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Ásia

Máquina de mitos, Coreia do Norte transforma e eterniza líderes

22 dez 2011 - 16h48
(atualizado às 17h07)
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Pouco antes da morte do líder Kim Jong-Il, o céu brilhava vermelho sobre o monte sagrado de Paektu e a impenetrável folha de gelo no coração do vulcão rachou gerando um rugido ensurdecedor.

Um quadro de Kim Jong-il está pendurado em um lobby de um prédio em Wason, na Coreia do Norte.
Um quadro de Kim Jong-il está pendurado em um lobby de um prédio em Wason, na Coreia do Norte.
Foto: AP

Essa é a versão oficial das circunstâncias sobrenaturais que antecederam a morte do ditador, segundo a agência estatal, e mostra como funciona a propaganda governamental responsável pela ela criação de uma imagem quase religiosa e mística da família Kim, que governa o país desde 1948.

As ferramentas para a criação do mito foram desenvolvidas ao longo de duas gerações, desde o antecessor de Kim Jong-Il, Kim Il Sung. Com a morte repentina do último líder e a ascensão de Kim Jong-Un, os artesões da imagem do grande líder terão que trabalhar com rapidez. Conheça algumas das marcas da máquina de mitos norte-coreana:

Descendência

O fundador Kim Il-sung continua como eterno presidente da Coreia do Norte e seu corpo está embalsamado no palácio presidencial. Kim Jong-Il assumiu após a morte do pai, em 1994, na primeira sucessão hereditária comunista do mundo. Ao líder morto recentemente, é creditada a reedição das principais regras por trás da ideologia da família, chamada "dez princípios". Suas revisões incluem a criação do mito ao redor da família e a transformação deles na imagem central da identidade daquele povo.

Os aniversários dos líderes falecidos são os maiores feriados da nação. O calendário norte-coreano começa no ano do nascimento de Kim Il-Sung, em 1912.

Como cabe agora a Kim Jong-Um dar continuidade à dinastia da família, a Coreia do Norte tem construído sua imagem mitológica com ênfase na sua descendência e no legado da família, desde suas raízes como guerreiros revolucionários que lutaram contra os japoneses ao papel espiritual como protetores do povo norte-coreano.

A saga

Na sua biografia oficial, consta que Kim Jong-Il foi enviado dos céus, nascido em uma cabana no monte Paektu enquanto seu pai lutava contra os japoneses. "Desejando que ele seja a estrela que trará brilho ao futuro da Coreia do Norte, eles saudaram a Estrela Brilhante do monte Paektu", diz um trecho da biografia. No entanto, registros soviéticos indicam que Kim Jong-Il nasceu um ano antes, na Sibéria.

O relato de sua morte seguiu a mesma linha mística. Em seu obituário, a mídia estatal se refere a ele como "ilustre comandante nascido no céu". Na quarta-feira, a KCNA (agencia de notícias norte-coreana) informou que uma garça, que representa longevidade, foi vista na cidade de Hamhung ao redor da estátua de Kim Il-Sung, por horas, até baixar sua cabeça e decolar para a capital, Pyongyang.

A criação do mito ao redor de Kim Jong-Un já começou com um editorial no jornal Rondong Sinmun que diz que ele nasceu no céu, no entanto, maiores detalhes de seu nascimento e a mitologia que envolveu sua chegada ainda não foram revelados.

Autoridades americanas dizem que ele tem 27 anos, mas observadores acreditam que ele vai pular alguns anos para celebrar seu 30º aniversário, em janeiro de 2012. Isso possibilitaria a convergência de números: Kim Jong-l teria completado 70 anos, Kim Jong-Un, 30, e Kim Il-Sung, 100.

Ícone

Uma alta estátua de bronze de Kim Il-Sung, com seu braço estendido, toma conta da capital sobre o morro Mansu. Nos dias que seguiram a morte de Kim Jong-Il, populares tem subido o morro para depositar flores no local, assim como ocorre em seu aniversário e outras ocasiões.

O rosto sorridente de Kim Il-Sung que era visto nos maiores prédios da capital começou a ser trocado pelo retrato de Kim Jong-Il. Imagens dos dois líderes falecidos, lado a lado, são vistos em vários pontos do país. Alguns incluem ainda a imagem de Kim Jong Suk, mãe de Kim Jong-Il.

Propaganda

A maioria dos cartazes na Coreia do Norte não trazem slogans, mas sim slogans com mensagens do líder. Os mais recentes são focados na construção da economia: "Tudo em prol de melhorias para o dia-a-dia das pessoas". A TV local só exibe desenhos no final da tarde, notícias, novelas e filmes, durante a noite.

O visual

Kim Jong-Un tem uma surpreendente semelhança com a figura de Kim Il-Sung nos primeiros anos como líder. Alguns norte-coreanos dizem que choraram ao ver a imagem do novo líder pela primeira vez em virtude da semelhança com o avô.

Apelidos

A família Kim governa o país sob título de "suryong" ou líderes, mas também recebem outros títulos. Kim Il-Sung, o "eterno presidente", também é chamado de "grande líder". Ele era conhecido como "querido líder" até assumir o poder, depois passou a ser chamado de "grande camarada", "comandante supremo" ou "pai".

Kim Jong-Un, por sua vez, é chamado de "jovem general", depois de ter sido promovido a general de quatro estrelas no ano passado, mas também é o "respeitado general" e foi elevado ao posto de "grande sucessor" após a morte de seu pai. Nessa semana a mídia local já se refere a ele como "destacado líder".

Morre Kim Jong-il

O líder norte-coreano, Kim Jong-il, morreu nesse sábado, 17 de dezembro, vítima de "fadiga física", quando realizava uma viagem de trem. Sua morte só foi anunciada nessa segunda, 19, pela agência estatal norte-coreana. Após receber a notícia, o governo e o Exército da Coreia do Sul entraram em estado de alerta, enquanto a população da Coreia do Norte chorava o falecimento do líder, que abre espaço para ascensão de seu filho, Kim Jong-un, provável herdeiro em Pyongyang.

Jong-il, 69, comandava a Coreia do Norte desde 1994, após a morte de seu pai, Kim Jong-sun, fundador do país. Durante 17 anos, cultivou um dos regimes mais fechados do mundo, baseado no culto de si e do sistema comunista. O governo hermético não impediu que idiossincrasias de Jong-il viessem a público, como o autoproclamado título de inventor do hambúrguer, formando a imagem complexa de um líder excêntrico de um país isolado do mundo, cujo futuro na península coreana é agora incerto.

Com informações da AP.

Fonte: Terra
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