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Oriente Médio

Arábia Saudita vê "oportunidade única" com crise na Síria

21 ago 2011 - 10h59
(atualizado em 9/5/2013 às 17h55)
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Após meses de protestos populares contra o poder do presidente sírio Bashar al-Assad, a Arábia Saudita se tornou, na semana passada, o primeiro país do mundo árabe a condenar abertamente o governo sírio pelas centenas de mortes de civis nas últimas semanas. O recado partiu de um dos países mais poderosos e influentes da região. Analistas, no entanto, falam dos verdadeiros interesses do governo saudita e sua preocupação em enfraquecer a influência do Irã.

Imagem mostra as ruas de Hama desertas; a cidade é uma das que foram sitiadas pelo exército sírio
Imagem mostra as ruas de Hama desertas; a cidade é uma das que foram sitiadas pelo exército sírio
Foto: AP

"A Arábia Saudita não está preocupada em promover a democracia na Síria, tampouco está horrorizada pelo sangue derramado nas cidades sírias. Os sauditas viram uma janela de oportunidade em enfraquecer a influência iraniana na Síria e a ameaça xiita na região", disse o analista independente egípcio Mohamed el-Masri. Outro analista, Mahjoob Zweiri, especialista em Irã da Universidade do Catar, disse que o governo saudita, além de enxergar uma oportunidade para conter o Irã, também pode estar tentando "se distanciar do regime sírio e se preparar para uma Síria pós-Assad".

Em um comunicado do Rei Abdullah, a Arábia Saudita exigiu um "fim do banho de sangue" e anunciou que estava chamando seu embaixador em Damasco, a capital síria, para consultas. A ação foi seguida pelo Kuwait e Bahrein, que também chamaram seus respectivos embaixadores e condenaram a Síria pela violência. Segundo grupos de direitos humanos, mais de 2 mil pessoas já morreram em diversas cidades sírias devido à repressão violenta do exército e forças de segurança do país.

O governo saudita ainda alertou a Síria para duas opções - "Ou escolhe a sabedoria por vontade própria, ou mergulha nas profundezas do caos e perdas". O rei saudita ainda pediu por reformas rápidas e compreensivas. "Reformas que não sejam cheias de promessas, mas realmente sejam alcançadas para que nossos irmãos, os cidadãos na Síria, possam senti-las em suas vidas diárias".

Mas comentaristas políticos no Oriente Médio ironizaram o fato de que "a Arábia Saudita é um dos países mais repressores do mundo árabe", e que há seis meses enviou tropas para socorrer outro regime, o do Bahrein, que também enfrentava protestos populares pacíficos, sufocados depois pelo governo. "A Arábia Saudita não tem o que ensinar à Síria sobre democracia já que manifestações em seu território são totalmente proibidas", disse um comentarista em uma emissora de TV libanesa.

Segundo alguns analistas, desde que a "Primavera Árabe", como é chamada a onda de protestos populares na para derrubar regimes totalitários, iniciou na Tunísia, em dezembro do ano passado, a Arábia Saudita só teve um papel negativo. "Os sauditas deram asilo ao ditador tunisiano Zine el-Abidine Ben Ali, demonstraram descontentamento quando o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak foi julgado em um tribunal, sem falar no envio de tropas ao Bahrein para socorrer um regime que abriu fogo contra sues cidadãos que protestavam de forma pacífica", disse o analista egípcio Mohamed el-Masri.

Ameaça iraniana

El-Masri fala que a maior preocupação da Arábia Saudita é conter a influência iraniana na região. "Não é segredo que o Irã é a maior ameaça para os sauditas, assim como para outros países do Golfo, como o Kuwait e Bahrein". Nos últimos anos, o governo saudita gastou bilhões de dólares para equipar suas forças armadas com todo tipo de armamentos e equipamentos militares modernos. "E obviamente isso não é para um conflito com Israel ou dissidência interna, mas para conter o Irã", completou el-Masri.

O Irã mantém laços estreitos com o regime sírio, em ambos dão apoio a grupos como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, nos Territórios Palestinos. Enquanto que a Arábia Saudita é de maioria muçulmana sunita, o Irã possui uma população de maioria xiita. Para o analista, o Rei Abdullah pode estar fazendo um jogo de chantagem com al-Assad. "É uma mensagem do tipo, ou você se distancia do Irã, ou então não terá nosso apoio e sua queda será inevitável", disse el-Masri.

Para ele, as manobras diplomáticas de Kuwait e Bahrein só foram feitas após a Árabia Saudita dar o sinal verde. "Nitidamente, os dois países consultaram os sauditas, e obviamente que nada disso teria partido dos dois caso os sauditas não tivessem dado seu aval".

Conselho do Golfo

Para Mahjoob Zweiri, da Universidade do Catar, a Árabia Saudita é o grande peso-pesado do mundo árabe, já que o Egito, de grande influência, passa por problemas devido à revolução recente e que ainda tenta colocar o país nos eixos. Segundo ele, as recentes ações do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC, em inglês), bloco econômico de seis países do Golfo Pérsico (Kuwait, Catar, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Omã e Árabia Saudita), mostra as intenções em minar o eixo de influência iraniana.

"Recentemente, o bloco, um clube de países ricos e economias fortes, convidou a Jordânia e Marrocos a aderirem ao GCC. A manobra dá aos dois países, e suas monarquias, a chance de acalmar a insatisfação popular e amenizar os problemas socioeconômicos", disse Zweiri. O analista explica que o anúncio do GCC mira o papel de segurança em que a Jordânia pode ter para os países do Golfo em confrontar o Irã. "Os jordanianos estão no centro do conflito árabe-israelense, em especial a presença do grupo palestino Hamas e Hezbollah, apoiados por Irã, e vizinho à Síria, aliada dos iranianos". A presença do Marrocos, segundo ele, só fortificaria esse bloco, informalmente anti-Irã.

"Os sauditas estão envolvidos em duas frentes - amenizar e dar apoio ao status quo nos governos da região, especialmente os vizinhos, e enfraquecer a influência iraniana". "Mas os sauditas apoiarão uma eventual queda do regime sírio se enxergarem o benefício. E esse benefício é o isolamento do Irã, hoje, seu principal inimigo".

Fonte: Especial para Terra
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