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Mundo

Milhares de argentinos comemoram continuação da era Kirchner

10 dez 2011 - 22h13
(atualizado em 12/12/2011 às 08h38)
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Aline Duvoisin
Direto de Buenos Aires

Milhares de argentinos saíram de casa cedo para acompanhar a posse
Milhares de argentinos saíram de casa cedo para acompanhar a posse
Foto: Aline Duvoisin / Especial para Terra

Os argentinos levantaram cedo para aguardar a cerimônia de posse presidencial que ocorreu em um sábado ensolarado, animado e pacífico em Buenos Aires, com temperatura acima dos 30ºC. O evento estava marcado para as 12h, mas desde as 8h já se escutava o ruído de tambores e gritos nas ruas. Apesar da multidão que encheu a avenida de Maio, que liga a Praça de Maio à Praça do Congresso, por onde passou a presidenta Cristina Fernández de Kirchner poucas horas depois, não houve nenhuma confusão.

A multidão permaneceu pacificamente nas ruas e deve se permanecer no espaço público ao longo da noite, participando da festa popular que começou logo após a posse na frente da Casa Rosada. A tranquilidade se estendeu ao âmbito político, onde, pelo menos de maneira geral, as divergências permaneceram temporariamente quietas para não quebrar o protocolo.

Os primeiros a se dirigirem às ruas foram militantes, sindicados e convidados especiais, que compareceram tanto às redondezas da casa legislativa como às proximidades da Casa Rosada. Em seguida milhares de pessoas invadiram as ruas, apesar do feriadão de quatro dias.

A expectativa, que se confirmou com a chegada de Cristina, era de que ela fosse de helicóptero primeiramente à sede do Executivo e, depois, se trasladasse ao legislativo pela avenida de Maio, onde pode cumprimentar o povo que a esperava. Por isso havia gente ao longo de todo o caminho. Um pouco mais tarde, chegaram os deputados e, em seguida, chefes de governo de outros países, entre eles a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, que acompanharam o juramento e o discurso de Cristina.

Cristina assume por mais quatro anos
A presidenta argentina reeleita chegou às 12h em ponto na frente do Congresso. Acompanhada do vice-presidente eleito, Amado Boudou, se dirigiu ao Salão Azul da Casa, onde ambos realizaram o juramento. Cristina recebeu a faixa das mãos de sua filha, Florencia Kirchner, e quebrou o protocolo ao agregar referência ao seu falecido esposo no juramento. "Se assim não o fizer, que Deus, a pátria e ele me demandem.", declarou a presidente, provocando aplausos.

A menção ao ex-presidente Néstor Kirchner, que já virou um hábito, não parou por aí. "Não é um dia fácil para esta presidenta, falta algo e falta alguém", começou a discursar Cristina. Durante sua fala, que durou mais de uma hora, também homenageou Dilma, recordando a foto de quando a presidenta brasileira estava presa, divulgada há alguns dias.

Já que reassumiu a presidência no Dia Internacional dos Direitos Humanos, seguiu enfatizando os logros alcançados pela Argentina nessa área, deixando claro que espera dar continuidade aos julgamentos que ainda estão por acontecer e que espera que o próximo presidente não precise falar disso na sua posse em 2015.

Outro momento de auge de suas palavras foi quando afirmou que não é a presidente das corporações, mas dos 40 milhões de argentinos. Na sequencia, considerou um logro o direito à greve, que não existia no governo de Domingos Perón. Lembrou, porém, que não se trata de direito a chantagem e extorsões.

Não faltaram também momentos engraçados durante a cerimônia. No meio do discurso da presidenta, um sinal sonoro a obrigou a interromper suas palavras. O barulho surgiu porque Julián Dominguez, titular da Câmara de Deputados, acionou sem querer a "chicharra" que se utiliza para convocar os legisladores para uma sessão. Cristina brincou dizendo: "Julián, Cobos não me fazia isso, que coisa", fazendo referencia ao antigo titular da Casa. Mais tarde Dominguez se explicou: "eu sou um homem do campo, movi o joelho e toquei um botão".

Oposição evita conflitos
O chefe de governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires, Maurício Macri, que pertence a uma força política bastante diferente da presidenta e que almejava candidatar-se à presidência, decidiu evitar enfrentamentos e respeitar o momento de glória de Cristina. Dificilmente ambos freqüentam os mesmos lugares, porém Macri, que foi reeleito para governar a capital por mais quatro anos, abriu uma exceção e compareceu à cerimônia. Ao chegar ao Congresso Nacional, assegurou que tem boas expectativas para o segundo mandato da presidenta. "Esperamos poder crescer, trabalhar juntos, resolver os problemas das pessoas. O povo espera que os governadores e a presidente trabalhem juntos.", salientou Macri.

Apesar disso, o chefe de governo da capital afirmou que segue com a intenção de ser candidato à próxima corrida presidencial dizendo que tem "a obrigação de construir essa alternativa que as pessoas esperam para 2015, sem descuidar da gestão da cidade", demonstrando ter diferentes intuitos para o rumo do país.

Nem sequer o ex-vice-presidente da nação Julio Cobos, que acumulava o posto de presidente do Senado, foi motivo de polêmica. Seu governo ao lado de Cristina foi problemático e marcado por fortes rixas entre os dois, porém souberam manter o protocolo depois de uma longa semana de discussões acirradas sobre se Cobos deveria ou não conduzir a cerimônia de posse. O único que escapou foi um cumprimento frio entre ele e a presidenta.

Um dos únicos que não economizou palavras e gestos durante a cerimônia foi Ricardo Alfonsín, que ficou em terceiro lugar na disputa presidencial. Mantendo o discurso que tinha durante a campanha eleitoral, o deputado nacional pediu que durante o segundo mandato a presidenta argentina tome as medidas necessárias para enfrentar a crise econômica mundial. "Que façam as correções necessárias para que os argentinos possam viver melhor porque, senão, entre todos vamos ter que sofrer os problemas que estão por vir", disse Alfonsín ao chegar ao Congresso. Além disso, não poupou caras feias durante o discurso de Cristina.

A praça do povo
No final da tarde, a presidenta recebeu o juramento dos novos ministros e em seguida subiu ao palco em frente à Casa Rosada para se dirigir ao povo. No seu segundo discurso disse que é necessário deixar de lado os enfrentamentos e homenageou novamente os jovens, como já havia feito no discurso após sua vitória eleitoral.

"Eu nasci politicamente com a mesma idade de muitos de vocês. Este maravilhoso país tem a imensa sorte de que, a diferença de épocas passadas e do que acontece em outros países, os jovens ocupam a praça para festejar com alegria", destacou Cristina, lembrando que muitos dos jovens conseguiram seu primeiro emprego durante seu governo. A presidente reeleita também agradeceu os trabalhadores, dizendo que não é "uma presidente de escritório" e que percorre as fábricas dia a dia.

Antes de se retirar, Cristina cantou a canção Avanti morocha, de Los Caballeros de la Quema, que já virou praticamente seu hino oficial, deixando a festa nas mãos dos que ela diz serem os protagonistas do seu governo: o povo.

Fonte: Especial para Terra
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