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Ásia

Nove morrem no 4º dia de protestos contra profanação do Alcorão

24 fev 2012 - 09h43
(atualizado às 14h23)
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Pelo menos nove pessoas - oito civis e um policial afegão - foram mortos nesta sexta-feira em Herat (oeste) e Baghlan (nordeste) em protestos contra os Estados Unidos, após a queima de exemplares do Alcorão em uma base americana neste país, apesar dos apelos por calma.

Membros do partido islâmico Jammat-e-Islami colocam fogo em boneco representando Obama em Peshawar
Membros do partido islâmico Jammat-e-Islami colocam fogo em boneco representando Obama em Peshawar
Foto: AFP

Estas noves mortes, confirmadas por Sediq Sediqqi, porta-voz do ministério do Interior, elevam para 24 o número de vítimas em quatro dias de manifestações, de acordo com uma contagem da AFP. Além disso, uma centena de pessoas ficaram feridas, a maioria por bala.

A maior parte das vítimas desta sexta-feira são da província de Herat, habitualmente uma das mais calmas do país, onde sete pessoas, entre elas um policial e uma mulher, morreram "durante trocas de tiros", declarou Moheedin Noori, um porta-voz local.

Três entre eles, incluindo o policial, morreram em confrontos quando manifestantes tentaram atacar o consulado dos Estados Unidos, acrescentou Noori. "A ação foi muito violenta perto do consulado americano. Ocorreram confrontos. Alguns manifestantes tentaram tomar as armas dos policiais. Houve tiros", informou uma fonte da segurança.

Cerca de 50 outras pessoas se feriram na mesma província, segundo Moheedin Noori. Um homem morreu ao tentar invadir um campo da Equipe de Reconstrução Provincial, uma unidade composta por civis e militares, geralmente estrangeiros, na província de Baghlan (nordeste).

Fotógrafos da AFP também viram dois corpos durante distúrbios em Cabul, um foi dado como morto pelas pessoas que o transportaram e o outro permaneceu por muito tempo imóvel no chão, ferido com um tiro na cabeça. As autoridades, contudo, deu informação apenas sobre três feridos na capital.

Um jornalista da AFP viu o Exército disparar para o ar para afastar a multidão, e depois um homem caído ao chão, ferido a bala nos quadris. "Os americanos desrespeitaram o nosso santo Alcorão. Nós vamos nos vingar. Nós os queimaremos", disse um manifestante.

As manifestações começaram depois da oração de sexta-feira, na qual um imã de Cabul incentivou os fieis a saírem às ruas para protestar contra a profanação do livro do Santo Islã.

Na noite de segunda-feira para terça-feira, exemplares do Alcorão, confiscados de presos da maior base americana no Afeganistão, em Bagram, 60 km ao norte de Cabul, foram incinerados porque, segundo autoridades americanas, serviam para esconder mensagens entre prisioneiros.

O presidente americano Barack Obama enviou uma carta de "desculpas das mais sinceras" ao povo afegão pelo "erro", cometido por "inadvertência" e por "ignorância".

Uma delegação nomeada pelo governo, composta principalmente por personalidades religiosas e que irá investigar o caso, pediu na quinta-feira à noite que os "cidadãos muçulmanos afegãos não recorram aos protestos, que pode permitir ao inimigo (insurgentes) se aproveitar da situação".

As mesmas palavras foram utilizadas pelo comandante da Isaf, o general John Allen, que pediu aos "membros da Isaf e (aos) afegãos paciência e auto-controle", enquanto os "fatos sobre os incidentes continuam a ser reunidos".

O sentimento anti-americano nunca foi tão forte entre a população em 10 anos de conflito. Um sentimento que se prolifera por causa das ações da Otan que mata civis com relativa frequência e que está envolvida em vários casos recentes de profanação ou outros atos considerados blasfemos.

Em Cabul, vários estrangeiros, desde quinta-feira, obedecem as conselhos de segurança e não saem de casa. A restrição de movimento das pessoas expatriadas é justificada pelo precedente incidente de Mazar-i-Sharif (norte), onde sete funcionários expatriados da ONU foram massacrados em seus escritórios no início de abril, após a queima pública de um Alcorão por um pastor extremista americano nos Estados Unidos. Era uma sexta-feira.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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