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Mundo

Comissão culpa Otan e outros países por mortes em fuga da Líbia

29 mar 2012 - 12h04
(atualizado às 12h34)
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Uma comissão do Conselho da Europa responsabilizou nesta quinta-feira a Otan e vários países por "erros" que causaram no ano passado a morte de 63 imigrantes a bordo de um navio que partiu da Líbia durante o conflito no país. "Houve erros em diferentes níveis e foram perdidas muitas oportunidades de salvar as vidas das pessoas a bordo do navio", diz um relatório apresentado nesta quinta-feira como anotação final a uma investigação de nove meses sobre o fato.

Entre aqueles que poderiam ter feito mais para resgatar os náufragos, o texto aponta diretamente a guarda-costeira italiana e navios militares da Otan que estavam na região, como a fragata espanhola Méndez Núñez, já que a Aliança executava o bloqueio naval sobre a Líbia neste momento.

A encarregada da investigação, a senadora holandesa Tineke Strik, fez nesta quinta-feira em Bruxelas uma reconstrução do acontecimento desde que no dia 26 de março de 2011 a embarcação partiu de Trípoli com 72 pessoas a bordo (principalmente subsaarianos, como eritreus e etíopes) até que duas semanas depois, empurrada pelas correntes, retornou ao litoral líbio. Até então, havia apenas 9 sobreviventes, depois que o navio sofreu danos e seus pedidos de socorro foram aparentemente ignorados por "navios pesqueiros, um helicóptero militar e um grande navio militar".

"As pessoas envolvidas nesta tragédia poderiam ter sido resgatadas se todos os envolvidos tivessem cumprido com suas obrigações", diz o texto redigido por Strik. Segundo o relatório, às 18 horas de zarpar, quase sem combustível, comida e água, o capitão da embarcação pediu socorro através de um telefone via satélite.

O Centro de Coordenação Marítima italiano foi imediatamente informado e emitiu um amplo número de alertas a navios que estavam na área e ao comando da Otan para que buscassem a embarcação. Segundo Strik, nas primeiras horas um helicóptero militar e vários navios pesqueiros viram a embarcação dos imigrantes e não fizeram nada.

Posteriormente, após vários dias à deriva e quando um grande número de passageiros já tinha morrido, uma grande embarcação militar sem identificação e com aeronaves a bordo se aproximou do navio, mas também não o recuperou. A senadora holandesa lembrou que vários navios da Otan estavam na região, entre eles o espanhol Méndez Núñez, que estaria a uma distância de 11 milhas marítimas, uma informação que as autoridades espanholas rejeitam, afirmou.

Segundo Strik, o governo espanhol disse que não recebeu nenhuma informação sobre o navio com problemas, enquanto a Aliança Atlântica diz que direcionou um aviso a todos os seus navios. Em informação concedida pelo Ministério da Defesa à senadora, a Espanha explica, além disso, que o helicóptero que se encontrava a bordo do Méndez Núñez também não viu o navio.

"As autoridades espanholas reiteram que todos os navios espanhóis são conscientes de suas obrigações sob as leis do mar, incluindo aquelas relativas à assistência a pessoas ou navios em problemas e lembram que durante a Operação Protetor Unificado a fragata espanhola Méndez Núñez ajudou ativamente muitas embarcações", disse o Governo em seu comunicado. O relatório do Conselho da Europa critica a Otan por sua atuação no fato e também por não ter previsto a saída de pessoas da Líbia por mar durante o conflito.

A comissão do Conselho da Europa pede à Aliança uma investigação interna sobre o assunto, assim como processos parlamentares nos países que possam estar envolvidos. Um porta-voz da Otan afirmou que a Aliança recebeu no dia 27 de março do ano passado um aviso geral das autoridades italianas sobre um navio que poderia estar em dificuldades, uma mensagem que enviou a todos os navios da organização presentes na zona. "Embora não tenhamos registro de que nenhuma aeronave ou embarcação da Otan tivesse visto ou feito contato com esse navio, a Otan realizou outras operações de resgate nessa região e nessa época, e recuperou centenas de pessoas", lembrou.

EFE   
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