Polêmica sobre gestão da crise nuclear segue viva no Japão
10 mar2012 - 10h25
(atualizado em 11/3/2012 às 14h54)
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Na véspera do aniversário de um ano do acidente na usina de Fukushima, a polêmica sobre a gestão da crise nuclear permanece presente no Japão, enquanto o país ainda tenta delinear um plano energético para reduzir sua dependência às centrais atômicas.
Neste domingo, os habitantes da província de Fukushima lembrarão o aniversário da catástrofe com as atenções voltadas à usina de Daiichi, onde cerca de 3 mil operários ainda trabalham na tentativa de encerrar a crise iniciada em 11 de março de 2011, consequência do forte terremoto e posterior tsunami que devastaram o nordeste do Japão.
Naquele dia fatídico, após o alarme nuclear, o governo determinou o esvaziamento da região num raio de três quilômetros em torno da usina. Um dia depois, o raio foi ampliado para dez quilômetros e, em seguida, para 20, enquanto o pânico à radiação se estendia e chegava até a capital do país, Tóquio, a mais de 200 quilômetros do local do acidente.
O sentimento de confusão, especialmente nos primeiros momentos, é uma das questões mais lembradas em Tóquio, motivo de inúmeras críticas ao então primeiro-ministro, Naoto Kan, que se viu forçado a renunciar em setembro, deixando o cargo ao atual chefe de governo, Yoshihiko Noda.
"Não sabíamos qual era o nível real de gravidade das usinas nucleares", lembra um ano depois o consultor mexicano Rodolfo González, morador de Tóquio que, naqueles dias, o que mais temeu foi uma possível onda de refugiados na região de Kanto e, sobretudo, em Tóquio, "o que felizmente não aconteceu".
Agora se sabe que, nos piores momentos da crise, o governo chegou a cogitar uma evacuação de Tóquio - metrópole com mais de 30 milhões de habitantes -, segundo o estudo publicado por um comitê independente no final de fevereiro.
Os especialistas concluíram que o próprio Naoto Kan causou uma "confusão desnecessária" ao se envolver ativamente na gestão da crise na usina de Fukushima, o que talvez tenha agravado a situação.
Ainda hoje, as 80 mil pessoas que tiveram de abandonar a zona de exclusão de 20 quilômetros em torno da usina consideram distante ou impossível a possibilidade de retorno, enquanto os trabalhos de descontaminação avançam com lentidão e, em Fukushima, ainda não há consenso sobre problemas como o armazenamento dos resíduos radioativos.
Em reunião com representantes dos municípios da região afetada, o governo central japonês pediu neste sábado que três cidades de Fukushima - Okuma, Futaba e Naraha - recebam os resíduos contaminados, com a promessa de retirá-los da província antes de 30 anos, mas não houve acordo, segundo a agência de notícias Kyodo.
Além do desafio de encerrar definitivamente a crise nuclear e desmantelar os reatores - algo que pode levar até 40 anos, segundo estimativas -, as autoridades japonesas ainda têm de elaborar um novo plano energético para o país, que antes do acidente em Fukushima obtinha um terço de sua energia das usinas nucleares.
Agora, apenas dois dos 54 reatores japoneses estão em funcionamento, enquanto os técnicos estudam a segurança das centrais. É possível que todos fiquem paralisados caso nenhum seja reativado até o próximo verão local (no meio do ano), mas o governo prevê tomar uma providência ainda neste semestre.
Em meio à crise, o governo japonês se comprometeu a buscar uma "menor dependência" da energia nuclear, com a promoção de outras fontes de energia, mas, por enquanto, não quantificou seus objetivos nem definiu um plano concreto para isso.
O fechamento definitivo das usinas atômicas é reivindicado pelo movimento antinuclear do Japão, que convocou para este domingo protestos em todo o país, o principal deles uma grande manifestação em Tóquio, que desembocará em uma cadeia humana ao redor do Parlamento.
Também está prevista uma concentração, embora minoritária, em frente ao escritório da empresa Tokyo Electric Power Company (Tepco) na capital japonesa, assim como na cidade de Koriyama, em Fukushima, onde se refugia parte dos refugiados pela radiação.
