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Estados Unidos

Imigração ilegal em massa aos EUA acabou, diz professor

18 fev 2012 - 11h18
(atualizado às 11h46)
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Luís Eduardo Gomes*

A fase de constante fluxo de imigrantes ilegais para os Estados Unidos (especialmente latinos) - que provocou uma verdadeira caça às bruxas e um pesado investimento de Washington para evitá-la - acabou. Esta é a conclusão do professor Douglas S. Massey, responsável por um estudo sobre o assunto conduzido pela Universidade de Princeton. Em entrevista ao Terra, Massey apontou a crise econômica de 2008, o desenvolvimento da América Latina e o aumento da emissão de vistos temporários de trabalho como fatores responsáveis pela diminuição do fenêomeno.

Cerca na reserva Tohono O'odham, no Estado americano do Arizona, separa os Estados Unidos do México
Cerca na reserva Tohono O'odham, no Estado americano do Arizona, separa os Estados Unidos do México
Foto: AFP

A pesquisa de Massey, que faz parte do Mexico Migration Project (um estudo de longo prazo coordenado pela instituição americana), aponta que entre 2009 e 2008 a população de imigrantes ilegais nos Estados Unidos diminuiu de 12 milhões para 11 milhões. Desde 2009, este número estaria "basicamente estável, subindo um pouco em um ano e descendo no outro", segundo o professor. De acordo com Massey, estes números apontam o encerramento de 60 anos de crescimento da imigração ilegal no país.

Segundo dados da organização não partidária Pew Hispanic Center, menos de 100 mil pessoas cruzaram a fronteira ilegalmente entre México e Estados Unidos em 2010, uma queda brusca em relação ao período entre 2000 e 2004, quando 525 mil pessoas fizeram a travessia anualmente.

Massey afirma que o principal fator por trás desta diminuição é a crise econômica de 2008, que teria contribuído para fechar as portas para a contratação de ilegais em áreas anteriormente responsáveis por atraí-los, como a construção civil. Além disso, ele cita o aumento na distribuição de vistos temporários de trabalho concedidos pelo governo a potenciais novos imigrantes ilegais e a outros que já estavam no país, a diminuição do crescimento demográfico na América Latina, especialmente no México, e o crescimento econômico na região. "As condições econômicas não estão tão ruins no México, se comparadas às dos Estados Unidos", diz Massey.

Segundo Massey, o México, a principal fonte de imigrantes ilegais para os Estados Unidos, já não enfrenta uma pressão demográfica como nos anos 1980 e 1990. Ela levava muitos jovens incapazes de encontrar emprego em seu país a tentar a sorte do outro lado da fronteira. "Eu acho que há um sentimento no México de que as coisas mudaram e que a migração não é uma alternativa para os jovens. Porque as oportunidades estão melhorando, há menos pessoas entrando no mercado de trabalho, a situação nos Estados Unidos está mais difícil, o desemprego aumentou e os salários diminuíram. E, claro, a repressão aos imigrantes ilegais continua", argumenta o professor. "A única migração que eu acredito que vá continuar é a de pessoas que queiram trazer familiares e a de trabalhadores temporários, que parece estar crescendo rapidamente", acrescenta.

Julieta Carrasco Ramírez, 39 anos, é um caso que ilustra a mudança no fluxo de migrantes. Após oito anos vivendo em Nova York, Ramírez retornou para Puebla, a cerca de 120 km da Cidade do México, trazendo com ela os dois filhos. "Os gastos começaram a ficar muito altos e passou a não valer a pena. Pagávamos US$ 1 mil em aluguel, outros US$ 400 em contas, e o trabalho começou a ficar mais escasso", diz a mexicana, que deixou o marido trabalhando em uma loja de departamentos de Nova York e abriu uma lavanderia em sua cidade natal. "Ainda há muitas carências no México, mas gastamos menos. E quem trabalha e se esforça, consegue crescer", acrescenta Ramírez. Ela aponta que o aumento do controle na fronteira e dos preços cobrados pelos facilitadores dificultaram muito a travessia para os Estados Unidos.

Apesar da diminuição no número de ilegais, Massey aponta que os Estados Unidos ainda enfrentam o problema de terem 11 milhões de pessoas vivendo na clandestinidade. Segundo ele, a solução da questão é "bem simples em teoria, mas bem difícil em termos políticos". "Meu argumento é que deveríamos dividir a população (de ilegais) em duas. Pessoas que entraram no status de ilegal quando crianças devem receber imediata anistia. Elas não fizeram nada ilegal, falam inglês, nós deveríamos deixar que toquem suas vidas. Para pessoas que se tornaram ilegais como adultas, eu acredito que a única estratégia prática é o atual programa de legalização, onde as pessoas aparecem, registram-se, ganham status temporário de permanência e acumulam pontos aprendendo inglês, assistindo a aulas de história, pagando impostos, etc. Quando atingirem um certo número de pontos, eles podem pagar uma multa e ajustar suas situações", propõe Massey. "É a única saída que faz sentido para mim", diz.

Massey também é um crítico ferrenho das políticas de endurecimento no combate fronteiriço da imigração, defendidas principalmente pelo Partido Republicano. Ele considera a construção de um muro na divisa com o México "um total desperdício de dinheiro". "Todas as evidências mostram que reforçar a fronteira não tem nenhuma relação com impedir que os imigrantes venham aos Estados Unidos, e sim os impede de ir para a casa uma vez que se estabeleçam no país", diz Massey. "A militarização e o aumento massivo do controle da fronteira, na realidade, aumentaram o nível da imigração ilegal, porque não tiveram nenhum efeito real na entrada (de imigrantes), mas afetaram dramaticamente a saída".

Eleições 2012

A imigração ilegal sempre tem um papel de destaque na corrida presidencial americana, que atualmente está em fase de primárias republicanas. Este ano não deve ser diferente. No entanto, Massey acredita que a diminuição da imigração ilegal ainda não está plenamente difundida entre os eleitores. Pelo contrário, o medo da entrada de novos trabalhadores clandestinos em uma economia fragilizada pode ser um fator determinante no pleito. "O fato de que não há nova imigração ilegal não foi espalhado ao redor do país, e os republicanos estão tentando ignorar isso para continuar usando (a imigração) como um problema político", diz Massey. "É extraordinário que o grande fluxo de imigração ilegal tenha terminado em 2008 e ainda haja quem acredita que seguimos sendo invadidos por imigrantes", acrescenta. Ele salienta que a atual população clandestina é "um importante elemento de discórdia e, portanto, um fator político" que pode ser usado pelos republicanos.

Em relação ao presidente e candidato à reeleição, Barack Obama, Massey diz que o democrata decepcionou a população latina, que foi vital para a sua eleição em 2008, ao não apresentar programas claros para solucionar a questão. "Nos primeiros dois, três anos de sua administração, a deportação de ilegais bateu recordes. Ele manteve a escalada de políticas contra a imigração, que é um esforço bipartidário", diz Massey. "Somente nos últimos seis meses que ele aliviou algumas políticas, porque ele se deu conta que não pode ser reeleito sem o voto dos hispânicos. Mas pode ser muito tarde para que ele recupere a confiança deles".

*Colaborou Elisa Martins, direto da Cidade do México

Fonte: Terra
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