Um ano após tsunami, Japão encara desafio de reconstruir cidades
10 mar2012 - 14h34
(atualizado em 11/3/2012 às 14h53)
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O Japão prepara-se para lembrar neste domingo o primeiro aniversário do grande terremoto e posterior tsunami que devastaram o nordeste do país no dia 11 de março de 2011, diante da indefinição sobre os planos urbanísticos de reconstrução e o futuro de aproximadamente 300 mil pessoas que deixaram ou perderam suas casas.
Todas as cidades litorâneas das províncias de Iwate, Miyagi e Fukushima celebrarão neste domingo homenagens aos quase 20 mil mortos e desaparecidos da catástrofe e se unirão, em um minuto de silêncio, às 14h46 locais (2h46 de Brasília), mesmo horário do terremoto de 9 graus na escala Richter.
O mesmo será feito em Tóquio, onde se convocou uma grande cerimônia da qual participarão, entre outros, o imperador Akihito e o primeiro-ministro Yoshihiko Noda.
Neste sábado, as cidades mais abaladas pelo desastre, como Onagawa e Ishinomaki, receberam mais ônibus com visitantes de diversos pontos do país que planejam comparecer aos atos oficiais, apesar das possíveis nevascas e temperaturas abaixo de zero esperadas para domingo na região.
Outros, que tiveram algum familiar entre os mortos, se deslocaram à região para participar dos ritos que quase todos os templos e santuários do nordeste devem organizar em homenagem às vítimas do 11 de março.
Em meio às cerimônias relacionadas ao aniversário, muitas cidades continuavam neste sábado com os trabalhos de limpeza de escombros, pois, segundo estimativas, ainda restam 6 milhões de toneladas de resíduos a serem recolhidas, das cerca de 22 milhões deixadas pelo tsunami.
Na vila pesqueira de Ogatsu, onde cerca de 200 pessoas morreram, os poucos moradores que permaneceram puderam finalmente observar, neste sábado, a retirada de um ônibus tombado sobre o teto de um ginásio esportivo que havia se transformado na triste estampa do local durante quase um ano.
No entanto, retirar até o último dos escombros não bastará para esclarecer o destino das 330 mil pessoas removidas da região da tragédia e que ainda vivem em casas temporárias e apartamentos de aluguel em todo o nordeste japonês.
Parte dos 80 mil desalojados por conta do acidente na usina nuclear de Fukushima não sabem se algum dia poderão retornar a suas casas, enquanto uma porção dos desabrigados - que perderam as casas pelo tsunami - se debate entre permanecer na região ou se mudar definitivamente.
De qualquer maneira, nenhuma prefeitura aprovou ainda a reconstrução dos bairros situados em zonas de risco junto ao mar e que devem ser transferidos a terrenos mais altos, pois a complicada geografia da região obriga a aplainar enormes superfícies, o que dispara os custos.
Além disso, alguns grupos são reticentes a reconstruir as pequenas localidades que, devido ao progressivo despovoamento do entorno rural, diminuíram nas últimas décadas, pois consideram que reerguer o município com um projeto mais centralizado economiza custos e garante sua sobrevivência.
Até um ex-prefeito de Onagawa, Nobutaka Azumi, chegou a dizer que não faria sentido recompor pequenas vilas afastadas onde só vivem idosos e que já estão condenadas a desaparecer.
"No caso das famílias jovens, muitos querem ir embora ou estão pensando nisso. Principalmente mães e crianças querem partir, porque têm medo", ressalta em declarações à Agência Efe o morador Noboru Masaki, um caminhoneiro de 63 anos que perdeu sua casa em Ishinomaki e agora vive com parentes.
"Para os jovens, é mais fácil fazer um novo começo, mas para as pessoas da minha idade não. Para nós, o 'jimoto' (cidade natal, em japonês) é o 'jimoto'", acrescenta.
O argumento de Noboru se reflete na redução demográfica registrada na costa nordeste do Japão nos últimos 12 meses, e é especialmente grave nas cidades mais devastadas, como Onagawa, Minami Sanriku e Rikuzentakata, onde a população decresceu 10% ou mais, segundo dados obtidos pela agência de notícias Kyodo.
Isso representa uma significativa queda nas receitas dos cofres públicos desses municípios e se soma ao fato de que muitas empresas locais afetadas pelo tsunami, que seriam o pilar da reconstrução, ainda não puderam retomar suas atividades.
Calcula-se que, dos 27 mil negócios afetados pelo desastre, mais de 20% ainda não reataram suas operações, e cerca de 1.750 já anunciaram que pretendem fechar.