Homem caminha em um memorial em homenagem às vítimas do terremoto seguido de tsunami em Fukushima
Foto: Reuters
No Japão, homem caminha pela área de Hiyori Yama para rezar pelas vítimas da tragédia, mais de 19 mil, na região atingida por um terremoto seguido de um tsunami, em 11 de março de 2011. A costa nordeste do país asiático sofreu os maiores abalos da história do país, 8,9 graus na escala Richter, e os tremores causaram tsunamis que devastaram a região. A usina nuclear de Fukushima Daiichi também foi afetada por um dos terremotos subsequentes
Foto: AP
Tsunami arrastou navio pesqueiro Kyotoku Maru Nº 18 por 800 m no porto de Kesennuma, na província de Miyagi, onde permanece até hoje
Foto: AP
Em uma cerimônia em Ofunato, em Iwate, retrato de homem morto nas tragédias é visto entre itens que homenageiam as vítimas japonesas
Foto: Reuters
Koyu Morishita faz pausa de silêncio em frente ao túmulo de seu pai, Tokusabro, morto aos 84 anos durante o terremoto seguido de tsunami, em Ofunato, Iwate
Foto: Reuters
Ativista usa máscara de Barack Obama, presidente dos EUA, e faz gestos em referência ao Encontro de Segurança Nuclear, que acontece em Seul dias 26 e 27 de março
Foto: AP
Na véspera do aniversário de um ano da tragédia japonesa, alunos de Banda Aceh, na província de Aceh, escreverem mensagens nas flores
Foto: AP
Jardim de flores de papel foi criado durante atividade para rezar pelas vítimas do Japão
Foto: AP
Na Coreia do Sul, menina participa de encontro em homenagem ao primeiro aniversário do desastre nuclear de Fukushima
Foto: AP
Estudantes da Indonésia criam jardim com flores de papel para homenagear as vítimas do terremoto seguido de tsunami que assolou a costa japonesa
Foto: AP
Com velas, as vítimas da tragédia também foram lembradas em Nova York, nos Estados Unidos
Foto: Reuters
Jovens japonesas usaram máscaras para protestar contra a energia nuclear durante as homenagens às vítimas
Foto: Reuters
Foto: Terra
Família reza diante do que sobrou de um centro de controle em área devastada em Minamisanriku, na prefeitura de Miyagi
Foto: AP
Tomoe Kimura, uma pessoa evacuada da cidade de Okuma, veste roupas de proteção durante rápida visita em área proibida ao redor da usina de Fukushima
Foto: Reuters
Familiares oram por avó morta após o terremoto que atingiu a cidade de Ishinomaki, na prefeitura de Miyagi
Foto: Reuters
Pessoas se dão as mãos em homenagem às vítimas da tragédia que atingiu o país há 1 ano em Minamisanriku, prefeitura Miyagi
Foto: AP
Moradores evacuados depositam flores em visita a área proibida na cidade de Okuma
Foto: Reuters
Moradores vestem roupas especiais para participar de cerimônia em região próxima à usina de Fukushima
Foto: Reuters
Pessoas fazem um minuto de silêncio nos arredores do Teatro Nacional de Tóquio, onde foi realizada uma cerimônia em homenagem às vítimas do desastre, com a presença do imperador Akihito e do primeiro-ministro Yoshihiko Noda
Foto: Reuters
Dezenas fazem um minuto de silêncio exatamente às 2h46, momento em que o terremoto atingiu o país, na cidade de Koriyama, prefeitura de Fukushima
Foto: Reuters
População de Minamisanriku se reúne ao redor de centro de controle que resistiu aos estragos do terremoto e tsunami que atingiram a cidade há 1 ano
Foto: AP
Parentes de vítimas depositam flores em altar do memorial realizado no Teatro Nacional de Tóquio
Foto: AFP
O imperador Akihito e a imperatriz Michiko prestam suas homenagens às vítimas
Foto: AFP
Moradores de Rikuzentakata, na prefeitura de Iwate, uma das mais atingidas pelo desastre, assistem ao discurso do imperador Akihito durante cerimônia em Tóquio
Foto: AFP
O primeiro-ministro Yoshihiko Noda também discursou durante a cerimônia, prometendo acelerar ao máximo reconstrução do Japão
Foto: AFP
Em Yuriage, distrito de Natori, em Miyagi, memorial às vítimas do terremoto e tsunami na corta nordeste japonesa há exatamente um ano tem velas que escrevem "Kizuna" (símbolo chinês que significa 'laço') e "3.11" (em referência à data dos desastres)
Foto: AFP
Manifestantes em protesto contra política de energia nuclear japonesa seguram velas e fazem corrente humana em frente ao prédio da câmara legislativa, em Tóquio
Foto: AFP
Wakana Kumagaim, de 7 anos, e sua mãe, Yoshiko, choram ao visitar local em que ficava sua casa, em Higashimatsushima, Miyagi, antes de ser levada pelo tsunami que se seguiu ao terremoto do ano passado
Foto: Reuters
Cerca de 3 mil velas com mensagens escritas principalmente por crianças iluminam parque em Koriyama, em Fukushima, em homenagem às 19 mil vítimas dos desastres de 11 de março de 2011
Foto: AFP
Em Paris, estilista Kenzo acompanha minuto de silêncio pelas vítimas japonesas
Foto: Reuters
No dia do primeiro aniversário dos desastres, manifestantes usam máscaras em protesto contra o uso de energia nuclear. Ação é em Tóquio, em frente à Tepco, companhia que controla as usinas de Fukushima, afetas pelos fenômenos naturais e responsáveis pela maior crise nuclear desde Chernobyl
Foto: AFP
Um culto budista ecumênico foi realizado em São Paulo para marcar um ano da tragédia no Japão
Foto: Reuters
Em São Paulo, as homenagens foram marcadas por orações às vítimas da tragédia
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Descendentes de japoneses se emocionaram durante a celebração na Liberdade, tradicional bairro japonês de São Paulo
Foto: Reuters
No dia que marca um ano da tragédia em Fukushima, no Japão, ativistas foram às ruas do Rio de Janeiro para cobrar da presidente Dilma Rousseff o fim da energia nuclear no Brasil
Foto: AP
Além das homenagens às vítimas no Japão, no Brasil ativistas protestaram contra a energia nuclear por causa do acidente em Fukushima
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No Rio de Janeiro, a mobilização ocorreu em Ipanema, na zona sul da capital, e reuniu cerca de 40 pessoas
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Foto: Terra
Familiares e amigos de vítimas do terremoto e tsunami que atingiu o Japão em março de 2011 lançam flores no Oceano Pacífico durante cerimônia que lembrou da tragédia