Costa Concordia: transcrições revelam novos detalhes do acidente
O dia 14 de janeiro ficou marcado na memória de todos os envolvidos no acidente com o luxuoso navio de cruzeiro Costa Concórdia, que naufragou após colidir com rochas na pequena ilha de Giglio, na Toscana italiana. Mesmo que muitas vidas tenham sido salvas, e ainda existam esperanças de encontrar desaparecidos, os momentos de tensão dos protagonistas daquela noite - o comando do navio, a Capitania dos Portos e as equipes de resgate -, estão registrados na história.
Conheça o cruzeiro de luxo que naufragou na Itália
Confira o minuto a minuto que revive os primeiros momentos da tragédia a partir de transcrições das comunicações entre as unidades de salvamento, divulgadas pelo la Repubblica:
22h06 - O primeiro alarme
A mãe de um passageiro relatou problemas a bordo do navio Costa Concordia: o teto do restaurante da ponte sul cai e é emitida ordem para vestir coletes-salva-vidas. O primeiro alarme é lançado, portanto, de um passageiro, e não da tripulação.
22h14 - Apenas um apagão
A Capitania dos Portos faz contato com o Costa Concordia. O oficial fala em um blecaute de 20 minutos, mas afirma que tudo será resolvido rapidamente. Também nega o colapso do teto e a ordem para vestir coletes salva-vidas.
22h16 - O barco-patrulha
O barco-patrulha G104 se oferece para ajudar o navio. A Capitania responde afirmativamente. O G104 será crucial para a coordenação das operações de salvamento.
22h17 - A dúvida
A Capitania expressa dúvidas sobre o fato do problema do Costa Concordia estar limitado apenas a um blecaute: "Pode muito bem haver outro problemas".
22h26 - A primeira admissão
A Capitania insiste em contatar o navio. Responde o capitão Francesco Schettino, que finalmente se refere a um buraco aberto no lado esquerdo da embarcação. Segundo Schettino, não há feridos e o navio só necessita de um rebocador. No entanto, a Capitania ordena que todos os navios da área cheguem ao local do acidente.
22h44 - O navio encalha
O barco de patrulha G104 se aproxima do navio e dá o alarme: o Costa Concordia está preso do lado direito. Neste momento, o resgate dos passageiros está em pleno andamento. Ainda não há relatos de pessoas ao mar.
22h45 - "Não é verdade, navegaremos"
A Capitania contata com o capitão, que nega: "O navio está flutuando e navegando". Ele tenta se aproximar da costa para ancorar.
22h48 - Situação de emergência
A Capitania pergunta ao capitão do Costa Concordia se ele quer ordenar a evacuação do navio. A resposta é "estamos avaliando". Ao ouvir essas palavras, a Capitania inicia os procedimentos para acolher todos os passageiros e tripulantes e envia helicópteros de socorro.
22h58 - "Abandonar o navio"
O capitão Schettino, novamente contatado pela Capitania, anuncia que ordenou o abandono do navio usando os botes do Costa Concordia.
23h23 - "Estamos nos inclinando"
O Costa Concordia relata que há uma "grande inclinação para estibordo (lado direito)": o navio está se apoiando em um dos lados. O comando do navio pergunta se ele pode ser puxado pelo lado esquerdo, mas nenhuma outra embarcação está posicionada no local para atender ao pedido. Enquanto isso, a Capitania comunica que dezenas de navios estão indo para o sul da ilha de Giglio para ajudar.
23h37 - "Ainda há 300 a bordo"
O capitão Schettino, em contato com a Capitania, disse que ainda há 300 pessoas a bordo da embarcação. A informação é confirmada pelo barco de patrulha.
0h05 - Milhares de náufragos
A Capitania tenta contatar o comando do navio por telefone. Ninguém responde. Na meia hora seguinte, à medida que as comunicações foram aumentando, a Capitania resgata pessoas da água, em barcos em situação de risco e a bordo de outras embarcações. A prefeitura de Grosseto anuncia que a ilha de Giglio não pode hospedar mais de três mil pessoas, e os sobreviventes são transferidos ao continente.
0h34 - Capitão em um barco
O capitão Schettino admite estar em um barco a "estibordo" do navio, e diz que viu "três pessoas na água".
0h36 - Idosos e crianças a bordo
O barco de patrulha G104 chama helicópteros com urgência para resgatar "de 70 a 80 pessoas, inclusive idosos e crianças" que estão presos a bordo.
0h42 - "Volte a bordo!"
O capitão Schettino diz que todos os oficiais estão em um barco com ele. O comandante De Falco ordena que eles retornem a bordo para coordenar o desembarque dos passageiros. Enquanto isso, a Capitania envia ao navio uma aeronave de socorro que identifica 100 pessoas a bordo, e tenta movê-las para que possam ser resgatadas de helicóptero.
1h15 - Alarme de contaminação
É feito o primeiro contato com o Ministério do Meio Ambiente para enviar uma unidade antipoluição naval.
1h46 - De Falco insiste
Uma hora após a primeira chamada, Schettino não voltou a bordo. De Falco insiste: "Volte e deixe-nos ter um registro da situação". Enquanto isso, se prepara o envio de bombeiros ao navio. A Capitania tenta repetidamente contatar o helicóptero, o único capaz de relatar o número de pessoas ainda a bordo.
2h53 - "Schettino está indo para o porto"
Os tripulantes do barco-patrulha G104 relatam que, em vez de retornar ao navio, o comandante Schettino está indo para o porto.
3h05 - As primeiras vítimas
O barco-patrulha comunica as primeiras vítimas: "A bordo dizem haver cinco mortos e três feridos".
3h17 - Schettino parado pela polícia
Schettino é encontrado pela polícia e levado a Giglio. A polícia da ilha anuncia que ele está detido "sem algemas".
3h56 - O drama a bordo
A aeronave de socorro emite novo alarme: 50 pessoas ainda estão a bordo. Estão estão localizadas na popa, enquanto resgatistas e mergulhadores na proa salvam uma pessoa fraturada.
4h46 - A primeira lista
A transferência de sobreviventes é longa, mas ainda é necessária uma inspeção detalhada para ver se ainda há alguém a bordo do navio. O proprietário do Costa Concórdia, a Costa Cruzeiros, fornece a primeira lista oficial de passageiros e tripulantes: são 4.754 pessoas.
6h15 - Iminente tragédia
Já é amanhecer. O alarme não é interrompido. Os bombeiros a bordo comunicam: "As condições de pesquisa são difíceis".
Naufrágio do Costa Concordia
O cruzeiro Costa Concordia naufragou na última sexta-feira, dia 13 de janeiro, após colidir em uma rocha nas proximidades da ilha de Giglio, na costa italiana da Toscana. Mais de 4,2 mil pessoas estavam a bordo. Até a tarde de terça-feira, dia 17, 11 mortes haviam sido confirmadas. No mesmo dia, as autoridades italianas divulgaram que 29 seguiam desaparecidos. O Itamaraty informou que 57 brasileiros estavam a bordo do navio, mas nenhum deles está entre as pessoas que ainda não foram encontradas.
Segundo as primeiras informações sobre as causas do acidente, o navio, que tem 290 metros de comprimento e 114,5 mil toneladas, margeava a ilha de Giglio quando bateu em uma rocha e começou a adernar. Houve pânico entre os passageiros, que reclamaram de despreparo da tripulação e luta por coletes salva-vidas. O comandante do Costa Concordia, Francesco Schettino, foi acusado de ter abandonado o navio. Ele nega, mas a empresa responsável pela embarcação se posicionou confirmando a negligência do capitão.
Veja no mapa o local onde aconteceu o acidente: