Metade da população do noroeste do Quênia come uma vez ao dia
8 ago2011 - 15h48
(atualizado às 16h43)
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Aproximadamente a metade das famílias que vivem na região de Turkana (noroeste do Quênia) não consegue se alimentar mais de uma vez por dia, segundo os dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), devido à grave seca que castiga o Chifre da África.
A situação de quenianos como Nanyuduki Locitel, de 28 anos, é desesperadora em Turkana, uma região árida na fronteira com Uganda, Sudão do Sul e Etiópia, onde o péssimo estado das estradas e a ameaça de assaltantes sudaneses e etíopes estão dificultando ainda mais a distribuição de comida, segundo a Cruz Vermelha do Quênia.
Há duas semanas, Locitel andou sete quilômetros para comparecer ao Centro de Distribuição de Alimentos da localidade de Makutano porque sua filha de 3 anos, Lokor, pesava apenas 5,5 quilos. Em duas semanas de tratamento contra a desnutrição, que inclui antibióticos, sulfato de zinco, sais minerais e amendoins, Lokor engordou 100 gramas, o que, segundo o enfermeiro do centro, Jimmy Loree, "é um grande avanço".
"A menina está melhorando muito. Ela não tem mais as pernas e os braços inchados, nem ferimentos por todo o corpo, e também não parece mais uma senhora, pois sua pele brilha", detalhou o enfermeiro. "Vamos esperar que chegue aos 11,5 quilos e então daremos por concluído o tratamento de Lokor", explicou Loree.
Segundo ele, em janeiro deste ano o centro de assistência de Makutano estava tratando de 21 pacientes com desnutrição extrema e agora está tratando 68. De acordo com o enfermeiro, "a situação de crise de fome se agravou especialmente no último mês".
Em alguns lugares de Turkana, afirmou à agência EFE Thomas Ekai, administrador do hospital de Kakuma, não houve chuva nos últimos três anos, o que fez com que os habitantes da região, que sobrevivem graças ao pastoreio, perdessem milhões de cabeças de gado.
Segundo números do próprio governo queniano publicados nesta segunda-feira pelo Daily Nation, o principal jornal do país, a seca da região norte do Quênia causou a morte de mais de 3,5 milhões de cabeças de gado, o que representa uma perda de 64 bilhões de xelins quenianos (cerca de 490 milhões de euros).
Em Kakuma, onde vivem mais de 94 mil pessoas, a maioria dos habitantes são pastores que perderam seus animais e por isso cerca de dois terços das famílias necessitam da ajuda das distintas agências humanitárias para sobreviver.
O Hospital Kakuma Mission é um dos centros médicos que, duas vezes ao mês, fazem exames em centenas de mães e crianças que chegam em busca de ajuda, estabelecem o nível de desnutrição das vítimas da crise de fome e determinam se precisam de assistência humanitária. Pacientemente, as mães esperam sua vez em intermináveis filas para pesar seus filhos, medir sua estatura e o contorno de seus braços.
"Se o contorno do braço mede menos de 11,5 centímetros, a criança está desnutrida e então é admitida no Programa de Paciente Externo", que oferece tratamento médico e alimentos, explicou à EFE Mónica Maina, estudante de Medicina e voluntária no hospital.
Caroline Emanikor, de 24 anos, é uma dessas mães que se dirigiu ao centro hospitalar em busca de socorro. "Há dias nos quais comemos uma vez, mas há outros que nem sequer isso. E comemos o que tiver, não podemos escolher, porque se começamos a escolher, acabaremos morrendo", relata Caroline.
Segundo o administrador do Hospital Kakuma Mission, foi registrado um "aumento drástico" no número de pacientes vítimas da fome no último mês e "atualmente estão sendo tratados mais de 100 crianças com desnutrição aguda ou moderada". "Se não chover em breve - adverte Ekai -, estas pessoas vão morrer. Mais de 80% da população depende do gado, e quando a seca afeta os animais, todo o resto também se vê afetado".
Segundo a ONU, a seca e a fome que atingem o Chifre da África colocaram mais de 11 milhões de pessoas em uma situação humanitária crítica, especialmente na Somália, onde cinco regiões foram declaradas oficialmente em estado de crise de fome. O complexo queniano de Dadaab (leste), o maior campo de refugiados do mundo, se transformou em um ímã que atrai diariamente centenas de somalis que fogem da crise de fome que afeta seu país.
A população atual dos três campos que compõem Dadaab, construídos originalmente para acolher 90 mil pessoas, chega a mais de 400 mil pessoas, o equivalente à terceira maior cidade do Quênia, depois de Nairóbi e Mombaça.
