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Oriente Médio

Analistas: Hezbollah perde carisma com apoio ao regime sírio

23 mar 2012 - 08h03
(atualizado em 10/5/2013 às 15h39)
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Nos últimos anos, Hassan Nasrallah, o líder do grupo libanês Hezbollah, era tido como a grande estrela do mundo árabe, especialmente após a guerra de 2006 com Israel. Os libaneses se acostumaram a parar suas atividades e acompanhar os discursos do líder xiita pelo rádio ou televisão.

Os discursos do líder xiita Hassan Nasrallah costumavam despertar a atenção dos libaneses
Os discursos do líder xiita Hassan Nasrallah costumavam despertar a atenção dos libaneses
Foto: AFP

Mas, desde o início da Primavera Árabe, a onda de revoltas pela região, que culminou com a derrubada de regimes na Tunísia, Egito e Líbia ao longo do ano passado, e ainda provocou mudanças no Iêmen e o atual conflito na Síria, Nasrallah e Hezbollah deixaram de ter o apelo de antes.

Segundo a mídia libanesa, a falta de coerência do grupo e seu líder, quando apoiaram as revoltas populares no Egito, Tunísia e Líbia, mas se opuseram contra as manifestações pró-democracia na Síria, o Hezbollah vem perdendo apoio até de sua comunidade xiita no Líbano.

Segundo escreveu certa vez um colunista de um jornal libanês, "uma frase de Nasrallah podia mudar a vida política do Líbano e deixar preocupados governos da região. Ele tem a admiração de amigos e até de alguns de seus inimigos. Sua retórica agrada às massas árabes e, sem dúvida alguma, ele é uma estrela do mundo árabe".

Isso parece ter mudado recentemente. "Já faz ao menos um ano que os discursos de Nasrallah não fazem a menor diferença, as pessoas não ligam mais para o que ele tem a dizer", escreveu Hanin Ghaddar, editor-chefe do Now Lebanon, site de notícias políticas, e grande crítico do Hezbollah.

A posição do grupo militante xiita em relação ao levante popular na Síria foi repetir o discurso do presidente sírio Bashar al-Assad, de que o governo combatia "terroristas e gangues armadas". "Ele (Nasrallah) foi mais além, chegou a criticar os jovens sírios que foram às ruas, que protestavam pacificamente e morriam nas mãos das forças de segurança, acusando-os de serem agentes americanos e israelenses", disse o analista independente libanês Mohamed Ghobeiry.

A Síria, ao lado do Irã, é o grande aliado do Hezbollah no Oriente Médio, e segundo os Estados Unidos e outros governos ocidentais, fornece armamentos e apoio logístico ao grupo libanês.

Sem credibilidade

Segundo Hanin Ghaddar, do Now Lebanon, os líderes do Hezbollah devem se mostrar preocupados à medida que o regime em Damasco mostra sinais de que pode cair. "A queda do regime sírio o é o maior problema para o Hezbollah, mas, domesticamente, sua aura vem se apagando. O partido não tem mais aquele apelo de antes", escreveu ele em sua coluna.

Ghaddar cita a falta de interesse dos libaneses em geral com os discursos recentes de Hassan Nasrallah como indício da perda de credibilidade do Hezbollah por mostrar dois pesos e duas medidas em relação aos levantes populares na Síria comparados com de outros países árabes.

"Mesmo os críticos de Nasrallah paravam para escutá-lo e suas palavras faziam as manchetes da imprensa local. Hoje, poucos se dão ao trabalho para acompanhar o que ele diz por duas razões - uma, é que ele tem pouco de novo a dizer, e duas, Nasrallah parece não ser capaz de entender as transformações que estão ocorrendo na região, mantendo, portanto, suas mesmas retóricas e teorias".

Para o analista Mohamed Ghobeiry, mesmo a comunidade xiita no Líbano parece passar por uma fase de "decepção" com o Hezbollah. "Seus seguidores se deram conta de que o partido não pode pregar a luta armada contra Israel, a quem acusa de matar civis palestinos com sua ocupação militar, e dar apoio a um regime que reprime e usa tanques contra sua própria população", disse.

O analista acredita que o partido ainda tenha credibilidade junto aos seus eleitores pois oferece uma agenda social e econômica. "Mas o Hezbollah precisa se reinventar, refletir sobre as mudanças na região e se adaptar a elas. Nesse sentido, outro aliado da Síria o grupo palestino Hamas, saiu na frente e tenta redefinir suas estratégias regionais, inclusive se afastando de Damasco. Resta ao grupo libanês fazer o mesmo".

Popularidade em baixa

Hanin Ghaddar também citou o cenário político interno do Líbano para mostrar como o Hezbollah também passa por uma fase de popularidade baixa e perda de aliados políticos.

"O atual governo é controlado pelo Hezbollah. Mas, hoje, o primeiro-ministro Najib Mikati não pode mais ser considerado um fantoche do grupo xiita. Ele vem se distanciando, inclusive dando apoio a refugiados sírios no norte do Líbano e mostrou seu apoio ao tribunal internacional que investiga a morte do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri. Um tribunal que sofre rejeições do Hezbollah", salientou Ghaddar.

"Além disso, o líder druso, Walid Jumblatt, que em 2010 se aliou ao Hezbollah e se reaproximou da Síria, já vem denunciando o regime em Damasco e deu entrevistas dizendo que o fim estava próximo para o governo sírio. Certamente é uma posição claramente contrária ao Hezbollah", completou.

Para outro analista, Hani Haddad, da Universidade Libanesa, o Hezbollah ainda tem forte apelo no Líbano, mas, no momento, as revoluções no mundo árabe ofuscam sua mensagem. "Não acho que grupo menos popular hoje em dia. O que acho é que os libaneses estão amis interessados com o que acontece no país vizinho, a Síria, e na região de um modo geral. As manchetes são mais direcionadas à Primavera Árabe", disse.

Haddad alertou que o partido ainda possui forte influência na vida política do Líbano, mesmo que em nível regional, seu apelo certamente se reduziu. "Mas para os libaneses, o partido ainda é um personagem de suam importância. Possui armas e poder sobre as instituições do estado libanês", enfatizou Haddad.

"Há indiscutivelmente muitas ameaças sérias ao seu poder atualmente. Mas só o tempo dirá se o Hezbollah deixará sua estrela se apagar, ou se tomará novos rumos para se adaptar aos novos tempos no mundo árabe".

Fonte: Especial para Terra
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