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Oriente Médio

No Líbano, população teme que crise síria ultrapasse a fronteira

19 fev 2012 - 21h12
(atualizado em 10/5/2013 às 15h20)
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Nos últimos meses, as conversas entre libaneses nos cafés e bares têm sido quase sempre a mesma - a crise na Síria e como o aumento da violência e a guerra travada entre tropas do governo e combatentes rebeldes podem fugir ao controle e afetar o Líbano.

Visão geral do bairro de Bab al-Tabbaneh, na cidade libanesa de Trípoli, palco de confrontos nos últimos dias
Visão geral do bairro de Bab al-Tabbaneh, na cidade libanesa de Trípoli, palco de confrontos nos últimos dias
Foto: AFP

Nos locais de encontros para discutir política, a fumaça do tradicional narguilé toma conta do ambiente e discussões dão a medida de como a Síria é um assunto extremamente sensível em um país dividido entre partidos alinhados com Damasco e aqueles contra o governo de Bashar al Assad.

Jornais libaneses abordam o assunto toda a semana - o que pode acontecer no Líbano se a situação na Síria se deteriorar e o país mergulhar em uma guerra civil.

"O Líbano já teve 16 anos de uma complicada guerra civil, que envolveu a intervenção de governos estrangeiros, incluindo o sírio. Além disso, sua fronteira com a Síria é extremamente frágil, com relatos de contrabando de armas para os rebeldes que lutam contra as tropas leais ao governo", salientou o cientista político Karim Makdisi, da Universidade Americana de Beirute.

Em geral, grupos cristãos e alauítas (ao qual pertence o presidente Assad) na Síria vêm apoiando o governo, embora muitos deles estejam presentes na oposição. Analistas no Oriente Médio alertam que o conflito poderá se transformar em uma vingança da maioria muçulmana sunita contra os grupos minoritários alinhados com o regime.

Sunitas compõem cerca de 75% da população da Síria mas, nos últimos 40 anos, os alauítas (corrente dos muçulmanos xiitas) dominam os postos mais importantes no governo e nas forças armadas. "É verdade que há sunitas também a favor do governo, mas os grupos minoritários podem ser mais visados com represálias", disse Makdisi, salientando que ainda é cedo para falar em conflito civil.

"Por enquanto é uma luta de manifestantes antigoverno e combatentes armados da oposição contra o regime".

Além da fronteira

Como o Líbano é um país dividido em grupos religiosos como drusos, sunitas, xiitas, sunitas, entre outros, o país seria fragilizado e extremamente afetado caso o conflito sírio cresça e cruze a fronteira libanesa, segundo opinaram colunistas políticos libaneses.

Segundo eles, a fronteira passaria a ser um canal de contrabando de armas, tropas sírias poderiam fazer incursões em solo libanês sob o pretexto de combater o fluxo de armas e grupos militantes libaneses pró e anti-Síria poderiam entrar em conflitos armados.

Segundo o analista Sami Salhab, professor na Universidade Libanesa, a população no Líbano teme que no já frágil cenário político do país, os partidos apoiados pelo regime sírio se vejam em conflito com aqueles que vêm apoiando o levante popular na Síria.

"É uma possibilidade real, um acerto de contas. Há muito em jogo para alguns grupos políticos no Líbano se o regime de Bashar al Assad cair", explicou.

Indícios

Embora ainda não tenham ocorrido maiores confrontos entre os grupos pró e anti-Síria no Líbano, alguns indícios já dão uma ideia de como seria o cenário tenso caso o Líbano se visse mergulhado na crise no país vizinho. Toda a semana há manifestações a favor ou contra o regime na Síria e que acabam terminando em confusão, exigindo a presença de tropas do exército libanês e policiais.

Mas mais recentemente, as cidades de Trípoli e Saida sentiram o termômetro e uma amostra do que pode ocorrer se o conflito sírio contaminar o Líbano.

Em Saida, militantes pró e anti-Síria entraram em confrontos armados nas ruas da cidade, aumentando o temor dos libaneses. Os combates foram interrompidos depois que o exército colocou blindados nas ruas e coibiu os grupos armados de andarem pelas ruas.

Em Trípoli, a segunda maior cidade do Líbano, os confrontos tiveram um caráter mais sectário. Militantes sunitas entraram em conflito armado com a comunidade alauíta da cidade. O exército foi colocado em grande número para intervir e exigiu intensas negociações para pôr fim aos combates. "Embora essa briga seja antiga em Trípoli, e ocorre todos os anos, a crise na Síria colocou ainda mais combustível à rivalidade", disse o analista Sami Salhab.

Trípoli é um grande reduto de salafistas, muçulmanos sunitas mais conservadores e alinhados com a Arábia Saudita. Na Síria, cidades sírias como Homs e Hama, reduto de oposicionistas e que sofrem com o cerco do exército do governo, são conhecidas por serem centros de salafistas no país.

"O incidente em Trípoli foi uma extensão dos ânimos que poderão ocorrer na Síria - um conflito sectário e religioso que pode sim afetar o Líbano. Qualquer possibilidade está aberta", completou Salhab.

Fonte: Especial para Terra
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