Homem caminha em um memorial em homenagem às vítimas do terremoto seguido de tsunami em Fukushima
Foto: Reuters
No Japão, homem caminha pela área de Hiyori Yama para rezar pelas vítimas da tragédia, mais de 19 mil, na região atingida por um terremoto seguido de um tsunami, em 11 de março de 2011. A costa nordeste do país asiático sofreu os maiores abalos da história do país, 8,9 graus na escala Richter, e os tremores causaram tsunamis que devastaram a região. A usina nuclear de Fukushima Daiichi também foi afetada por um dos terremotos subsequentes
Foto: AP
Tsunami arrastou navio pesqueiro Kyotoku Maru Nº 18 por 800 m no porto de Kesennuma, na província de Miyagi, onde permanece até hoje
Foto: AP
Em uma cerimônia em Ofunato, em Iwate, retrato de homem morto nas tragédias é visto entre itens que homenageiam as vítimas japonesas
Foto: Reuters
Koyu Morishita faz pausa de silêncio em frente ao túmulo de seu pai, Tokusabro, morto aos 84 anos durante o terremoto seguido de tsunami, em Ofunato, Iwate
Foto: Reuters
Ativista usa máscara de Barack Obama, presidente dos EUA, e faz gestos em referência ao Encontro de Segurança Nuclear, que acontece em Seul dias 26 e 27 de março
Foto: AP
Na véspera do aniversário de um ano da tragédia japonesa, alunos de Banda Aceh, na província de Aceh, escreverem mensagens nas flores
Foto: AP
Jardim de flores de papel foi criado durante atividade para rezar pelas vítimas do Japão
Foto: AP
Na Coreia do Sul, menina participa de encontro em homenagem ao primeiro aniversário do desastre nuclear de Fukushima
Foto: AP
Estudantes da Indonésia criam jardim com flores de papel para homenagear as vítimas do terremoto seguido de tsunami que assolou a costa japonesa
Foto: AP
Com velas, as vítimas da tragédia também foram lembradas em Nova York, nos Estados Unidos
Foto: Reuters
Jovens japonesas usaram máscaras para protestar contra a energia nuclear durante as homenagens às vítimas
Foto: Reuters
Foto: Terra
Família reza diante do que sobrou de um centro de controle em área devastada em Minamisanriku, na prefeitura de Miyagi
Foto: AP
Tomoe Kimura, uma pessoa evacuada da cidade de Okuma, veste roupas de proteção durante rápida visita em área proibida ao redor da usina de Fukushima
Foto: Reuters
Familiares oram por avó morta após o terremoto que atingiu a cidade de Ishinomaki, na prefeitura de Miyagi
Foto: Reuters
Pessoas se dão as mãos em homenagem às vítimas da tragédia que atingiu o país há 1 ano em Minamisanriku, prefeitura Miyagi
Foto: AP
Moradores evacuados depositam flores em visita a área proibida na cidade de Okuma
Foto: Reuters
Moradores vestem roupas especiais para participar de cerimônia em região próxima à usina de Fukushima
Foto: Reuters
Pessoas fazem um minuto de silêncio nos arredores do Teatro Nacional de Tóquio, onde foi realizada uma cerimônia em homenagem às vítimas do desastre, com a presença do imperador Akihito e do primeiro-ministro Yoshihiko Noda
Foto: Reuters
Dezenas fazem um minuto de silêncio exatamente às 2h46, momento em que o terremoto atingiu o país, na cidade de Koriyama, prefeitura de Fukushima
Foto: Reuters
População de Minamisanriku se reúne ao redor de centro de controle que resistiu aos estragos do terremoto e tsunami que atingiram a cidade há 1 ano
Foto: AP
Parentes de vítimas depositam flores em altar do memorial realizado no Teatro Nacional de Tóquio
Foto: AFP
O imperador Akihito e a imperatriz Michiko prestam suas homenagens às vítimas
Foto: AFP
Moradores de Rikuzentakata, na prefeitura de Iwate, uma das mais atingidas pelo desastre, assistem ao discurso do imperador Akihito durante cerimônia em Tóquio
Foto: AFP
O primeiro-ministro Yoshihiko Noda também discursou durante a cerimônia, prometendo acelerar ao máximo reconstrução do Japão
Foto: AFP
Em Yuriage, distrito de Natori, em Miyagi, memorial às vítimas do terremoto e tsunami na corta nordeste japonesa há exatamente um ano tem velas que escrevem "Kizuna" (símbolo chinês que significa 'laço') e "3.11" (em referência à data dos desastres)
Foto: AFP
Manifestantes em protesto contra política de energia nuclear japonesa seguram velas e fazem corrente humana em frente ao prédio da câmara legislativa, em Tóquio
Foto: AFP
Wakana Kumagaim, de 7 anos, e sua mãe, Yoshiko, choram ao visitar local em que ficava sua casa, em Higashimatsushima, Miyagi, antes de ser levada pelo tsunami que se seguiu ao terremoto do ano passado
Foto: Reuters
Cerca de 3 mil velas com mensagens escritas principalmente por crianças iluminam parque em Koriyama, em Fukushima, em homenagem às 19 mil vítimas dos desastres de 11 de março de 2011
Foto: AFP
Em Paris, estilista Kenzo acompanha minuto de silêncio pelas vítimas japonesas
Foto: Reuters
No dia do primeiro aniversário dos desastres, manifestantes usam máscaras em protesto contra o uso de energia nuclear. Ação é em Tóquio, em frente à Tepco, companhia que controla as usinas de Fukushima, afetas pelos fenômenos naturais e responsáveis pela maior crise nuclear desde Chernobyl
Foto: AFP
Um culto budista ecumênico foi realizado em São Paulo para marcar um ano da tragédia no Japão
Foto: Reuters
Em São Paulo, as homenagens foram marcadas por orações às vítimas da tragédia
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Descendentes de japoneses se emocionaram durante a celebração na Liberdade, tradicional bairro japonês de São Paulo
Foto: Reuters
No dia que marca um ano da tragédia em Fukushima, no Japão, ativistas foram às ruas do Rio de Janeiro para cobrar da presidente Dilma Rousseff o fim da energia nuclear no Brasil
Foto: AP
Além das homenagens às vítimas no Japão, no Brasil ativistas protestaram contra a energia nuclear por causa do acidente em Fukushima
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No Rio de Janeiro, a mobilização ocorreu em Ipanema, na zona sul da capital, e reuniu cerca de 40 pessoas
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Foto: Terra
Familiares e amigos de vítimas do terremoto e tsunami que atingiu o Japão em março de 2011 lançam flores no Oceano Pacífico durante cerimônia que lembrou da tragédia