Líbia celebra revolução em meio a preocupações com o governo
17 fev2012 - 13h21
(atualizado às 21h16)
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Os líbios celebraram nesta sexta-feira o primeiro aniversário da revolta contra Muammar Kadafi com fogos de artifício e lemas, enquanto seu novo líder prometia agir firmemente contra a atual instabilidade.
Centenas de pessoas se reuniram na Praça Tahrir, em Benghazi, cidade onde foram registrados os primeiros movimentos contra Kadafi e seu regime de 42 anos. Após as tradicionais orações muçulmanas, os fiéis agitaram a nova bandeira líbia e proclamaram o "aniversário" da revolução.
Governantes líbios não organizaram comemorações oficiais em nível nacional, como sinal de respeito pelos milhares de mortos no conflito que culimnou com a captura e morte de Kadafi em 20 de outubro.
No entanto, comemorações espontâneas eclodiram em todo o país, enquanto ex-rebeldes, que derrubaram Kadafi no ano passado com o apoio da Otan, montaram pontos em Trípoli, Benghazi, na cidade portuária ocidental de Misrata, além de outros municípios.
Na Praça Tahrir, mães seguravam fotos de seus filhos mortos nos embates, enquanto cantores e poetas realizavam performances para as crescentes multidões.
"Esse é o primeiro aniversário da Líbia. É um dia de libertação, um dia para ser lembrado. Os próximos dias serão melhores agora que Kadafi se foi", disse Malek L Sahad, um cantor de rap líbio-americano que retornou ao seu país de origem no ano passado.
Cerca de 200 pessoas agitaram as bandeiras e repetiram lemas contra o presidente sírio Bashar al-Assad, como "Que vergonha, Bashar!" e "Agora é a sua vez de sair!".
A reação impiedosa do regime de Assad em protestos similares que eclodiram em março do ano passado contra o governo já custou mais de seis mil vidas, disseram grupos defensores dos direitos humanos.
A Líbia pós-Kadafi reconhece o Conselho Nacional Sírio, o maior grupo opositor, como representante do povo sírio.
O ex-coronel do Exército, Idris Rashid, de 50 anos, afirmou que a diferença entre a nova e a antiga Líbia é "como a diferença entre o céu e a terra".
"Estávamos vivendo antes, mas não sabíamos o real sentido de viver. Hoje, podemos sentir a brisa da liberdade", disse à AFP.
O líder líbio, Mustapha Abdel Jalil, deve participar de um evento em Benghazi na próxima sexta-feira para marcar o aniversário da revolução, assim como o primeiro-ministro interino Abdel Rahim al-Kib e outros dignitários.
Os thowars ("revolucionários" em árabe) se espalharam pela cidade para assegurar que as celebrações fossem pacíficas, e Abdel Jalil advertiu na quinta-feira que o espírito revolucionário da Líbia e sua estabilidade não seriam comprometidos.
"Nós abrimos nossos braços para todos os líbios, apoiem a revolução ou não. Mas ser tolerante não significa que somos incapazes de lidar com a estabilidade do nosso país", afirmou em uma emissora de televisão.
"Seremos duros com quem ameaçar nossa estabilidade".
A moradora de Trípoli Naima Misrati disse que guardas de trânsito e ex-rebeldes estavam distribuindo panfletos avisando as pessoas contra a possibilidade de atacar: "Não podemos trazer de volta o morto (Kadafi), mas podemos enviá-los até ele".
O Movimento Popular Nacional Líbio (pró-Kadafi) divulgou em diversos websites uma declaração afirmando que a situação na Líbia "estava se tornando pior a cada dia".
"Há pouco interesse por parte da mídia internacional em muitos dos horrores que existiram. Estamos nos reorganizando fora da Líbia para um movimento político inclusivo que englobe todos os líbios para o entender a terrível realidade do país", afirmava o anúncio.
Um ano depois do levante, a Líbia está enfrentando desafios para combater as milícias que lutaram contra Kadafi para estabelecer um novo regime.
Milhares foram mortos ou feridos no conflito, a produção de petróleo, vital para o país, enfrentou dificuldades, além de casas, o comércio, fábricas, escolas e hospitais terem sido devastados.
Mas o problema mais imediato é como controlar dezenas de milhares de ex-rebeldes que agora se tornaram poderosas milícias, que, enciumados, prometeram manter sua honra e poder, e ocasionalmente explodem em confrontos mortais.
A Anistia Internacional, o Observatório dos Direitos Humanos e a Médicos Sem Fronteiras acusaram as milícias de torturarem seus prisioneiros, a maioria deles antigos defensores de Kadafi.
O primeiro-ministro tem conhecimento de que integrar essas milícias ao serviço militar é uma questão "delicada". Mas seu governo disse na quinta-feira que aproximadamente 5 mil deles já estavam integrados.
O conselheiro do Banco Mundial, Hafed al-Ghwell, em uma declaração recente, afirmou haver certa preocupação em torno do governo do Conselho Nacional de Transição (CNT). "O CNT teve que suprimir divergências internas, e há questionamentos e falta de credibilidade sobre sua efetividade", disse ele.
