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Mundo

Revoltas em Londres revelam tensões sociais, dizem moradores

8 ago 2011 - 14h19
(atualizado em 9/8/2011 às 21h09)
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As duas noites de conflitos que atingiram Londres aprofundaram os conflitos sociais em áreas pobres da capital britânica, disseram líderes comunitários nesta segunda-feira, mas a polícia e políticos disseram que muito da violência foi oportunista. O estopim para a explosão de violência foi a morte na quinta-feira por policiais de Mark Duggan, um morador do distrito multi-étnico de Tottenham, no norte de Londres, depois que os oficiais pararam um táxi em que ele estava.

Viatura policial foi incendiada neste sábado durante protesto contra morte de jovem na última quinta-feira
Viatura policial foi incendiada neste sábado durante protesto contra morte de jovem na última quinta-feira
Foto: AP

Jovens encapuzados atearam fogo em carros da polícia e em um ônibus de dois andares em Tottenham, na noite de sábado, depois que um protesto pacífico contra a morte acabou em violência. Um bloco de 26 apartamentos foi completamente tomado pelo fogo depois que o tapete da entrada foi incendiado, obrigando as famílias desesperadas a irem para a rua.

A violência se espalhou para outras partes de Londres no domingo, incluindo Brixton, no sul de Londres, outro distrito onde vivem minorias raciais, que, como Tottenham, foi sacudido por conflitos nos anos 1980. Jovens foram vistos carregando televisores de algumas lojas, enquanto outros tentavam saquear calçados esportivos.

As cenas em Tottenham evocaram memórias de severos conflitos que causaram estádio de sítio em Broadwater Farm, em 1985, quando uma mulher foi morta após a polícia atacar a sua casa. Na onda de violência, um policial foi morto.

Um quarto de século depois, com a economia britânica crescendo pouco e com cortes governamentais nos gastos públicos atingindo áreas de alto desemprego, como Tottenham, alguns moradores dizem que viram a semente de mais distúrbios.

Osagyefo Tongogara, um ativista comunitário que estava em Tottenham durante os conflitos de Broadwater Farm, disse: "Há muitos paralelos com 1985. Eu não chamo isto de conflito, chamo de rebelião". "As pessoas estão furiosas e frustradas. Se você tem uma comunidade com altos níveis de desemprego e corte na assistência às crianças, então isso é o que vai acontecer", disse à AFP.

"Nós temos dito que isto é uma crise financeira global e que todos nós estamos nisto juntos, mas deveríamos estar?", perguntou Tongogara. "Eu não sei tudo sobre a crise em torno da morte deste jovem. Mas você não pode apenas culpar isto (os distúrbios) ou a criminalidade. É uma explicação simplista",considerou.

Mas Chuka Umunna, um político do Partido Trabalhista, que representa um distrito próximo de Brixton, disse nesta segunda que a "raiva da frustração foi desencadeada pela trágica morte" de Duggan não era desculpa para a violência que se seguiu. "Isto é chocante, é completamente oportunista e totalmente inaceitável", ele disse.

"Aqueles na comunidade e local de negócios pagam o preço por este tipo de violência e as pessoas não vão aceitar isto". O vereador de Londres, Kit Malthouse, que assistiu ao domingo violento na central de controle da polícia, disse que não viu evidências de protesto, apenas saques. "Estamos falando sobre oportunistas", disse à BBC.

"Não há ações coordenadas lá, não há Mr Big, não há senso de protesto, é criminalidade pura e simples. Precisamos ser cuidadosos na imprensa e na política para não criar esta atmosfera de desculpa pelo o que aconteceu", disse Malthouse.

O incidente que atingiu Tohhenham se envolveu em mistério nesta segunda-feira. A Comissão Independente da Polícia (IPCC), que está investigando a situação, inicialmente disse que Duggan, pai de quatro filhos de 29 anos, foi morto em uma troca de tiros. A dúvida agora paira sobre a versão inicial dos eventos.

O IPCC teve que enfrentar inclusive rumores de que Duggan tinha sido baleado na cabeça, "estilo-execução". Resultados balísticos são esperados nesta terça.

O professor Gus John, da Universidade de Londres, acadêmico nascido em Greanada, e que tem escrito extensivamente sobre questões raciais na Grã-Bretanha, disse que não vê os vândalos como brutos e "cretinos", e que falharam ao analisar questões profundas.

"Quando eu ouço a secretária da Casa Civil Theresa May dizendo isto, é quase idêntico ao que o secretário Willie Whitelaw disse durante os protestos de Brixton, em 1981. Não resolveu nada", disse à AFP. "A questão é, o que predispôs estes jovens a serem como isto? Por que a maioria dos jovens ofende a população britânica jovem e negra?"

Além disso, John disse que a comunidade negra precisa ter uma visão crítica relacionada à reação à morte de Duggan. Ele disse que o policial que tinha parado o táxi onde Duggan estava agiu de forma "aparentemente legítima" como parte da Operação Trident, preparada para evitar que jovens negros matassem outros jovens negros com armas. "Como pode uma comunidade negra querer que alguma coisa seja feita sobre esse tipo de violência e, quando alguma coisa é feita, reage assim?", perguntou.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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