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América Latina

Com fama e pouco dinheiro, mineiros esperam lucro de filme

4 ago 2011 - 16h03
(atualizado às 16h13)
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Um ano após a tragédia na mina San José, a maioria dos 33 de Atacama ainda tentam acordar de um pesadelo que lhes rendeu muita fama, mas pouco dinheiro, enquanto esperam arrecadar os lucro de livros e filmes inspirados no histórico acidente.

Após o fatídico episódio que foi manchete em jornais do mundo todo, pouco mudou a rotina da maioria dos mineiros, 15 dos quais continuam sem trabalho fixo. Além disso, sete estão em licença médica.

"Atualmente há 7 mineiros em licença. A maioria sofre de transtorno do sono", disse à agência EFE o diretor da Associação Chilena de Segurança (Achs), Alejandro Pino, que depois do acidente ofereceu apoio psicológico.

"Incide muito o estresse pós-traumático após terem ficado soterrados durante 70 dias em uma mina", acrescenta Pino.

No entanto, Jean Romagnoli, que como analista da Achs também teve um destacado papel durante os trabalhos de resgate, discorda dessa opinião. "Eu acho que tem a ver mais com o fato deles não terem tido uma oportunidade de trabalho", assinalou à Efe.

"Tem a ver com a decepção com as promessas não cumpridas. Prometeram trabalho em Codelco (produtora de cobre estatal chilena) e não deu em nada", afirma.

As seqüelas físicas e psicológicas do acidente levaram os 14 mineiros de mais idade a solicitar ao governo que os inscreva na previdência para que possam se aposentar. Segundo a imprensa local, o benefício será concedido no dia 22 de agosto, quando completar um ano da tragédia.

O jornal El Mercurio informou que sete mineiros se dedicaram a fazer conversas motivacionais, e outros cinco são comerciantes.

Só um deles, Pedro Cortés, de 26 anos, começou a estudar e decidiu se especializar em tecnologia elétrica, embora esteja afogado em dívidas para pagar os cursos.

"Não temos onde cair mortos", afirmou à Efe após receber nesta quinta-feira parte da indenização que a companhia San Esteban, proprietária da jazida San José, ainda deve cerca de 20 deles, os que eram trabalhadores de fábrica - não contratistas - e foram inscritos.

Marcados pela dura experiência e por problemas financeiros, 31 deles interpuseram em julho uma questão por US$ 16,66 milhões contra o Estado, acusado de negligência e falta de fiscalização. Caso vençam a reivindicação, cada litigante deve receber US$ 537,6 mil.

Além disso, os mineiros estão à espera de que a Promotoria conclua a investigação preliminar contra os donos da mina, Alejandro Bohn e Marcelo Kemeny, confirmaram à Efe fontes do Ministério Público.

Uma vez adotada uma decisão, os mineiros vão poder apresentar um processo contra os proprietários para obter outra indenização.

Entre as promessas cumpridas figuram a moto e os US$ 9,803 mil que o empresário milionário Leonardo Farkas deu a cada um dos funcionários, além das duas casas que presenteou dois mineiros que não tinham moradia.

Os famosos operários também viajaram a convite de vários países, entre eles, Estados Unidos, Grécia, Reino Unido e Jerusalém.

Para capitalizar o episódio trágico e evitar que o lucro seja desperdiçado, os mineiros contrataram um escritório de advocacia considerado o maior do país, Carey e Cía., e criaram uma sociedade para preservar a imagem e vender a história.

Além disso, assinaram um contrato com a agência William Morris Endevour (WME), que representa várias estrelas de Hollywood, a fim de administrar as propostas para levar sua história para o cinema e para a televisão.

A agência Carey e Cía. anunciou na semana passada que o americano Mike Medavoy, produtor de Ilha do Medo e Cisne Negro, assinou um acordo para produzir um filme sobre os 33 de Atacama.

O roteiro se baseará no livro que o jornalista americano e ganhador do prêmio Pulitzer, Héctor Tobar, escreverá sobre as experiências que o mineiro Víctor Segóvia postou em seu blog, mantida em segredo e protegida pelo escritório de advocacia.

O mineiro José Henríquez publicará em outubro um livro com sua experiência intitulado Milagre na Mina.

Livros e filme tentarão retratar a versão dos mineiros sobre o acidente, enquanto que jornalistas, escritores e diretores se inspiraram nesta tragédia para publicar volumes e preparar gravações sobre uma comovente história na qual a realidade voltou a superar a ficção.

EFE   
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