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Oriente Médio

EUA e oposição síria veem com ceticismo o recuo de Assad

28 mar 2012 - 10h57
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A oposição síria manifestou ceticismo diante do anúncio de que o presidente Bashar al Assad teria aceitado um plano de paz proposto pelo enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe, Kofi Annan.

Luta por liberdade revoluciona norte africano e península arábica

"Nós não confiamos nesse regime", disse o líder oposicionista Waid Al-Buni em Istambul, nesta terça-feira. "Se ele Assad realmente está falando sério, deve pôr isso em prática amanhã. Amanhã não deve mais haver tanques nas ruas e os militares do regime sírio devem ter se retirado. Só amanhã veremos se o regime é realmente honesto", completou o líder da oposição.

Também a secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, disse que a aprovação do plano de paz deve ser acompanhada por ações imediatas, como um cessar-fogo. Quando questionada sobre a credibilidade das palavras de Assad, ela relembrou o histórico do líder sírio de "prometer muito e não cumprir com suas palavras".

"Vamos julgar a sinceridade e o compromisso de Assad pelo o que ele faz, não pelo que diz", afirmou Clinton, que, a exemplo da Liga Árabe e da Turquia, pressionou as várias alas da oposição síria a se unirem.

Outras nações ocidentais também receberam a notícia com cautela. O ministro britânico do Exterior, William Hague, disse em Londres que a aprovação do plano pode ser "o primeiro passo significativo" para acabar com a repressão. "Mas só se o gesto for realmente honesto", disse Hague. "Este não foi o caso com os compromissos anteriores do regime."

Oposição escolhe representante
Os grupos de oposição da Síria concordaram nesta terça-feira, numa reunião em Istambul, em nomear o Conselho Nacional Sírio (SNC) seu único representante. Segundo uma declaração divulgada ao final de um encontro de dois dias, "a conferência decidiu que o SNC é o interlocutor e representante formal do povo sírio".

Estavam presente no encontro cerca de 400 opositores do regime de Assad, que comprometeram-se com "uma reestruturação do SNC e a formação de uma comissão preparatória pra escrever um novo estatuto para o Conselho".

A grande maioria da oposição presente assinou a declaração, exceto alguns representantes sírios curdos insatisfeitos com a ausência de uma referência a um assentamento para eles.

Plano de paz
O enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe disse que seu plano consiste na retirada de artilharia pesada e das tropas nos centros populacionais, assistência humanitária sem restrições, liberação de prisioneiros, liberdade de movimento e livre acesso aos jornalistas.

As Nações Unidas estimam que mais de 9 mil pessoas foram mortas na Síria desde o início da repressão às manifestações oposicionistas, há pouco mais de um ano. As autoridades sírias culpam terroristas estrangeiros pela violência e pelas mortes de 3 mil soldados e policiais.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores, sem surtir grandes efeitos. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, as forças de Assad iniciaram uma investida contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. De acordo com cálculos de grupos opositores e das Nações Unidas, pelo menos 9 mil pessoas já morreram desde o início da crise Síria.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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