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Oriente Médio

Egito: manifestantes invadem embaixada de Israel no Cairo

9 set 2011 - 19h28
(atualizado às 21h01)
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A embaixada de Israel no Cairo foi invadida na noite desta sexta-feira por manifestantes que jogaram milhares de páginas de documentos "confidenciais" de um dos escritórios da embaixada, indicou um jornalista da AFP, que ouviu "muitos tiros" no bairro. Segundo o Ministério da Saúde, citado pela emissora estatal, 235 pessoas ficaram feridas em confrontos entre manifestantes e policiais. Uma pessoa morreu de um ataque do coração.

Manifestante segura a bandeira egípcia enquanto carros são queimados em frente à embaixada israelense no Cairo
Manifestante segura a bandeira egípcia enquanto carros são queimados em frente à embaixada israelense no Cairo
Foto: AP

Os disparos, cuja procedência exata não pôde ser determinada em um primeiro momento, pareciam vir das imediações de uma delegacia localizada perto da embaixada, no bairro da Guiza, na margem oeste do Nilo. Carros policiais também foram incendiados ou destruídos.

Vários documentos recolhidos pelo jornalista da AFP provêm visivelmente dos serviços diplomáticos israelenses, alguns escritos em árabe, mas que levam selos diplomáticos israelenses e se apresentam como mensagens de funcionários israelenses a seus colegas egípcios.

Policiais questionados nas imediações do edifício não estavam em condições de dar informações sobre a situação dentro da sede diplomática. Um porta-voz da embaixada contatado por telefone também não fez comentários.

Segundo testemunhas citadas pela agência oficial Mena, os manifestantes invadiram uma sala reservada aos arquivos diplomáticos, no andar em que estão os escritórios da chancelaria. A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que se reuniu na rua em frente ao edifício.

À tarde, manifestantes armados com martelos, barras de ferro e cordas destruíram o muro erguido nos últimos dias pelas autoridades egípcias em frente à missão diplomática. A embaixada já sofreu várias manifestações recentemente.

Um dos manifestantes retirou a bandeira israelense da embaixada, que estava no alto desse edifício de vinte andares, o segundo ato semelhante em um mês. Segundo um jornalista da AFP no local, o homem jogou a bandeira na rua, em meio a gritos de alegria dos demais.

As relações entre os dois países atravessam uma fase delicada desde a morte de cinco policiais egípcios assassinados em 18 de agosto em um ataque das forças israelenses na região de Eliat, que faz fronteira com o Egito. O Egito foi o primeiro país árabe a fazer um acordo de paz com o Estado hebreu em 1979.

Durante todo o dia, milhares de pessoas se reuniram na Praça Tharir em uma manifestação intitulada "Sexta-feira de retorno ao bom caminho". Os manifestantes atenderam aos apelos de organizações laicas e de esquerda, principalmente dos movimentos de jovens, para reivindicar o poder que está nas mãos do Exército desde a queda do presidente Hosni Mubarak em fevereiro, além de reformas e democracia.

Manifestações foram realizadas também nas cidades de Alexandria, no Mediterrâneo, e em Suez, na entrada sul do canal, indicou a agência de notícias Mena. As passeatas foram boicotadas pela organização Irmandade Muçulmana e por outros movimentos islamitas.

"Nenhuma das demandas da revolução foram atendidas", disse Ibbrahim Ali, 38 anos, técnico agrícola de Beheira. "Será indigno para o povo egípcio esquecer as promessas da revolução", afirmou um religioso encarregado de conduzir a tradicional oração muçulmana da sexta-feira na praça.

Os militantes laicos, ainda pouco organizados, duvidam que as eleições legislativas sejam realizadas, como previsto, neste outono. Eles não apoiam os islamitas, nem os funcionários do governo anterior, e exigem a reforma do sistema eleitoral. Reivindicam também um calendário para a restituição do poder aos civis, e pedem, principalmente, o fim da utilização massiva dos tribunais militares para o julgamento de civis.

Muitos criticam o julgamento de Mubarak, acusado de ter responsabilidade nas ordens de atirar nos manifestantes durante a revolta popular que o derrubou do poder (25 de janeiro a 11 de fevereiro). Alguns denunciam a convocação de policiais que prestaram depoimentos que deram a sensação de limpar a culpa do ex-presidente. O julgamento deve ser retomado no domingo com a audiência do principal líder do país, o marechal Hussein Tantaui, chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), que será ouvido como testemunha-chave.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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