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Mundo

Mineiros chilenos recebem homenagem um ano depois do resgate

13 out 2011 - 20h40
(atualizado às 21h20)
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Mesmo com a ausência do presidente chileno, Sebastián Piñera, e de vários companheiros, os mineiros que permaneceram 69 dias soterrados em uma jazida no deserto do Atacama receberam nesta quinta-feira a homenagem de parentes, amigos e autoridades um ano após o espetacular resgate.

"Nessas horas, tenho sentimentos muito estranhos. Me vêm à mente todas as coisas ruins que aconteceram um ano atrás, mas também é preciso valorizar o esforço de nossos compatriotas para nos resgatar", declarou à agência EFE o mineiro Ariel Ticona, um de "Los 33 de Atacama".

Ticona, um dos últimos a chegar à superfície após permanecer mais de dois meses a quase 700 metros de profundidade, teve a oportunidade de conhecer a filha Esperanza, sua terceira, graças ao êxito de uma operação de salvamento que um ano atrás foi acompanhada ao vivo por 1 bilhão de pessoas em todo o planeta.

Já recuperado totalmente das sequelas físicas, Ticona espera voltar em breve a trabalhar em uma mina, mas nem todos seus companheiros seguiram o mesmo caminho.

A homenagem, realizada no acampamento Esperança, ao lado da mina San José, contou com a presença de apenas 20 dos 33 mineiros, pois alguns ainda seguem recebendo tratamento médico, como é o caso de Mario Gómez, o mais idoso dos trabalhadores soterrados no dia 5 de agosto de 2010, que sofre de silicose.

Quem também ficou de fora da cerimônia foi Edison Peña, famoso por suas imitações de Elvis Presley, que costumava correr todos os dias dentro da mina para suportar o confinamento.

Antes de ingressar na semana passada em um centro de reabilitação, Peña confessou que a fama agravou seus problemas com álcool e drogas, e que, apesar de ter ganhado muito dinheiro com as entrevistas exclusivas e os direitos autorais, agora passa por dificuldades financeiras.

Outro dos ausentes na cerimônia realizada em pleno deserto do Atacama, a 850 quilômetros de Santiago, foi o mineiro boliviano Carlos Mamani, detido pela Polícia na noite desta quarta-feira por uma denúncia de violência doméstica.

Mas entre os destaques desta quinta-feira, houve mostras de júbilo e agradecimento, como as expressadas por Franklin Lobos, o mineiro jogador de futebol, amigo do ex-atacante Ivan Zamorano. "Agora o sentimento é de alegria. Já sofremos muito, tivemos muita pena e dor, mas agora é o momento de alegria no coração", comentou à EFE.

Lobos lamentou que, nos últimos dias, tenham sido publicadas informações sobre alguns detalhes escabrosos do período de confinamento, e garantiu que são falsas.

"Nunca houve canibalismo nem drogas", exclamou o mineiro, em contraste às declarações feitas por seu companheiro Samuel Ávalos de que, quando estavam à beira da inanição, alguns teriam cogitado comer a carne do que morresse primeiro.

Uma das ausências mais notadas foi a do presidente Sebastián Piñera, considerado o principal artífice do resgate pela firmeza com que iniciou a operação que primeiro permitiu localizar os mineiros 17 dias depois da derrubada e, posteriormente, trazê-los à superfície sãos e salvos.

Piñera, que nesta quinta-feira promulgou em Santiago a lei que cria o Ministério do Desenvolvimento Social, enviou em sua representação os ministros Hernán de Solminihac (Mineração), Laurence Golborne (Obras Públicas) e Evelyn Matthei (Trabalho), além da primeira-dama, Cecilia Morel.

"Foi uma epifania, porque voltaram a nascer após 70 dias debaixo desta gigantesca montanha que a fé nos ajudou a remover", declarou a esposa do presidente, ao lembrar a façanha que um ano atrás permitiu salvar a vida dos 33.

"Quando nos unimos, os chilenos podemos superar as coisas mais difíceis", ressaltou Morel, que, durante os 69 dias de confinamento, viajou várias vezes ao acampamento "Esperanza" para apoiar os familiares.

"(O resgate) não foi o triunfo de um presidente, nem de um Governo, mas o triunfo de um país, da solidariedade, uma solidariedade que nos permitiu realizar um dos maiores milagres da História", destacou a primeira-dama na cerimônia ecumênica que deu início às homenagens.

Enquanto isso, na zona urbana de Copiapó, a 45 quilômetros da mina San José, cerca de 200 estudantes fizeram uma passeata não-autorizada e tentaram chegar à praça onde, pouco depois, foi inaugurada uma estátua de metal de 12 metros de altura doada pelo Governo chinês em lembrança da epopeia.

Os presentes à manifestação, convocada em linha com os protestos que reivindicam melhoras no sistema educacional do Chile, enfrentaram a Polícia, que rapidamente controlou a situação.

As atividades por ocasião do aniversário do resgate culminaram com a exibição do documentário "33", que contém imagens inéditas do acampamento "Esperanza", da vida dos mineiros em seu confinamento e da sofisticada operação de salvamento iniciada para trazê-los à superfície.

EFE   
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