Instituição sunita deixa a Assembleia Constituinte egípcia
O Al-Azhar, a mais prestigiada instituição do islã sunita, com sede no Egito, anunciou nesta quinta-feira sua retirada da comissão encarregada de elaborar a nova Constituição egípcia por considerar que não está representada de modo adequado nela. A decisão, similar à tomada pelos partidos liberais, foi divulgada após uma reunião no Cairo presidida pelo grande ímã da instituição religiosa, o xeque Ahmed al Tayyip.
Em comunicado recolhido pela agência oficial egípcia Mena, o Al-Azhar expressou "sua reserva por não ter uma representação adequada", o que "marginaliza seu papel em uma causa nacional transcendental como é a preparação do projeto da Constituição". O ex-mufti do Egito, Nasr Farid Wasel, e o intelectual islâmico Mohammed Emara foram os representantes de Al-Azhar escolhidos para fazer parte da Assembleia Constituinte.
A instituição religiosa destacou em sua nota "seu protagonismo no debate de assuntos importantes para a sociedade e seus eventos políticos e sociais". Nesse sentido, lembrou que elaborou um documento em agosto do ano passado que contou com o apoio da maioria das correntes e que defende que o Egito seja um Estado civil e não religioso, aberto a todos os componentes da sociedade egípcia.
Por outro lado, a Igreja Copta emitiu um comunicado no qual criticou o sistema usado para escolher a comissão, formada por 100 membros, metade deles membros do Parlamento, que está controlado pelos grupos islamitas. Para a Igreja, a Assembleia Constituinte não representa todos os setores da sociedade egípcia, entre eles as mulheres e os cristãos.
Ontem, a primeira sessão da assembleia foi boicotada por um quarto de seus 100 membros, entre eles integrantes de forças liberais como o partido Al Wafd e o representante do Tribunal Constitucional. A sessão inaugural aconteceu em meio à polêmica sobre a formação de dita comissão, dominada pelo Partido Liberdade e Justiça (PLJ, braço dos Irmãos Muçulmanos) e o grupo salafista Al Nouri.
A redação da Carta Magna é um dos passos fundamentais no processo de transição iniciado no Egito, que deverá ser coroado com a eleição de um novo presidente da República, nas eleições convocadas para os próximos dias 23 e 24 de maio.