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Ásia

Índia: ativista em greve de fome lembra Gandhi em protesto

25 ago 2011 - 06h01
(atualizado às 08h53)
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Dois símbolos da independência da Índia, a bandeira tricolor e o tradicional topi, ou chapéu de Gandhi, voltaram às ruas de Nova Délhi por conta dos maiores protestos contra a corrupção em décadas no país.

O ativista Anna Hazare descansa em frente a painel com a imagem de Gandhi durante mais um dia de greve de fome, em Nova Délhi
O ativista Anna Hazare descansa em frente a painel com a imagem de Gandhi durante mais um dia de greve de fome, em Nova Délhi
Foto: Reuters

Na esplanada de Ramlila, onde o ativista septuagenário Anna Hazare está há nove dias em jejum para conseguir uma lei anticorrupção, os vendedores ambulantes aproveitam para vender mercadorias com o laranja, branco e verde da bandeira indiana.

E há um posto "oficial" onde os voluntários de Hazare vendem diariamente, segundo os próprios, cerca de 500 camisetas e quatro mil topis, o histórico gorro branco que Gandhi generalizou durante a independência e que os indianos guardavam no armário.

Por US$ 10, qualquer um pode se transformar em um perfeito seguidor, equipado com pulseira, camiseta, bandeira indiana com mastro de bambu, guirlanda, faixa com mensagens de amor ao país, adesivo em forma de coração e até mesmo máscaras de Anna Hazare.

Como costuma acontecer nos protestos indianos, os mais atrevidos deram asas à criatividade: há quem participe seminu e com o corpo besuntado com as cores da bandeira nacional e pessoas um tanto extravagantes disfarçadas de Mahatma Gandhi.

"Não temos medo. Vamos estar com Anna e sua mensagem de verdade, paz e não-violência. Ganharemos. Viva a pátria-mãe!", clamou Manchand Anand, um ex-militar com óculos, cajado e dhoti, o calção gandhiano.

A cruzada particular de Hazare, outro antigo militar convertido em ativista, trouxe à Índia os cânticos que costumavam ser entoados pelos líderes da luta pela independência, obtida das mãos do Império Britânico em 1947.

Sua luta, dizem os especialistas, representa um novo fôlego para a mensagem de Gandhi, pouco presente na política indiana, mas muito potente no âmbito do ativismo social, e se nutre da crescente frustração das classes meias com a corrupção, mal endêmico do país.

"Este movimento de protesto é único em sua personalidade não-violenta. E é um ponto de inflexão em nossa história", declarou Rachem Makhijani, um consultor indiano morador de Cingapura que pede "castigo aos corruptos".

Mas o movimento também despertou desconfiança, em parte por ter recebido o apoio de organizações radicais hindus, e em parte porque alguns censuram o que consideram uma tentativa de deixar de lado a Constituição indiana.

"É preciso uma lei forte, mas o projeto de Hazare poderia debilitar a Constituição. E não pratica a não-violência, porque jejuar também é uma forma de violência, contra si mesmo", disse Udit Raj, um dos principais líderes das castas baixas.

Hazare, sentado em um palco enquanto a seu lado acontecem atos musicais e discursos, tem a companhia de santarrões como Ramdev e Sri Sri Ravi Shankar, e de ativistas famosos como a ex-policial Kiran Bedi.

"O que devem fazer nossos críticos é vir aqui a Ramlila e vê-lo", comentou Kiran, que, junto com seus colegas, descansa em uma área de acesso restrito, onde a organização improvisou duas salas de reunião e onde há uma ambulância pronta para atender Hazare no caso de algum problema de saúde.

Em frente ao ativista, que segundo uma assessora de imprensa do movimento "vive no palco", há uma multidão na qual se misturam tanto aldeães como estudantes que aparecem após o colégio com suas mochilas.

"Há problemas em colégios e universidades. Temos que pagar subornos para nos matricular, temos que pagar mais para obter o que queremos", denunciou o estudante Vandana Ramola, com uma bandeira indiana pintada na bochecha.

No plano legal, os seguidores de Hazare e o Governo iniciaram contatos para chegar a um acordo que, segundo a imprensa, parece pendente dos últimos ajustes, mas o veterano ativista disse que não parará até conseguir seu objetivo.

Em junho, a forças da ordem retiraram à força de Ramlila - situado em frente ao edifício da Bolsa de Nova Délhi -, o iogue Ramdev e seus seguidores, que também protestavam contra a corrupção, mas desta vez parece diferente.

"Aqui sou neutro, visto meu uniforme. Mas quando estou em casa, eu gosto de Anna Hazare", revelou um dos oficiais das forças de segurança na esplanada onde acontece o protesto do ativista.

EFE   
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