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Ásia

Taiwan: eleição é marcada por política diplomática com a China

12 jan 2012 - 18h02
(atualizado em 13/1/2012 às 07h22)
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Bruno Maestrini
Direto de Taipei

"Se reeleito, não visitarei a China", declarou o presidente Ma Ying-jeou em entrevista coletiva para a imprensa internacional na manhã desta quinta-feira, em Taipei, Taiwan. A corrida presidencial se mostra bastante acirrada onde o candidato à reeleição Ma tem 52% das intenções de voto, vantagem de 8 pontos percentuais sobre a segunda colocada Tsai Ing-wen, do DPP.

Ma Ying-jeou pede apoio aos eleitores para sua reeleição em último discurso público antes do pleito deste sábado
Ma Ying-jeou pede apoio aos eleitores para sua reeleição em último discurso público antes do pleito deste sábado
Foto: Bruno Maestrini / Especial para Terra

A vitória do candidato da KMT, chamado partido azul, não é dada como certa, como aponta o professor Chu-Chen Ming, do departamento de ciência política da Universidade Nacional de Taiwan. De acordo com o professor, o candidato do PFP, James Soong, atualmente com 4% das intenções de voto, pode acabar comprometendo a vitória do atual presidente se acabar com 6% dos votos. Soong, ex-integrante do KMT, tem pouquíssimas chances de vencer, mas acaba sendo peça chave na disputa em função da pouca diferença entre Ma e Tsai.

Historicamente, a China tenta influenciar de alguma forma as eleições em Taiwan. A China continental considera Taiwan uma de suas provícinas, já a ilha consideram todo o país asiático sua propriedade. "Nas eleições de 2012, existe a facilitação da venda de passagens aéreas do continente para a ilha para que eleitores possam votar. Isto dá-se pelo fato de que a China considera que a maioria dos eleitores radicados no país apoiam o KMT", diz o professor Jau-Shieh Joseph Wu, do Instituto de Relações Internacionais da NCCU. "Entretanto, eu acredito que isso não deve fazer diferença no resultado final. A China já tentou sem sucesso ações semelhantes em outras campanhas", completou.

A campanha, que esquentou um pouco nesta última semana, tem sido bastante fria se comparada a anos anteriores. Ma Ying-jeou se contenta com visitas a mercados e templos, onde aperta a mão de cidadãos, beija bebês, exibe-se como poliglota quando vê um estrangeiro e volta para o seu furgão com um sorriso no rosto. Quando os candidatos foram convidados a expor sua plataforma de trabalho em uma emissora de televisão local, Ma não deu oportunidade aos jornalistas fazerem perguntas.

Esta manhã, na coletiva para a imprensa internacional, o presidente recusou-se a falar em inglês, mesmo quando diretamente solicitado pelos jornalistas. Ma frisou que pretende manter as negociações com a China continental, mas que não deve visitar o país, já que não abre mão do título de presidente de Taiwan. O presidente defende a não união do país à China continental, a não independência e também é contra qualquer tipo de luta armada.

Já Tsai, natural do sul do país, prefere fazer campanha junto ao seu eleitorado, composto basicamente de trabalhadores braçais e camponeses. Popular e próxima do povo, Tsai faz grandes comícios e passeia de carro por pequenas cidades em toda a ilha Formosa. Com rostos marcados pelo trabalho duro e pele queimada pelo sol, não é difícil ver um senhor de idade emocionado pelas palavras da candidata, com lágrimas nos olhos. Tsai acusa o KMT de manobras ilegais como o pagamento de civis para a participação em passeatas e compra de votos para parlamentares, mas mesmo assim se diz confiante na vitória.

A campanha de Tsai ficou marcada por um fato curioso: um grupo de trigêmeos de dois anos de idade juntou dinheiro em um cofre de porquinho e pediu que seu avô doasse o dinheiro para a campanha da candidata. Pela lei taiuanesa, não eleitores não podem fazer doações, fato que atraiu a atenção do KMT que ameaçou entrar com medidas legais.

O DPP não aceitou a doação, mas a reação popular à ação do KMT foi enorme e centenas de milhares de eleitores enviaram cofres com dinheiro para Tsai. Foram mais de 200 milhões de dólares taiuaneses ao final do período de doações (cerca de US$ 6,7 milhões), quase todos vindos de famílias humildes. O partido teve que montar uma verdadeira linha de processamento para o recebimento das doações.

Outro desafio pelo qual passa Tsai é apagar a marca deixada pelo único candidato do seu partido a chegar à presidência, Lee Teng-hui, preso por corrupção. Todos os outros presidentes da história do país de 101 anos foram do partido azul, o KMT. Com uma campanha bem mais singela, James Soong, do PFP, o partido laranja, fez poucas, mas calorosas, aparições em público.

Neste sábado o povo de Taiwan deve ir às urnas para decidir quem ocupará o mais alto cargo desta república não reconhecida pela ONU, mas que exerce sua democracia de forma muito diferente da China continental. O resultado deve ser divulgado até o final da noite do mesmo dia.

Fonte: Especial para Terra
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