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Europa

"Comandar cruzeiro não é Disneylândia", diz familiar de vítima

19 jan 2012 - 14h08
(atualizado às 14h42)
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As buscas pelos desaparecidos no naufrágio do Costa Concordia foram retomadas nesta quinta-feira, enquanto os familiares esperam com ansiedade os resultados das operações e nutrem uma grande raiva contra o comandante do navio, que se encontra em prisão domiciliar.

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"Ele está na casa dele agora, pois vive na Itália. Em outro país, estaria na prisão e não tomando café com a mãe", declarou indignado à AFP Kevin Rebello, irmão de um tripulante de nacionalidade indiana, ainda desaparecido.

"Comandar um navio de cruzeiro não é a Disneylândia, ele brincou com a vida de pessoas. Eu estou com muita raiva", declarou Kevin Rebello, que veio de Milão - onde trabalha - para encontrar seu irmão Russel, casado e pai de uma menina de três anos e meio.

Outras famílias, refugiadas no hotel Orbetello (Toscana), temem pelo pior e recebem o apoio de psicólogos. Alguns familiares, que conseguiram escapar da catástrofe, deverão superar o trauma e o sentimento de culpa por terem sobrevivido.

Dos 11 mortos confirmados, oito foram formalmente identificados. Os corpos de dois franceses, Pierre Grégoire, 69 anos, e sua irmã de 70 anos, Jeanne Gannard, foram identificados nesta quinta-feira pela família, anunciaram autoridades da cidade de Gosseto, na Toscana. "Continuamos sem novidades sobre os dois outros franceses", indicou à Paris o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Bernard Valero.

Os familiares de um casal de franceses ainda desaparecido, Mylène Litzler, 23 anos, e Mickaël Blemand, 25 anos, fizeram um apelo no Facebook. "Procuramos recolher o máximo de testemunhos de passageiros que os viram no momento do naufrágio, ou até na semana que precedeu o acidente, para saber onde eles estão e o que pode ter acontecido", explicou à AFP André Litzler, tio de Mylène.

Após a interrupção das buscas durante quase todo o dia, o trabalho foi retomado nesta quinta-feira. A tarefa é difícil pois partes do navio estão bloqueadas por portas trancadas, pilhas de móveis e carpete.

O bombeamento do combustível do navio (2.380 toneladas) ainda não foi iniciado, apesar dos riscos de maré negra na ilha, uma reserva natural de grande valor ecológico. Esta operação, que pode durar algumas semanas, é muito complicada, por ser necessário o aquecimento do petróleo para torná-lo fluido. Os reservatórios do Costa Concordia estavam praticamente cheios quando aconteceu o naufrágio.

Já a companhia italiana, Costa Cruzeiros, proprietária do Costa Concordia, anunciou na manhã desta quinta-feira ter entrado em contato com "todos os passageiros ara assegurar que todos chegaram a suas casas e passavam bem". "A empresa confirma o reembolso das passagens e de todas as despesas materiais", assegurou em um comunicado.

Mais de 70 passageiros do Costa Concordia já aderiram a uma ação coletiva contra a companhia lançada pela associação italiana de defesa dos consumidores, com o objetivo de obter uma indenização para cada passageiro de pelo menos 10 mil euros. Processos judiciais contra a empresa também foram anunciados na França.

A companhia, por sua vez, também afirma ter sido lesada e disse que se apresentará como vítima em um eventual julgamento "porque, além da tragédia e do drama humanos, a empresa sofreu um prejuízo imenso", afirmou um de seus advogados.

Em declarações à imprensa, o advogado Marco De Luca, condenou o comportamento do comandante do cruzeiro, Francesco Schettino, acusado de ter desviado sem autorização a embarcação de sua rota causando o naufrágio, que provocou a morte de onze pessoas e mais de vinte desaparecidos.

O advogado disse ainda que a companhia não assumirá a defesa do comandante, que foi suspenso de seu cargo. "A companhia é outra vítima nesta tragédia", acrescentou o advogado, que anunciou que a emprsa colaborará coma justiça italiana.

Segundo novos testemunhos, muitos passageiros na hora da evacuação ficaram sem coletes salva-vidas e correram risco de morte ao tentaram procurar coletes em suas cabines.

Além disso, muitos botes sobrecarregados só puderam ser manobrados com a ajuda de serventes e cozinheiros - "anjos filipinos" apelidaram alguns sobreviventes - que se transformaram em marinheiros improvisados.

Naufrágio do Costa Concordia
O cruzeiro Costa Concordia naufragou na última sexta-feira, dia 13 de janeiro, após colidir em uma rocha nas proximidades da ilha de Giglio, na costa italiana da Toscana. Mais de 4,2 mil pessoas estavam a bordo. Até a tarde de terça-feira, dia 17, 11 mortes haviam sido confirmadas. Ainda há desaparecidos, e prosseguem os trabalhos de busca. O Itamaraty informou que 57 brasileiros estavam a bordo do navio, mas nenhum deles está entre as pessoas não encontradas.

O navio, que tem 290 metros de comprimento e 114,5 mil toneladas, margeava a ilha de Giglio quando houve a colisão, imediatamente começando a adernar. Houve pânico e reclamações de despreparo da tripulação. O comandante do Costa Concordia, Francesco Schettino, foi acusado de ter abandonado o navio. Ele disse que estava no comando, mas um áudio divulgado para a imprensa, em que há uma discussão entre ele e a Guarda Costeira, indica que o capitão já estava na costa no momento do resgate.

Veja no mapa o local onde aconteceu o acidente:

As buscas por desaparecidos foram retomadas nesta quinta-feira
As buscas por desaparecidos foram retomadas nesta quinta-feira
Foto: AFP
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