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Europa

Julgamento do Khmer Vermelho começa 3 décadas após genocídio

6 dez 2011 - 16h18
(atualizado às 17h23)
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O Tribunal Internacional do Camboja começou a julgar os dirigentes que fizeram parte da cúpula do Khmer Vermelho mais de três décadas depois da queda de seu regime e de causarem até 2,2 milhões de mortes. Os três destacados membros da organização radical que hoje são octogenários e quase desconhecidos para a nova geração cambojana são acusados de crimes contra a humanidade, crimes de guerra, genocídio e outras atrocidades cometidas durante os 45 meses em que regeram o país, de abril de 1975 a janeiro de 1979.

O julgamento de Nuon Chea, considerado o ideólogo do Khmer Vermelho; Khieu Samphan, chefe de Estado durante o regime, e Ieng Sary, seu ministro das Relações Exteriores, é o principal caso do tribunal patrocinado pela ONU, que o dotou de um orçamento superior a US$ 170 milhões com o fim de enterrar o terrível passado do país. Os três foram detidos em meados de 2007 em diferentes lugares do Camboja e desde então permanecem presos, visto que o tribunal rejeitou os recursos de apelação que apresentaram.

Cada um dos acusados afirmou ser inocente antes e durante o julgamento, que começou em 21 de novembro com a ausência de Ieng Thirith, esposa de Ieng Sary e ministra de Assuntos Sociais do regime, a quem o tribunal declarou incapacitada para ser julgada por sofrer de Alzheimer.

"Embora o Khmer Vermelho tenha cometido os crimes há mais de um quarto de século, a dor que causaram continua incrustada em grande parte da sociedade", aponta Ou Virak, presidente do Centro Cambojano dos Direitos Humanos.

A primeira fase do julgamento, que deve durar vários anos e cuja evolução dependerá do estado de saúde dos acusados, será focada nas deportações massivas das cidades para o campo que causaram a morte de dezenas de milhares de pessoas por extenuação, crise de fome e doenças, assim como os crimes contra a humanidade relacionados a elas.

O líder máximo do Khmer Vermelho, Pol Pot, morreu em 1998 sem ter sido julgado, da mesma forma que outros destacados dirigentes como Ta Mok, o chefe militar apelidado como "O Açougueiro" Até o momento, apenas foi julgado e condenado Kaing Guev Eav, conhecido por "Duch" e que dirigiu o centro de detenção e torturas S-21, no qual cerca de 16 mil pessoas morreram.

Duch foi condenado a 35 anos de prisão em julho de 2010, embora depois sua pena tenha sido reduzida para 19 anos. O torturador, no entanto, apresentou uma apelação da sentença, sobre a qual receberá resposta em fevereiro.

Segundo alguns analistas, os depoimentos dos três acusados podem comprometer o atual primeiro-ministro cambojano, Hun Sen, e vários destacados membros de seu governo que desempenharam cargos no Khmer Vermelho até desertarem para se unirem às forças vietnamitas que invadiram o Camboja para depor o regime.

O governo de Hun Sen se mostrou reticente a apresentar provas e informações sobre os crimes do Khmer Vermelho, e até proibiu que alguns altos cargos cujo depoimento foi solicitado pelos juízes se apresentassem.

O julgamento dos líderes do Khmer Vermelho começou com acusações da Procuradoria, que lembrou casos concretos sobre os casamentos forçados e as torturas e assassinatos cometidos em cerca de 200 centros de segurança.

Os três membros da cúpula do regime também foram acusados nas primeiras audiências de "planejar" uma sistemática campanha para eliminar as minorias de origem vietnamita e chan de religião muçulmana.

EFE   
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