Fevereiro - Veículos destruídos após bombardeio do regime líbio são fotografados no dia 25. Após protestos iniciados no dia 13, a repressão governamental explode no dia 17, o chamado "Dia da Coléra", e o exército começa a usar fogo real. Os rebeldes tomam as cidades de Benghazi e Jalu já no dia 21 e, no dia seguinte, o líder líbio Muammar Kadafi diz que não deixará o poder e que está disposto a morrer. A ONU aprova as primeiras sanções contra o regime no dia 27
Foto: AFP
Março - Caça do exército líbio incendeia após ser atingido por forças rebeldes em Benghazi , no dia 19. Os rebeldes iniciam a ofensiva rumo a oeste no dia 4. Entre os dias 6 e 16, as tropas de Kadafi fazem uma intensa ofensiva contra os insurgentes, o que leva a ONU a aprovar no dia 17 a resolução 1.973, para tomar "todas as medidas necessárias" para proteger a população civil
Foto: AFP
Abril - Jovem rebelde é socorrido em clínica improvisada em casa de Misrata, no dia 29. Após um mês de intensivos ataques a posições de Kadafi, a artilharia aérea da Otan realiza uma investida à capital Trípoli que termina com a morte do filho mais novo e três netos de Kadafi. Em abril, também aumentam as tensões sobre a legalidade da intervenção militar na Líbia, que estaria indo além da proteção aos civis
Foto: AFP
Maio - Rebelde líbio exibe a bandeira monárquica ao lado de avião kadafista em Misrata, no dia 29. No dia 17, o Tribunal Penal Internacional emite ordem de prisão contra Kadafi por crimes contra a humanidade. No dia 24, um novo ataque da Otan em Trípoli, o maior desde o início de suas operações, causa 19 mortos e 150 feridos, todos civis
Foto: AFP
Junho - Nuvem de fumaça se ergue após bombardeio da Otan nas proximidades do complexo residencial de Kadafi em Trípoli, no dia 7. A ofensiva rebelde prossegue com a tomada de Yafran, a apenas 10 km de Trípoli. No campo diplomático, Espanha e França se juntam aos países que reconhecem o Conselho Nacional de Transição líbio, o órgão oficial dos rebeldes, como o governo legítimo do país
Foto: AFP
Janeiro/fevereiro 2012- Militantes líbios festejam um ano de revolução no país em Trípoli, no dia 14 de fevereiro. Uma série de confrontos entre tribos eclode no país. No mais notório deles, no dia 23, milicianos tomam o controle de Bani Walid, mas a cidade é logo liberada nos dias seguintes. No dia 4 de fevereiro, inicia o primeiro julgamento de partidários de Kadafi. A Líbia celebra no dia 17 o 1º aniversário que mudou os rumos e livrou o país de 42 anos de regime Kadafi
Foto: AP
Agosto - Rebeldes celebram ao redor de icônica estátua de um punho de ouro após a tomada do complexo residencial de Kadafi, em Trípoli, no dia 23. No dia 2, os rebeldes anunciam estar às portas de Trípoli, após terem tomado Brega e a refinaria de Zawiyah. Após avançarem em Trípoli, os rebeldes anunciam no dia 21 a tomada da capital do país e do complexo em que Kadafi morava, mas o coronel não é encontrado
Foto: AFP
Setembro - O premiê britânico, David Cameron (esq.), e o presidente francês, Nicolas Sarkozy (dir.), visitam hospital em Trípoli no dia 15. Cameron e Sarkozy se tornam as primeiras autoridades a visitar Trípoli após a queda do regime de Kadafi. A Assembleia-Geral da ONU reconhece em 16 de setembro o CNT como governo líbio. Também em setembro, familiares próximos de Kadafi deixa a Líbia e buscam refúgio nos vizinhos Níger e Argélia
Foto: AFP
Outubro - Corpo de Muammar Kadafi é exibido em Sirte no dia 20. A revolução na Líbia atinge o seu ápice em outubro com a fase final da ofensiva rebelde sobre os últimos enclaves kadafistas de Bani Walid e Sirte. No dia 20, os rebeldes tomam Sirte, capturam e matam Muammar Kadafi e seu filho Mutassim ¿ as imagens dos corpos mortos são exibidas para todo mundo. Três dias depois, o CNT anuncia a libertação total da Líbia. A Otan encerra a intervenção militar no país no dia 31
Foto: AFP
Novembro - Saif al-Islam é fotografado após ser capturado. Al-Islam, tido como herdeiro político de Kadafi e o último filho do coronel que ainda permanecia com paradeiro desconhecido, é capturado no dia 19, encerrando a caçada à família do ex-ditador
Foto: AP
Dezembro - A cidade de Sirte é fotografada no dia 19. No dia 17, os Estados Unidos levantam as sanções impostas à Líbia. Horas mais tarde, o chefe do Pentágono, Leon Panetta, chega ao país para avaliar as necessidades do governo de transição. Também em dezembro, países da União Europeia descongelam bilhões de dólares do governo líbio que haviam sido depositados em bancos do continente pelo regime de Kadafi
Foto: AFP
Julho - Rebelde ruma para o campo de batalha em Brega, no dia 14. A ofensiva insurgente prossegue com a tomada de um enclave oriental em Brega, onde está situado um importante complexo petrolífero. No início do mês, organismos de direitos humanos reportam que 1,2 milhão de pessoas deixaram o país desde o início da revolução