PUBLICIDADE

Ásia

Paquistão investiga ataques da CIA que mataram 2,3 mil

11 ago 2011 - 10h53
(atualizado às 11h40)
Compartilhar

O programa de aviões espiões dos Estados Unidos no Paquistão, que matou entre 2.292 e 2.863 pessoas desde 2004, segundo um estudo divulgado nesta quinta-feira, está cada vez mais sob investigação pública no país asiático por causa da morte de civis.

Entre 385 e 775 civis perderam a vida nestes bombardeios, concentrados nas áreas tribais do Paquistão, segundo a análise elaborada pelo Bureau of Investigative Journalism (Escritório de Jornalismo de Investigação, em tradução livre), organização com base no Reino Unido, e pelo jornal paquistanês Express Tribune.

Os dados - extraídos de notícias e de pesquisadores que trabalham no território - revelam que a maioria destes ataques contra a rede terrorista Al Qaeda e facções talibãs aconteceram durante a gestão de Barack Obama: 239 de um total de 291.

O relatório contrasta com os dados do "think tank" americano New América Foundation, que situa entre 1.628 e 2.561 os mortos por causa destes ataques com mísseis.

A confidencialidade do programa e a incerteza sobre o custo para a população civil não evitou que apareçam, cada vez com mais força, correntes críticas a esta "guerra à distância" da CIA (agência de inteligência americana).

O mais ativo no âmbito legal é o advogado paquistanês Shahzad Akbar, que, em nome das vítimas destes ataques, apresentou à Polícia de Islamabad notas legais contra os EUA em novembro do ano passado, exigindo indenizações e culpando, entre outros, o então chefe da CIA, Leon Panetta.

Em julho, Akbar entregou à Polícia outro pedido para que se emita uma ordem de detenção contra um antigo conselheiro legal da CIA, John Rizzo, que assinava as aprovações dos ataques.

A tarefa é complicada, mas a intenção do advogado é efetuar uma enquete entre 300 famílias afetadas pelos ataques para comprovar que percentagem de civis morre nestes bombardeios e fortalecer seu caso.

"Não trabalhamos apenas os dados, queremos também provar a inocência das vítimas", afirmou Akbar à agência Efe, elogiando o último estudo sobre estes ataques, que demonstram "a necessidade de investigar mais".

"Isto contribuirá para aumentar a responsabilidade na guerra contra o terrorismo. Os ataques apenas aumentam os sentimentos antiocidentais no Sul da Ásia", considerou o advogado.

Em paralelo estão acontecendo campanhas em outros âmbitos para chegar ao grande público, como uma exposição no Reino Unido com fotografias que o jornalista Noor Behram tirou durante os últimos três anos.

Nas imagens, que serão exibidas no Paquistão e nos EUA até o final do ano, aparecem crianças e mulheres vítimas dos bombardeios, que são apresentados por Washington como um instrumento fundamental em sua luta contra o islamismo radical.

A quantidade de vítimas civis é a grande incógnita a respeito dos ataques de aviões não tripulados, uma vez que as áreas tribais estão vetadas à imprensa e as redes jihadistas controlam boa parte do território.

Algumas organizações denunciam um grande número de civis mortos, mas fontes de inteligência e segurança estrangeiras consultadas pela Efe destacam que os bombardeios costumam ser precisos.

Fontes da espionagem paquistanesa que em 2010 admitiam uma colaboração com a CIA em matéria antiterrorista para lançar estes ataques, agora se mostram críticas a eles, reflexo da turbulenta relação entre EUA e Paquistão.

O primeiro grande desencontro foi o caso do espião americano Raymond Davis, que matou dois paquistaneses na cidade de Lahore no final de janeiro e que acabou sendo libertado pelo Paquistão semanas depois.

A tensão entre ambos países disparou em maio, quando os EUA lançaram uma operação unilateral em território paquistanês para matar Osama bin Laden; desde então os respectivos serviços secretos trocam farpas através da imprensa.

O programa de aviões espiões, que Obama transformou em uma de seus principais armas, é um dos âmbitos mais afetados pela falta de entendimento entre Washington e Islamabad.

EFE   
Compartilhar
Publicidade