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América Latina

Famílias sofrem à espera da liberação de corpos em Honduras

18 fev 2012 - 18h38
(atualizado às 19h04)
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O desespero, a impotência e a dor aumentam entre os familiares das vítimas do incêndio em uma prisão de Honduras, que sofrem com a demora na entrega dos corpos e com a falta de informações sobre o que realmente aconteceu, quatro dias depois da tragédia.

Imagem capturada por uma rede de TV mostra o fogo consumindo a colônia penal localizada na região de Comayagua
Imagem capturada por uma rede de TV mostra o fogo consumindo a colônia penal localizada na região de Comayagua
Foto: Reprodução

Mais dois presos que haviam sofrido queimaduras graves não resistiram em um hospital de Tegucigalpa, aumentando para 358 o número de mortos em decorrência do incêndio na prisão de Comayagua, no centro de Honduras, informou neste sábado uma porta-voz do centro médico.

A porta-voz do Hospital Escola, Lilia Leiva, identificou os falecidos como Oscar Mancía, que morreu na noite de sexta-feira, e Alexis Bonilla, ambos com 24 anos e que estavam com "70% do corpo queimado".

Apenas 32 corpos tinham sido identificados até a madrugada deste sábado por legistas de Honduras, El Salvador, Chile, México, Guatemala e Peru, aos quais se juntaram especialistas da Argentina e Venezuela.

"Precisamos que nos entreguem, já não aguentamos mais ficar aqui. Também temos medo que nos entreguem os caixões sem corpos, estamos esperando, esperando e nada", declarou à AFP María del Carmen Flores, que espera o corpo de seu irmão Jorge.

Cerca de 1 mil familiares de todos os cantos do país se aglomeram em abrigos a aproximadamente 200 m do necrotério de Tegucigalpa, para onde foram levados todos os corpos, pedindo que os corpos sejam entregues para que sejam enterrados em suas cidades. "Estamos há quatro dias aqui, mas não nos dão os corpos. Meu marido morreu intoxicado pela fumaça, deveria ser fácil de identificá-lo, mas não me entregam", lamentou Delmi Matute.

"Estamos esperando e não aparece em nenhuma lista, nem entre os mortos nem entre os vivos. Não sabemos o que fazer, nos mandam de um lado para outro", disse Fausto López, 70 anos, que está em um abrigo e procura seu irmão Pascual, 53 anos, condenado por homicídio.

Em barracas instaladas nas proximidades do necrotério, médicos legistas colhem amostras de sangue dos familiares das vítimas carbonizadas, para realizar exames de DNA. Os primeiros enterros começaram na sexta-feira em meio a desoladoras cenas de dor e gritos de justiça. O país está convulsionado por uma crescente polêmica diante das insistentes acusações de familiares e sobreviventes de que as autoridades foram negligentes e não deixaram os presos saírem durante o incêndio.

"É muito arriscado fazer qualquer tipo de declaração (...). Eu esperaria o resultado das investigações" em que participam especialistas americanos, disse o presidente Porfirio Lobo, na noite de sexta-feira, depois de prometer "ressarcir" os familiares. O presidente de Honduras reconheceu na sexta-feira que houve presos que fugiram durante o incêndio, sem informar quantos e apesar de o Ministério da Segurança e da polícia terem afirmado que não houve fugitivos.

Segundo as autoridades, dos 852 presos que estavam no tribunal penal de Comayagua, 353 morreram no local do incêndio, ocorrido na noite de terça para quarta-feira; cinco - incluindo Mancía e Bonilla - morreram em hospitais próximos e outros cinco permanecem internados. Os demais sobreviventes estão ainda no que sobrou da prisão.

Do lado de fora dela, familiares dos quase 500 presos sobreviventes, amontoados nas celas e corredores do que restou da prisão, aguardavam nos portões, com comida e roupa, à espera de que alguém os deixasse passar.

A prisão agrícola de Comayagua, onde os presos plantavam e criavam animais, era apresentada pelas autoridades como uma "prisão modelo". No entanto, 60% dos presos não tinham sido condenados e o número de detentos era o dobro da capacidade do presídio.

O presidente hondurenho afirmou que, diante do que aconteceu em Comayagua, o governo ordenará "ações administrativas rápidas" para avaliar as outras 23 prisões do país e pedir ao poder judicial para agilizar as sentenças. O incêndio de Comayagua é uma das piores catástrofes que aconteceram em prisões no mundo.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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