Uma menina refugiada da Somália come com seu irmão. Nas últimas duas semanas, milhares de pessoas foram a cidade de Mogadishu para procurar refúgio
Foto: AP
Foto: Terra
A carcaça de uma vaca perto de Lagbogal, 56 km da cidade de Wajir, no Quênia. A ONU afirma que o Chifre da África ainda não vive uma situação de fome, mas sim uma emergência humanitária que está piorando rapidamente
Foto: AP
Somalis se deslocam em busca de pastos mais verdes após seca prolongada. O número de refugiados que necessitam de assistência tem aumentado em países afetados pela seca severa, como a Somália, Quênia, Djibuti e Etiópia
Foto: Reuters
Somalis chegam à capital Mogadishu buscando fugir da seca prolongada. A região conhecida como 'Chifre da África', no leste do continente, está sofrendo com a pior seca dos últimos 60 anos
Foto: Reuters
No Quênia, refugiados recém-chegados da Somália observam, atrás de uma cerca, o centro de distribuição de alimentos de Dadaab, o maior campo de refugiados do mundo
Foto: AFP
Abdi Ibrahim sofre de desnutrição, em Lagbogal. A pior seca no Chifre da África provocou uma grave crise alimentar. Faz dois anos que nível de chuvas está abaixo do necessário
Foto: AP
A criança, desnutrida, chora nos braços de sua mãe, no hospital de Wajir District, no Quênia. A pior seca no Chifre da África provocou uma grave crise alimentar e aumentou as taxas de desnutrição em países como Quênia e Somália
Foto: AP
Carcaças de gado se encontram pelo campos secos da África. Ao fundo, burros se abrigam debaixo de uma árvore, próximo a Lagbogal, a 56 km de da cidade de Wajir
Foto: AP
Uma família de refugiados somalis a pé, de mãos vazias, aguardam no ponto de registro e distribuição de alimentos do campo de refugiados de Dadaab, no nordeste do Quênia
Foto: AFP
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Mãe lava criança desnutrida com solução de ervas em abrigo improvisado em Mogadíscio, na Somália
Foto: AP
Criança que sofre com os efeitos da fome aguarda por tratamento em abrigo
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A morte beira os abrigos onde crianças desnutridas lutam para sobreviver, em Mogadíscio
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Menino recebe tratamento em hospital Banadir, que está superlotado em época de seca na capital somáli
Foto: AP
Pessoas famintas sobrecarregam os centros de distribuição emergencial de alimentos em Mogadíscio, que está devastada pela seca
Foto: AP
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Criança com desnutrição sofre no colo de sua mãe durante tratamento em hospital Banadir, em Mogadíscio. Cerca de 40 mil pessoas afetadas pela seca e fome que assolam o chifre da África chegaram à capital da Somália e arredores em busca de água e comida desde o início de julho
Foto: AFP
Famintos vindos do interior do país aguardam na fila em ponto de distribuição de comida no campo de refugiados em Mogadíscio
Foto: AFP
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Médico examina criança de sete meses de idade, que pesa apenas 3,4 kg, em hospital de Dadaab, no Quênia
Foto: AP
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Criança de 2 anos desnutrida recebe tratamento em hospital Banadir, na capital somali, Mogadíscio. Um segundo avião aterrissou nesta sexta-feira no país, trazendo mais de 20 t de alimentos
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Famintos, refugiados aguardam em imensa fila para receber sua cota de comida em Mogadíscio
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Refugiados fazem filas do lado de fora de um centro de distribuição de alimentos em Dadaab, no Quênia
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Refugiada idosa aguarda para receber comida dentro de um centro de distribuição de alimentos em Dadaab, no Quênia. O local foi projetado para receber 90 mil pessoas, mas mais de 440 mil estão lá atualmente. A maioria vinda da Somália, um dos países que mais sofre com a pior seca dos últimos 60 anos na região conhecida como Chifre da África
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Criança chora ao receber uma vacina em um centro de distribuição de comida, em Dadaab, no Quênia
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Um homem dá leite para seu filho, em um hospital na cidade de Dadaab, no Quênia
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Mulheres afetadas pela seca na Somália esperam para receber comida, em Mogadíscio
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Adam Ibrahim, um menino de 5 anos com desnutrição grave, descansa em uma tenda no campo Badbado, na Somália
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Mulher cuida de seus filhos desnutridos, no campo de refugiados Badbado, perto de Mogadíscio
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Crianças desabrigadas esperam para receber comida no campo de refugiados de Badbado, na Somália
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Mulher carrega seus filhos subnutridos em um hospital na cidade de Banadir, na capital da Somárlia, Mogadíscio
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Crianças aguardam atendimento no hospital de Banadir
Foto: AP
Subnutrida, menina é atendida no hospital Banadir, em Mogadíscio. A ONU alertou que a fome deve se espalhar por todo o sul da Somália, fazendo com que dezenas de milhares busquem comida na capital
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Mulher somaliana que se refugiou no Quênia espera por atendimento do lado de fora de um hospital, em Dadaab
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Homem da Somália refugiado no Quênia faz exame de sangue em hospital de Dadaab
Foto: AP
Menina subnutrida descansa em uma tenda no sul de Mogadíscio, na Somália
