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Oriente Médio

Iraque: cristãos lembram massacre na catedral de Bagdá

31 out 2011 - 15h48
(atualizado às 16h27)
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Centenas de cristãos recolheram-se, nesta segunda-feira, na catedral católica siríaca de Bagdá, para lembrar dezenas de fiéis e os dois padres massacrados há exatamente um ano no local, durante ataque realizado por um comando da Al-Qaeda. A cerimônia, com a participação de muçulmanos e cristãos, foi cercada de segurança. Dezenas de membros das forças especiais da polícia iraquiana foram mobilizados nas proximidades da catedral Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e no telhado de casas vizinhas, no bairro de Karrada, no centro de Bagdá.

A viela que leva à catedral, bloqueada ao trânsito, amanheceu coberta de cartazes com retratos das vítimas do ataque do ano passado e de flâmulas com textos de condenação à morte dos cristãos iraquianos" e com a pergunta: "Onde está a voz da comunidade internacional ?". O interior da igreja, decorado com flores, e com as casulas dos dois sacerdotes penduradas, no coro, apresenta ainda dezenas de marcas de balas nas paredes e no teto, o mesmo acontecendo com a fachada do templo.

O ataque, praticado na véspera do dia de Todos os Santos, matou 44 fiéis, entre eles sete membros das forças de segurança e dois padres, tendo sido um dos mais mortíferos cometidos contra os cristãos no Iraque. "Estamos muito tristes pelo que aconteceu", confiou uma mulher de 55 anos, Margaret Polis, ao fazer o sinal da Cruz diante de uma estátua da Virgem Maria no exterior da catedral. "Que Deus perdoe os que fizeram isso!"

Uma outra mulher de 50 anos, Bouchara Georges, apontou para os banheiros situados do lado externo da catedral, explicando que seus familiares conseguiram se esconder lá quando os atacantes chegaram. "Eles estavam com um filho que chorava muito e precisaram colocar a mão em sua boca, para que não fosse ouvido. Agora, fugiram para o Líbano", contou ela.

O atentado levou centenas de cristãos a deixaram o país; os que continuaram vivem com o pavor de novos ataques. A comunidade cristã de Bagdá, que contava com 450.000 fiéis em 2003, sofreu um êxodo maciço em direção a países da Europa, e até da América do Norte e Austrália.

Três irmãos de Nofal Sabah, um chefe de cozinha de 30 anos, estavam na catedral na hora do atentado: um ficou ferido e um outro ainda sofre com problemas psicológicos e estresse.

Ele mesmo confessa ter medo: "Rezo antes de ir para o trabalho. Aqui, você pode ser morto a qualquer hora. Minha família está pronta para vender todo o seu patrimônio e ir para o exterior". Mas, devido à questão do visto, pensa em seguir clandestinamente para a Alemanha.

Outros acusam as autoridades iraquianas: "Um ano após o massacre, sente-se que o governo nada fez para salvar, ajudar e regrar as questões dos cristãos e encontrar uma solução para seus problemas. Apesar de seus comunicados e declarações, não apareceu nenhuma solução eficaz", acusa Louis Climis, subdiácono da catedral, ele mesmo ferido durante o atentado.

"Hoje, a segurança melhorou um pouco, mas ainda há atos de terrorismo, assaltos a igrejas, por exemplo, em Kirkuk" (nord), disse ele, em alusão a um atentado com carro-bomba cometido no início de agosto contra uma igreja católica siríaca, que deixou 15 feridos.

Para ele, no entanto, ir embora não é a questão: "é meu país, minha pátria, sou iraquiano, antes de ser cristão".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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