Filha de brasileiro morto em Israel: troca pode ser 'semente da paz'
Maurício Moraes
18 out2011 - 05h08
(atualizado às 05h40)
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Maurício Moraes
BBC Brasil
A inclusão de Husan Badran na lista de prisioneiros palestinos que Israel libertaria em troca do soldado Gilad Shalit não foi uma notícia "agradável", mas parte de uma medida "compreensível", na opinião de uma brasileira que perdeu o pai em um atentado organizado por Badran.
O militante planejou o ataque suicida que há dez anos matou Giora Balazs, pai da museóloga paulistana Deborah Brando Balazs da Costa Faria, em Jerusalém. O ataque feriu Deborah e sua madrasta, que estavam juntos com o pai.
"Não é agradável, não é a notícia que eu gostaria de ouvir. Mas é uma política de governo. Quem sabe isso não é uma semente para a paz?", diz Deborah, hoje com 54 anos, em entrevista à BBC Brasil.
No dia 9 de agosto de 2001, Giora Balazs, na época com 68 anos, caminhava com a filha Deborah e a segunda mulher, Flora Rosembaum, quando um militante suicida detonou explosivos em frente a uma pizzaria em Jerusalém. Deborah e Flora ficaram hospitalizadas por vários dias em Israel, antes de voltar a São Paulo, onde continuam a viver.
Husan Badran, condenado por planejar o ataque, foi incluído na lista inicial apresentada pelo Hamas de 477 prisioneiros que seriam libertados antes da soltura de Shalit, sequestrado havia cinco anos por militantes palestinos.
O acordo foi fechado entre o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e o grupo islâmico Hamas, que controla o território palestino da Faixa de Gaza.
A libertação de Shalit se tornou uma causa nacional em Israel. Os pais do soldado chegaram a montar um acampamento em frente à residência do primeiro-ministro para pressionar o governo.
Recursos Deborah, Flora e outros membros da família têm voltado todos os anos para Israel, para visitar o túmulo de Giora Balazs, enterrado em Ashkelon, no sul do país. A viagem é paga pelo governo israelense, como parte da indenização dada à família.
Segundo Deborah, Flora Rosembaum tem opinião parecida à sua sobre o acordo que inclui a libertação de prisioneiros palestinos. Algumas famílias de vítimas israelenses, no entanto, entraram com recursos contra o acordo. As petições foram analisadas e rejeitas na segunda-feira pela Suprema Corte de Israel.
Otimismo? Deborah diz que "não sabe responder" à pergunta sobre se é uma otimista com o futuro de Israel e sobre a paz na região. Ela também acha "complicado" e prefere não emitir opiniões sobre o governo de Netanyahu, que enfrenta fortes críticas internacionais por manter a expansão de assentamentos israelenses em territórios palestinos.
"A gente nunca sabe muito bem o que irá acontecer (em Israel). Quem sabe isso não abra uma nova brecha (para a paz)?", se questiona.
O soldado Gilad Shalit é capturado na Faixa de Gaza durante ataque contra um posto militar israelense em 25 de junho de 2006. A operação deixou dois outros soldados israelenses e dois palestinos mortos
Foto: AFP
Em 26 de junho de 2006, o Hamas, responsável pelo sequestro, exige a libertação imediata de todas as mulheres e jovens presos por Israel em troca de Shalit. A exigência é rejeitada pelo então primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert
Foto: AFP
Noam, pai de Shalit, divulga uma carta em que apela pela libertação segura do filho em junho de 2006. A partir disso, a família de Shalit se mobiliza para sair pelo mundo, pedindo cooperação internacional para fazer pressão pela a libertação do soldado
Foto: AFP
Grande protesto realizado em Nova York pede a libertação do soldado em 10 de julho de 2006. Naquele mesmo ano, em 26 de novembro, Israel tenta uma nova operação de resgate a Shalit que termina em 400 mortos palestinos, na maioria civis
Foto: AFP
Membros do movimento islâmico Hamas está armado com o Ezzedine al-Qassam Brigades, pedem a libertação de presos palestinos em troca de Gilad Shalit, na Faixa de Gaza. Em 9 de janeiro, o Hamas declarou que o soldado israelense se encontra em boas condições de saúde
Foto: AFP
Noam Shalit realiza aniversário simbólico em homenagem aos 21 anos de Shalit durante protesto em 28 de agosto de 2007, em Tel Aviv
Foto: AFP
O pai de Shalit recebe uma carta escrita pelo filho por intermédio do ex-presidente americano Jimmy Carter em 9 de junho de 2008
Foto: AFP
Manifestação simboliza os 855 dias (2 anos, 4 meses e 5 dias) da prisão de Shalit, em Jerusalém. Meses antes, o Hamas entrega a relação com cerca de 1,4 mil que devem ser libertados em troca do soldado, entre eles Marwan Barghouti, líder do Fatah, e preso em 2002 por assassinato
Foto: AFP
Noam Shalit participa de protesto de mil dias (mais de dois anos) da prisão do filho, Gilad, em Jerusalém, no dia 21 de março de 2009
Foto: AFP
Gravação de vídeo mostra o soldado Gilad Shalit no cativeiro em local desconhecido da Faixa de Gaza em 2 de outubro de 2009. Meses antes, o governo israelense rejeitou novamente as condições exigidas pelo Hamas para libertar o soldado
Foto: AFP
Em 21 de dezembro de 2009, Noam Shalit participa de protesto com recortes de papelão em tamanho real do filho em frente ao escritório do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém. Novo impasse ocorre nas negociações sobre o soldado e Israel rejeita a libertação de comandantes do Hamas
Foto: AFP
Os pais de Shalit, Noam e Aviva, encontram o então ministro da Defesa brasileiro Nelson Jobim, em Tel Aviv, em 25 de janeiro de 2010. Naquele ano, brasileiros residentes em Israel assinam petição pedindo a interferência do governo Lula na libertação do soldado
Foto: AFP
Protesto reúne milhares de pessoas para marcar os quatro anos do sequestro de Shalit, em Tel Aviv, no dia 5 de julho de 2010. A manifestação teve início na fronteira entre Israel e o Líbano, terminando em frente à residência do premiê Benjamin Netanyahu
Foto: AFP
Aviva e Noam Shalit participam de evento que marca o quinto aniversário em cativeiro do filho, de 24 anos, na Faixa de Gaza. Dias antes, Noam leu uma carta em que fez um apelo ao povo palestino e muçulmano e às famílias dos prisioneiros palestinos
Foto: AFP
Centenas de israelenses se reúnem novamente em frente à residência de Netanyahu para cobrar esforços do governo para libertar o soldado Shalit, em 3 de agosto de 2010. A data marcou os 1.500 dias da prisão do militar
Foto: AFP
O presidente israelense, Shimon Peres, reúne-se com Aviva e Noam Shalit na barraca montada pelos pais de Gilad para protestar em frente à residência do primeiro-ministro Netanyahu, em Jerusalém, no dia 18 de abril de 2011
Foto: AFP
Joel, irmão de Gilad Shalit, e seus pais, fazem "protesto dos acorrentados" para cobrar providência do premiê em relação ao soldado sequestrado, em Jerusalém, no dia 25 de junho de 2011
Foto: AFP
Aviva e Noam Shalit, pais de Gilad Shalit, esperam por mais notícias em meio a cartazes e objetos de protestos, em 11 de outubro. O governo de Israel e o Hamas anunciam acordo para a troca de Shalit por mil prisioneiros palestinos