram se convertendo numa mórbida atração turística.

Religioso é preso em cruz de madeira com pregos de 10 cm na cidade filipina de Paombong
Religioso é preso em cruz de madeira com pregos de 10 cm na cidade filipina de Paombong
Foto: AP

O curandeiro Arturo Bating, de 44 anos, estendeu seus braços e manteve uma calma estoica enquanto seus vizinhos o levantavam numa cruz de madeira sobre um montículo de areia e depois cravavam pregos de 10 centímetros em suas mãos. "Esta é uma promessa que fiz a Deus para que ele proteja minha família das enfermidades", declarou à AFP o penitente, vestido com uma bata branca, ao término de sua provação que durou vários minutos e foi acompanhada por dezenas de pessoas. "Foi um pouco doloroso, mas suportável", acrescentou Bating, que se submeteu ao suplício pela primeira vez, mas tem a intenção de repeti-lo todos os anos.

Outros dois devotos foram imediatamente pregados na cruz na aldeia de San Juan, periferia da cidade de San Fernando (norte). Alex Laranang, de 57 anos, declarou à AFP que se faz crucificar todos os anos durante os 12 últimos anos. Como Bating, afirmou que a dor física era um inconveniente menor. "Quase não senti dor. Os nervos estavam mortos", afirmou. "Depois disso, vou para minha casa, comer e dormir. Dois dias depois, volto para o trabalho", acrescentou.

Na vizinha aldeia de San Pedro Cutud, os dirigentes locais disseram que cerca de 20 penitentes seriam crucificados durante o dia. Uma mulher e quatro homens, incluindo dois que passariam pela experiência pela primeira vez, também se dispunha a ser crucificados nesta sexta-feira, na cidade de Paombong, norte de Manila, segundo um funcionário da prefeitura, Reynaldo Sulit.

O arcebispo José Palma, presidente da Conferência de Bispos Católicos das Filipinas, disse, o início da semana, que apesar de a Igreja católica não incentivar esta forma extrema de adoração, também não recrimina os que a praticam. "Nós não julgamos nem condenamos, mas não incentivamos esta prática", afirmou monsenhor Palma à rádio católica Veritas.

A crucificação é a forma mais macabra, porém não a única, de extrema penitência praticada nas Filipinas, o país mais católico da Ásia, onde esta Igreja tem 75 milhões de fieis. Muitos filipinos realizam atos de piedade mais práticos, como visitar várias igrejas a pé para orar durante a Quinta e a Sexta-feira Santa.

No entanto, dezenas de homens católicos descalços e usando capuzes negros se chicoteiam com um bambu nas costas até sangrar percorrendo as ruas das cidades. Em Paombong, cerca de mil espectadores esperavam pacientemente para ver as crucificações sob o sol tropical. "Aqui as pessoas seguem suas crenças. Não devemos criticá-las", afirmou Sulit, um funcionário local que supervisiona a cerimônia em nome do governo municipal.

Camilla Kozinska, uma fotógrafa independente polonesa, disse se sentir fascinada e repugnada, ao mesmo tempo, ao assistir as crucificações junto a três mil espectadores filipinos e estrangeiros. "É sangue demais", declarou a católica de 29 anos à AFP. "É uma experiência nova para mim".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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