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Europa

Crimes do franquismo são relatados no julgamento de Garzón

1 fev 2012 - 10h07
(atualizado às 10h26)
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Desaparecimentos forçados e fuzilamentos: pela primeira vez na história da Espanha os crimes do franquismo foram relatados nesta quarta-feira em um tribunal, pela boca dos familiares das vítimas convocados para testemunhar no processo contra o juiz Baltasar Garzón.

"Na noite de 21 de setembro de 1936, minha mãe foi levada para depor, mas a mataram no caminho, mataram 27 homens e três mulheres", declarou, muito emocionado, María Martín López, 81 anos, falando ante o Supremo Tribunal espanhol.

Ela tinha seis anos quando viu pela última vez a mãe, Faustina López González, e desde então sua família luta para recuperar seus restos mortais, enterrados numa vala comum, que foi encontrada na pequena localidade de Pedro Bernardo, centro do país.

"Meu pai até morrer pediu às autoridades locais para tentar recuperar o corpo, mas eles disseram para ele: para de reclamar se não vamos fazer contigo o que fizemos com ela", contou ainda a testemunha de defesa de Garzón.

Como María, maridos, filhos e netos de 114.000 desaparecidos durante a Guerra Civil espanhola (1936-39) e a ditadura franquista (1939-75) levaram, a partir de 2006, suas denúncias ao famoso juiz numa tentativa de trazer à tona a verdade e recuperar os restos de seus entes queridos.

O juiz de 56 anos agora é julgado a pedido de dois grupos de ultradireita que o acusam de bular uma lei de anistia de 1977 ao tentar investigar esses casos.

O juiz, mundialmente conhecido pela prisão do ditador chileno Augusto Pinochet em 1998 em Londres, acabou desistindo da investigação em 2008 por oposição da promotoria.

Para as associações de familiares das vítimas, "ver como criminalizam o juiz Garzón que tanto tentou nos ajudar é terrível", afirma Emilio Silva, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica.

"No entanto, tem uma parte positiva: pessoas de pequenos povoados poderão contar diretamente no Tribunal o que lhes aconteceu, o que fizeram a eles, o que vai ser uma coisa impressionante", acrescentou.

Suspenso das funções desde maio de 2010, o magistrado pode ser condenado a 20 anos de inabilitação profissional, o que representaria o fim de sua carreira. A defesa e a promotoria pedem a absolvição de Garzón.

No domingo, milhares de pessoas protestaram pelas ruas de Madri para demonstrar seu apoio ao juiz Garzón.

"Garzón amigo, o povo está contigo" ou "Exigimos justiça" foram alguns dos slogans bradados pelos manifestantes, alguns dos quais carregavam fotos em preto e branco de membros de suas famílias mortos durante a Guerra Civil ou durante o franquismo.

Artistas, representantes sindicais e autoridades políticas de esquerda abriram a passeata com uma grande faixa com a inscrição "Solidários a Garzón. Contra os crimes do franquismo".

"É uma vergonha que na Espanha tenham colocado no banco dos réus um juiz que quis, por ordem das vítimas, investigar os crimes do franquismo", criticou o poeta Luis García Montero ao final da manifestação.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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