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Mundo

Egito: funeral de cristãos é marcado pela ira contra exército

10 out 2011 - 14h29
(atualizado às 14h46)
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Milhares de pessoas se despediram nesta segunda-feira dos cristãos mortos nos últimos distúrbios no Cairo, em um funeral marcado pela ira contra a junta militar, acusada de provocar os conflitos.

Polícia monta guarda atrás de carro destruído durante os confrontos entre exército e cristãos coptas, no Cairo
Polícia monta guarda atrás de carro destruído durante os confrontos entre exército e cristãos coptas, no Cairo
Foto: Reuters

Em uma grande cerimônia celebrada na catedral cairota pelo papa copta Shenuda III, os fiéis deram adeus aos falecidos sob fortes medidas de segurança.

Em cenas de dor e raiva repetidas dentro e fora do templo, os presentes gritaram palavras de ordem contra o Conselho Supremo das Forças Armadas e seu chefe, o marechal Hussein Tantawi, que dirige o Egito desde a renúncia de Hosni Mubarak, em fevereiro.

"O povo quer a queda do marechal" foi a frase mais ouvida desde que no domingo à noite manifestantes coptas e membros dos corpos de segurança se enfrentaram no centro do Cairo em um confronto que deixou pelo menos 28 mortos, 24 deles coptas, segundo números das autoridades eclesiásticas.

Embora ainda não seja clara a origem dos choques, a comunidade copta acusou os militares e os "baltaguiya" (pistoleiros) de terem iniciado os ataques, e criticou a versão da rede de televisão estatal, que divulgou que os manifestantes teriam começado a violência.

"Isto não é nada mais que um assunto político. A junta militar quer controlar a situação e causar tensões entre muçulmanos e cristãos, apesar de todos nos darmos bem", disse um homem à Agência Efe, que pediu o anonimato.

Outro copta acrescentou: "Os muçulmanos destruíram muitas igrejas, e as autoridades nunca fizeram nada só porque somos cristãos. Nos consideram cidadãos de segunda classe".

Os recentes ataques contra a comunidade copta e o incêndio de uma igreja na província de Assuã, no sul do Egito, motivaram o protesto de domingo.

Na entrada do local onde fica a catedral, eram extremas as medidas de segurança organizadas pelos próprios coptas para evitar episódios violentos como os das últimas horas.

Antes de entrar, as pessoas que iriam rezar mostravam sua documentação e a tatuagem com a cruz copta na mão, um símbolo muito habitual entre os cristãos locais, além de terem que passar pelo detector de metais.

Muitos deles vieram do Hospital Copta, onde a maioria dos civis foi internada e que nesta segunda-feira viveu momentos de desespero protagonizados por parentes e outras centenas de pessoas que compareceram para expressar sua dor.

"Por que no Egito todos podem se manifestar menos os coptas? Como nós vamos atacar o Exército se nunca fizemos isso?", gritava, inconformada, Asisa Feiz, totalmente vestida de preto.

No hospital, o médico Bishoy Samuel explicou que estavam tentando conseguir as permissões para enterrar os 17 falecidos transferidos àquele centro médico.

Samuel denunciou que vários relatórios médicos atestavam que algumas vítimas morreram por infarto, apesar da maioria dos corpos apresentar ferimentos de bala e desfigurações por terem sido esmagados por veículos blindados.

Também vestida de preto e sem o habitual "hiyab" (véu islâmico), a muçulmana Salma Akel expressou sua solidariedade com os coptas pois esses fatos, segundo ela, lhe causam "muita pena".

Enquanto seguravam os caixões, os parentes também levantavam fotos de seus familiares e rezavam em grupo. Perto do centro hospitalar houve um protesto pela atuação do exército em uma zona isolada por voluntários, a vários metros dos tanques.

EFE   
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