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Mundo

Líbia celebra 1º aniversário da revolução com futuro incerto

15 fev 2012 - 12h50
(atualizado às 13h27)
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A Líbia se prepara para comemorar o primeiro aniversário da "revolução de 17 de fevereiro" em um ambiente de incertezas sobre a estabilidade e segurança necessárias para fundar um Estado de direito após o fim do regime de Muammar Kadafi.

Depois do movimento de libertação por que passou o país do norte da África, agora, a Líbia se prepara para suas primeiras eleições em muitas décadas. Contudo, a proliferação de milícias de ex-rebeldes que impõem a lei torna ainda mais difícil o trabalho dos novos dirigentes.

Estudantes, desempregados e funcionários públicos, os thowars ("revolucionários" em árabe) combateram como voluntários o regime de Kadafi, até a morte violenta do ditador em 20 de outubro, depois de 40 anos de reinado absoluto.

"Pegaram em armas para se libertar do jugo da ditadura, mas quando alcançaram sua liberdade, não as depuseram", comentou Issam, um jornalista de Trípoli.

Ao fim do sangrento conflito, organizaram-se em milícias e exerceram as funções da Polícia e do Exército, ainda que estes não fossem fundadas pelo novo regime.

As milícias "desenvolveram interesses que se recusam a abandonar", concluiu o conselheiro do Banco Mundial, Hafedh al-Ghwell, em um recente relatório.

Graças ao arsenal do antigo regime, as milícias estão poderosamente armadas e não hesitam em utilizar artilharia pesada para dizimar o menor conflito de interesses, gerando vítimas em cada ocasião.

No entanto, os novos dirigentes definiram como primeiro objetivo desarmar o país e, para isso, organizaram um plano para integrar ao Exército ou às forças de segurança os milhares de combatentes. Mas os resultados ainda não foram vistos.

Os thowars controlam também as prisões onde estão os responsáveis ou combatentes do antigo regime, alguns deles torturados até a morte, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.

A lentidão das reformas tem provocado movimentos de contestação contra o Conselho Nacional de Transição (CNT), acusando-o de "roubar a revolução" e permitir que "oportunistas" do antigo regime formem parte da nova equipe dirigente.

Por fim, as autoridades parecem amarradas pelo peso da herança deixada por Kadafi: proliferação de armas, problemas de infraestrutura, instituições ausentes, economia minada pela corrupção, sistemas de saúde e educação precários.

Os desafios são enormes para os novos governantes, que decidiram se limitar, não sem dificuldades, aos assuntos correntes até as próximas eleições, previstas para junho.

O governo declarou que não fechará contratos antes das eleições, quando as companhias estrangeiras irão se aglomerar para obter os contratos substanciais para a reconstrução do país.

Para as novas autoridades, as eleições são prioridade. Assim, uma lei eleitoral que dá um papel privilegiado às mulheres e aos jovens foi adotada após longas negociações e um agitado debate.

Na segunda-feira, a formação de uma comissão eleitoral foi saudada pela missão da ONU na Líbia, que considerou o marco legal das próximas eleições, as primeiras em mais de 40 anos, como "razoável".

Nenhum programa oficial está previsto para a sexta-feira para celebrar o primeiro aniversário da revolução, por "respeito às famílias dos mártires, dos feridos e desaparecidos", segundo o porta-voz do regime, Mohamed al-Harizi.

Ainda que os conselhos locais tenham liberdade para festejar a data, as autoridades proibiram qualquer parada militar e advertiram contra possíveis ataques de partidários do antigo regime.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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