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Mundo

Sem esquerda ou direita, Grécia e Itália convocam europeus próprios

14 nov 2011 - 14h58
(atualizado às 15h14)
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Felipe Schroeder Franke

Os últimos capítulos escritos nesta semana na Europa apontam para uma escassez dos projetos políticos tradicionais do velho continente e para um novo perfil encontrado para superar a crise. Longe do centro forte europeu liderado por Alemanha e França, as periféricas Grécia e Itália viram projetos antagônicos ruírem, dando espaço para virtuais emissários da União Europeia, à qual estes dois países tanto lutam para pertencer.

Manifesto em Atenas pede que população acorde: Grécia e Itália encontram saída em políticos de perfil econômico e carreira na UE
Manifesto em Atenas pede que população acorde: Grécia e Itália encontram saída em políticos de perfil econômico e carreira na UE
Foto: Getty Images

Na Grécia, o fracasso foi do governo do socialista Georgios Papandreus. Líder do governo em Atenas desde 2009, Papandreus pegou o país na esteira da crise econômica de 2008. Apesar do seu socialismo, todavia, Papandreus viu-se forçado a propor cortes de verba pública e aumento de impostos. A reação foi nas ruas, com ondas de protestos, e também no Parlamento helênico, onde o premiê não conseguiu unir os partidos para equilibrar as contas. Papandreus anunciou sua renúncia nesta semana.

Na Itália, a decadência foi do personalista governo direitista de Silvio Berlusconi. Esta era é a terceira passagem do premiê pela liderança do Parlamento em Roma, e Il Cavaliere deixará o poder após um governo descaradamente marcado por escândalos sexuais, mas que só chegou ao esgotamento total graças à incapacidade do premiê de coordenar os esforços políticos para impedir a falência total da Itália.

E com a falência do socialismo grego e da direita italiana, as opções encontradas por Grécia e Roma não foi o outro lado da moeda, mas um técnico meio-termo que não privilegia a política local, mas sim a experiência na lida econômica em ambiente europeu.

Na Grécia, quem assumirá o posto de primeiro-ministro é Lucas Papademos. Economista de formação, Papademos tem no currículo oito anos na vice-presidência do Banco Central Europeu (BCE), antecedidos por outros oito anos na liderança do Banco da Grécia. Formado no coração econômico da União Europeia, o economista diverge de Papandreu, sociólogo de formação que tem no currículo a militância como presidente do Movimento Socialista Pan-helênico (Pasok, pelo original grego).

Na Itália, Berlusconi foi substituído por Mario Monti. Tal como seu em breve colega Papademos, Monti é economista de formação e tem experiência na UE: por cinco anos, foi membro da Comissão Europeia para Competição. Bem diferente do Cavaliere com experiência política na área privada, verdadeiro magnata da mídia e do futebol em Milão.

A crise da economia da UE vem levantando dúvidas se não do projeto em si, pelo menos acerca da capacidade de países fortes como Alemanha e França de manter irmãos menos robustos como Espanha e Portugal, que também estão na trilha dos medos gregos e italianos. Agora, sem direitistas excêntricos e esquerdistas nacionalistas no comando, a Grécia e Itália passam a ser governados pelos seus próprios europeus.

Berlim e Paris esperam ansiosamente para ver se o problema de Atenas e Roma é a economia da Grécia e da Itália - ou se nem os europeus locais conseguirão manter o sonho europeu de pé.

Fonte: Terra
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