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Criança recebe comida em um acampamento, em Mogadíscio
Foto: AP
Menino subnutrido chora em um hospital do campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, onde estão cerca de 440 mil refugiados. A maioria vem da Somália, que sofre com a guerra civil e enfrenta a pior seca das últimas seis décadas. Mais de mil pessoas por dia chagam a Dadaab, que tem capacidade para 90 mil pessoas
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Corpo de criança de 1 ano é visto antes do enterro no acampamento de refugiados de Dadaab, no Quênia, na fronteira com a Somália
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Criança de 3 anos sofre com a dor da fome no vilarejo de Naduat, em Nairobi, no Quênia
Foto: Reuters
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Criança sofre com a desnutrição e a sujeira em acampamento improvisado em Mogadíscio, na Somália
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Pais aguardam por atendimento médico aos filhos desnutridos no hospital Banadir, em Mogadíscio
Foto: AFP
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Rukiya Mohamed, uma menina de 1 ano refugiada da Somália, é pesada em Dolo Ado, na Etiópia
Foto: Reuters
A menina Rukiya Mohamed, 1 ano, recebe atendimento médico em Dolo Ado, na Etiópia
Foto: Reuters
Mulher segura seu filho subnutrido, em Nakinomet, no nordeste do Quênia
Foto: EFE
Menino espera para ser atendido por médicos na cidade queniana de Nakinomet
Foto: EFE
Somalis fazem linha para serem vacinados contra o sarampo no campo de refugiados de Kobe, em Dolo Ado, na Etiópia
Foto: AFP
A refugiada somali Nunay Mohammed observa o seu filho Isho receber uma solução para contra vermes durante campanha de vacinação em campo na localidade etíope de Dolo Ado
Foto: AFP
Menino chora ao receber vacina contra o sarampo no campo de refugiados de Kobe, em Dolo Ado, na Etiópia. Dezoito mil pessoas foram vacinadas no campo nesta semana após uma agência da ONU alertar para uma epidemia de sarampo
Foto: AFP
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Geediyo Mohamed Abdi, uma mulher somaliana, aguarda atendimento para seus filhos no hospital Banadir, em Mogadíscio, na Somália
Foto: Reuters
Fatima Ibrahim, uma mulher desabrigada, segura seu filho, que sofre de diarreia, no hospital Banadir, na capital da Somália
Foto: Reuters
Mulher refugiada carrega seu filho, Farhiya Abdulle, em um hospital em Mogadíscio
Foto: Reuters
Crianças somalis fazem para receber comida em campo de refugiados, em Mogadíscio
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Criança desnutrida aguarda atendimento no hospital Banadir, em Mogadíscio
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Médico das forças de paz do Burundi ligadas à Missão da União Africana na Somália atende criança em hospital de Mogadíscio
Foto: Reuters
Mulher do sul da Somália segura a sua filha que sofre de desnutrição em campo de refugiados de Mogadíscio
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Abukar Ibrahim (dir.) ajuda sua filha de cinco anos Maryam a ingerir remédios em hospital de Mogadíscio. A menina foi levada ao hospital sofrendo com diarreia e vômito, sintomas de cólera, doença cuja epidemia já provocou 181 mortes em apenas um hospital da capital somali neste ano
Foto: AFP
Criança somali do sul do país aguarda por refeição em campo de refugiados em Mogadíscio. O Programa Mundial de Alimentação anunciou no sábado que está expandindo seus esforços para combater a fome na Somália
Foto: AP
Foto: Terra
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O somali Moktar Hassan Garad enterra o filho de cinco anos que morreu em hospital de Mogadíscio. Uma agência da Onu informou nesta terça-feira que, em média, 10 crianças morrem por dia em campos de refugiados para somalis na Etiópia
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Mulher segura seu filho com desnutrição no Hospital Banadir, em Mogadíscio, capital da Somália. O país pediu novo esforço internacional para ajudar a combater a fome na região
Foto: Reuters
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Mulher do sul da Somália segura criança desnutrida em campo de refugiados
Foto: AP
Menina do sul da Somália é fotografada em frente a acampamento de refugiados, em Mogadíscio
Foto: AP
Somali constrói tenda improvisada om galhos de árvores em acampamento para refugiados, em Mogadíscio. Cerca de 875 mil somalis se refugiaram em países vizinhos após se verem forçados a emigrar por causa do longo conflito, a seca e a crise de fome que assolam seu país, informou nesta quarta-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur)
Foto: AP
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Mulher segura seu filho, severamente desnutrido, em um prédio antigo em Mogadíscio, na Somália
Foto: AP
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Ali Afrah, um menino com quadro grave de desnutrição, descansa no hospital Banadir, em Mogadíscio
Foto: AFP
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Crianças fazem fila para pegar comida distribuída pelo governo queniano, no distrito de Turkana
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Menino come refeição entregue por órgãos do governo em Turkana, um distrito do Quênia
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Mulher embala seu filho em um centro de recuperação para crianças que passam fome, em Doolow, na Somália
Foto: AFP
Idosa espera para se registrar após chegar a um centro para refugiados, em Doolow, na Somália
Foto: AFP
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Criança mal nutrida dorme no hospital Banadir, em Mogadíscio, na Somália
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Mulher descansa ao lado de seu filho, que sofre de desnutrição, no hospital Banadir, em Mogadíscio, na Somália