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Oriente Médio

Prisão israelense traumatiza crianças palestinas, diz relatório

13 mar 2012 - 20h13
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Das centenas de crianças palestinas detidas nas cadeias israelenses todos os anos, a grande maioria sofre com pesadelos, enurese noturna e ansiedade após a libertação, informou a organização Save the Children em um relatório divulgado na segunda-feira.

A organização disse que, desde o ano 2000, o Exército israelense deteve mais de 8 mil crianças palestinas na Cisjordânia ocupada e processou crianças de até 12 anos em tribunais militares, a maioria delas suspeitas de jogar pedras.

Noventa e oito por cento das crianças detidas relataram ter sido submetidas a violência, seja física ou verbal, pelos soldados israelenses, disse o assessor da instituição Eyad al-Araj em uma entrevista coletiva na Cisjordânia -- uma provação que deixa cicatrizes psicológicas em quase todos eles.

"Mais de 90 por cento dessas crianças sofriam de transtorno de estresse pós-traumático", disse Al-Araj.

O relatório sobre a detenção de palestinos abaixo de 18 anos pelos israelenses baseia-se em uma pesquisa com 292 crianças que foram detidas e depois libertadas por Israel.

No ano passado, 2.301 crianças foram levadas sob custódia, em comparação com as 3.470 de 2010, de acordo com os dados coletados pelo grupo de direitos humanos palestino Defence for Children International (DCI). Atualmente há 170 menores palestinos nas prisões israelenses, disse o DCI.

"A detenção tem um impacto devastador sobre as crianças, sobre as famílias delas e sobre as sociedades", afirmou o relatório.

"As crianças sofrem os efeitos, incluindo transtorno do estresse pós-traumático, medo de sair de casa, além dos sintomas psicológicos, como ataques de ansiedade e pesadelos. As famílias tornaram-se superprotetoras e não deixam as crianças saírem de casa", disse o texto.

TRIBUNAIS MILITARES

O Exército israelense diz que atirar pedras é uma infração grave capaz de ferir ou matar.

"Os meninos palestinos, por vezes de 13 ou 14 anos, atiram pedras com as mãos ou com estilingues contra carros israelenses ou veículos do Exército", disse Arye Shalitar, porta-voz militar israelense.

"Parece que as Forças de Defesa de Israel apenas estão prendendo crianças, mas as pessoas não entendem que essas crianças são muito violentas. Em vez de jogar futebol, elas colocam em risco a vida de israelenses."

Na entrevista coletiva, Saudamini Siegrist, chefe do programa de proteção infantil do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), criticou o uso de tribunais militares em Israel para julgar menores palestinos.

"Em nenhum outro lugar as crianças são sistematicamente julgadas perante cortes e tribunais militares, tão inapropriados à proteção de seus direitos", disse ele.

Ahmad Dsouqi disse ter sido preso em casa no campo de refugiados de Jalazon, perto de Ramallah, em uma operação noturna no ano passado. Na época ele tinha 16 anos.

"Um grande grupo de soldados israelenses armados irrompeu em nossa casa, me acordou e me arrastou da cama. Eles me algemaram, vendaram meus olhos e me colocaram no jipe deles", Dsouqi disse à Reuters.

Durante longos interrogatórios, ele foi espancado, não tinha autorização para sair e ao final foi forçado a confessar que jogou pedras nos soldados israelenses, afirmou ele.

"Os interrogadores me deixavam na sala de interrogatório sozinho, algemado, por longos períodos, para me pressionar a confessar."

Dsouqi foi condenado a 18 meses de prisão, mas cumpriu apenas metade da pena. Ele foi libertado em uma troca de prisioneiros.

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