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Mundo

História dos mineiros chilenos que comoveu o mundo faz um ano

5 ago 2011 - 14h50
(atualizado às 15h31)
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Um desmoronamento prendeu 33 mineiros no fundo de uma jazida no Chile, um ano atrás. Eles ficaram 17 dias sem contato com o mundo exterior, restritos a se alimentarem, até que foram encontrados. Iniciou-se, então, uma corrida contra o relógio para abrir uma via de resgate pela qual foram retirados, são e salvos, 69 dias depois.

Em 5 de agosto de 2010, quando se preparavam para almoçar nas profundezas da mina, um barulho ensurdecedor, seguido de uma nuvem de poeira, confirmou o que muitos temiam: a mina San José - explorada há mais de um século - estava cedendo e milhares de toneladas de pedras obstruíam seu acesso.

"Primeiro, sentimos o som quando a rocha caiu, depois veio um vento e muita poeira subiu. Pensei que não sairíamos mais", contou Jimmy Sánchez, o mais jovem do grupo de mineiros.

O desmoronamento, a 400 m de profundidade, não atingiu nenhum dos mineiros que estavam mais abaixo. Eles tentaram sair por uma chaminé de ventilação, mas esta não tinha as escadas que os donos deviam ter colocado e não havia outra saída.

Eles se dirigiram, então, para um refúgio de segurança a 700 m de profundidade, abastecido com provisões, mas ali havia apenas algumas latas de atum e um pouco de leite: tinham ficado sepultados, quase sem água e comida. A morte os rondava.

Na superfície, no entanto, famílias em desespero se reuniam nos arredores da jazida. Estarão vivos? Terão ar ou comida?, perguntavam pais, irmãs e esposas, aquecidos por uma fogueira ou protegidos com cobertores para suportar o frio noturno do deserto chileno.

O acidente forçou a mudança da agenda do presidente Sebastián Piñera e do então ministro da Mineração, o até então desconhecido Laurence Golborne, que a partir daquele momento se dedicou plenamente a este resgate.

Dois dias depois, socorristas tentaram chegar aos mineiros pela chaminé de ventilação, mas fracassaram, devido a novos desmoronamentos.

"A chaminé ficou bloqueada e dois resgatistas quase perderam a vida. Saíram da mina frustrados e chocados; significava que o único caminho rápido estava fechado. Resgatá-los não seria questão de horas, mas de dias", afirmaria Golborne na ocasião.

Decidiu-se, então, buscá-los através de orifícios de 12 centímetros de diâmetro, pois se estimava que podiam estar no refúgio, mas, sem mapas precisos, era como procurar uma agulha no palheiro.

Dentro da mina, a angústia começava a tomar conta dos mineiros.

"Estávamos esperando a morte. Estávamos nos consumindo", contou o mineiro Richard Villarroel, ao lembrar daqueles dias.

Em meio ao desespero, começaram a se organizar. Era um grupo heterogêneo de 19 a 62 anos.

"A comida foi sendo dada em porções pequenas, coisa que durasse. O mesmo com a água", relatou Villarroel.

Artesanalmente, montaram camas, um lugar para se reunir e inclusive fabricaram com papel um dominó para passar o tempo. As decisões eram tomadas por votação.

Do lado de fora, nove máquinas de sondagem avançavam com complexidade e a esperança de tirá-los com vida começava a se esvaziar.

Seria uma tragédia mineira a mais, até que por um dos pequenos orifícios, preso a uma perfuradora, emergiu 17 dias depois uma mensagem esperançosa: "nós, os 33, estamos bem no refúgio", escreveu um dos mineiros.

A história, então, ganhou contornos épicos. No fundo da mina, os 33 homens sobreviviam com calor e umidade insuportáveis, algo que parecia um "inferno", comparou um dos mineiros.

Depois de localizados, começaram a ser alimentados com comida procedente do exterior. Conseguiram falar com suas famílias e teve início uma gigantesca operação de resgate, na qual colaboraram especialistas da Nasa.

Suas famílias, instaladas na parte de fora da jazida, primeiro levaram pequenas barracas, mas depois deram vida própria a uma cidade à qual batizaram de "Acampamento Esperança". Centenas de jornalistas viveram junto deles.

Três gigantescas máquinas perfuradoras começaram a escavar dutos mais largos até onde estavam os mineiros, em uma operação complexa.

Até que, após 33 dias de perfurações, uma delas conseguiu chegar até onde estavam e cinco dias depois todos emergiram para a superfície, um a um, em uma cápsula de metal que os transportou por mais de 600 metros do fundo da mina.

"Passo o turno como tínhamos acertado. Espero que isto nunca mais volte a acontecer. Obrigado a todos", disse Luis Urzúa, chefe dos mineiros e último a deixar a jazida, ao presidente Piñera, que os aguardava na superfície.

"Acho que esta história é bonita. Deus faz as coisas por algum motivo", refletiu este mineiro, na entrada do duto.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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